Isso não vai dar certo

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BONNIE


Nunca temi tanto uma segunda-feira como agora. E o motivo é simples: Ethan. Vai ser a primeira vez que nos encontramos desde a nossa conversa na sacada.
No sábado, depois do nosso “acordo” em sermos amigos, nós voltamos para a piscina e agimos como se nada tivesse acontecido. Não havia rolado um quase beijo, e ele não havia me contado sobre seu sentimento sem nome por mim, e seu amor pela namorada, que até aquele momento ele não sabia se de fato tinha uma. Isso já faz dois dias, então agora ele já deve saber a resposta.
Sinto um braço pousar sobre o meu ombro, e minha respiração prende com o susto.
- Você parece distraída. – Thomas observa. Seus olhos estão escondidos pelos óculos escuros, e ele usa um boné preto sobre a cabeça.
- Ah, é sério?! Nem notei. – respondo com deboche, e ele ri.
- Ainda por causa do novato?
- Ele tem nome. – bufo.
- Eu sei. É novato. – ele responde com um sorriso sarcástico. Quando percebe que não vou exibir nenhum sorriso, ele bufa. -  Cada vez mais você perde a graça. Estou quase te chamando de Dylan.
- Estou vendo como você ama seu irmão gêmeo. – cutuco, e ele ri.
Três meninas que conversam próximas aos armários, desviam seu foco da conversa para nos olhar. Ou melhor, olhar para o Thomas. Elas o observam como se ele fosse um pedaço apetitoso de comida. Já ele, parece alheio as fãs que tem, e caminha como se o corredor escolar tivesse sido criado exatamente para ele desfilar.
- Eu amo aquele babaca. Ele é uma parte minha andando por aí. Só é menos gostoso. – seu sorriso duplica de tamanho, e sinto um surgir no meu rosto.- Finalmente um sorriso. – ele comemora, atraindo ainda mais atenção.
Thomas caminha comigo pelo corredor até minha próxima aula, mesmo que a sua seja do outro lado da escola. Ou ele não se deu conta disso, ou não liga em chegar atrasado.
- Você vai se atrasar pra sua aula. – alerto, e ele dá de ombros.
É, ele não liga.
- Vou com você. – Thomas responde, perdendo totalmente o humor. – Quero saber se preciso dar uma lição no novato. – ele me olha de canto de olho, como se estivesse avaliando minha reação.
- E por que você faria isso?
- Você parece triste. E eu tenho quase certeza que foi depois daquela conversa esquisita que vocês tiveram.
Fico surpresa com o quanto Thomas é observador. Eu não tinha ideia que ele notava tanto as coisas. Ele sempre pareceu não ligar pra nada ou ninguém. Tentar falar com o Thomas, é como falar com a parede. Ele nunca presta atenção, e esquece facilmente as coisas.
Dylan sempre foi o mais indicado para se ter uma conversa. Ele é mais  paciente e dá ótimos conselhos. Quando quis conversar sobre o meu relacionamento com o Luke, Dylan aconselhou que eu pensasse bem antes de tomar alguma decisão. Já o Thomas, me entregou o endereço de uma boate e disse para arranjar outro.
Acho que isso já é o suficiente para mostrar porque eu sempre procuro o Dylan quando quero conversar.
Mas aqui está o Thomas, me perguntando sobre minha vida amorosa, ou no caso, a ausência dela.
- Tá tudo bem, Thomas. Sério.
- Sério mesmo? – ele pergunta, e eu confirmo com a cabeça. – E por que eu não acredito nisso? – ele para e me gira para me observar de frente. – Eu sei que eu brinco demais, e que você prefere falar com o Dylan sobre essas coisas, mas...você também é minha irmã. Eu quero cuidar de você. Se algum cara te machucou de alguma forma, você precisa me dizer, B.
- Ele não me machucou. Não desse jeito e não foi de propósito.
Thomas tira os óculos do rosto e me encara.
- Como assim?
Fecho os olhos para que ele não veja a derrota estampada neles, e sussurro:
- Ele tem namorada.
Thomas ergue as sobrancelhas com a surpresa, e então me observa com atenção.
- Sinto muito, B.
- Não. Tá tudo bem. Foi melhor descobrir agora.  Seria bem pior se eu descobrisse depois que já estivesse apaixonada por ele. Não quero nutrir sentimentos por alguém comprometido. – digo, e Thomas desvia o olhar.
Ele rapidamente coloca os óculos no rosto, e me puxa em direção ao corredor mais uma vez.
- É, seria uma droga. – ele confirma. – Só me avise se quiser que ele sofra. – ele lança a oferta.
E como já estamos em frente a minha sala, ele faz um aceno com a cabeça, e então volta todo o percurso em direção a sua aula.
Passo pela porta e entro na sala lotada. Ava e Faith já estão nos seus lugares, então caminho até o meio da sala para me sentar.
Eu vejo de relance que as cadeiras do fundo já estão ocupadas, o que quer dizer que o Ethan já está lá. Eu quero olhar e confirmar meus pensamentos, mas minha mente grita para que eu seja madura e o ignore.
Eu sinto que seus olhos estão em mim, como se ele precisasse fortemente da minha atenção. Ele me observa até a minha cadeira, e com muito esforço, me sento sem nem ao menor olhar para trás.
- Dormiu de mau jeito? – Faith pergunta, seus olhos semicerrados avaliando meu pescoço.
- Não.
- Seu pescoço parece meio duro. – ela indica, e Ava revira os olhos.
-  Ela só não queria olhar para o Ethan. – minha amiga explica.
- Ah! Faz mais sentido. – Faith confirma.
Meu corpo parece virar pedra, enquanto solto uma respiração pesada.
Isso vai ser difícil. Não tem como ignorá-lo. Estudamos na mesma escola e fazemos boa parte das aulas juntos.
- Ele tá olhando pra cá. – Ava cochicha, e um arrepio passa pela minha espinha. – Tá levantando. – ela diz surpresa, e meu coração acelera.
- Bom dia, alunos. – o professor cumprimenta, e solto um suspiro de alívio.
Obrigada, Senhor!
Quase tive um pequeno infarto.
- Ele voltou? – sussurro.
- Sim. – Ava responde.
Ótimo. Quanto mais tempo ficamos sem contato, mais fácil será para esquecê-lo.

A barraca do beijo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora