XIV. Henry

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Voltar a trabalhar foi... Caótico!

Não de uma forma ruim. Eu adorava trabalhar, mas foi muito louco. Ter que dar conta das filmagens, não deixar Anne de lado e dar atenção ao Kal, eram as coisas fundamentais. Parecia pouca coisa, mas não era. Nos primeiros dias, eu mal consegui dormir.

[01:55] Eu: Quanto você quer pra vir pra cá?

Hayley era a única que talvez compreendesse. Quer dizer, provavelmente ela não era a única, mas era definitivamente quem me deixava confortável pra falar. Eu não esperava uma resposta rápida, até pela hora, mas naquele dia, ela me surpreendeu.

[01:57] HB: Sou uma adulta agora, tenho um emprego!

Dei risada da mensagem, sem perder tempo ao respondê-la.

[01:57] Eu: Budapeste é um lugar incrível! Me lembro de você sempre comentar sobre visitar a cidade, quando éramos adolescentes.

[01:58] HB: Você de estar desesperado, se está usando as minhas viagens dos sonhos como trunfo.
[01:58] HB: As coisas estão difíceis?
[01:58] HB: Chamada de vídeo?

Fiquei aliviado ao vê-la sugerir, não queria incomodá-la. Antes mesmo que eu a chamasse por vídeo, o meu celular vibrou com uma chamada dela.

— Por que você ainda está acordado? – ela perguntou com uma careta e eu sorri só de vê-la através da tela. Ainda era a mesma Hayley, nesse ponto. O melhor pijama era uma camiseta surrada de bandas de rock dos anos 80.

A cara lavada, sem qualquer tipo de maquiagem, revelavam que ela ainda parecia a menina doce e ingenua de anos atrás.

— Eu poderia te perguntar a mesma coisa – comentei rindo e ela sorriu – Acho que estou tão cansado que não consigo dormir.

— Sei como é... No meu caso, eu estava finalizando alguns relatórios – ela contou – Qual exatamente o motivo do seu pedido de socorro?

— Nada grave, só precisamos nos adaptar a essa nova dinâmica – falei com calma – Anne obviamente está estranhando o fato de não ter a minha atenção exclusiva, sem contar que o set é um ambiente agitado pra qualquer pessoa, imagine pra uma menina de três anos.

— Tenho certeza que não está sendo fácil, mas sei que vão se sair bem... – ela falou sem hesitar – O processo de adaptação é difícil, mas nós já imaginávamos isso.

— Eu sei... – falei com um suspiro – Ela sente sua falta. Todo dia pergunta quando vamos ver a tia Hayley de verdade – ri ao lembrar de suas palavras, ouvindo Hayley rir do outro lado

— Ah, ela sente? – Hayley riu e eu ri com ela

— Nós dois sentimos, agora deixe de carência! – ri e ela rolou os olhos

— Pra constar, eu também sinto falta dela – ela falou e eu fingi surpresa – Tenho ido checar a hortinha, assim que começarem a crescer, mando fotos. Ela vai amar!

— Acho que ela seria capaz de me arrastar de volta pra casa – ri ao imaginar a cena

— Não duvido nada! – ela concordou – E o Kal?

— O Kal tem sido um suporte tão fundamental pra ela, quanto tem sido pra mim ao longo desses anos – falei com um suspiro – Ela é uma criança sociável, o que facilita bastante, mas ele tem sido uma âncora. Aquilo que é familiar, quando eu estou gravando.

— Quando vão poder vir aqui? – ela perguntou e eu suspirei

— Talvez, mês que vem... – falei pensativo – Vai ser super rápido, mas sei que ela vai querer ir pra Jersey, ver você e os meus pais...

— E ela não quis dormir com você, hoje? – ela perguntou sorrindo

— Eu estava com ela, até você ligar – falei e ela fez uma careta como se tivesse culpada – Ah, não se preocupe... Não estou conseguindo dormir, eu provavelmente a acordaria.

— Sabe, foi estranho te ver indo embora de novo – ela falou e eu fiz uma careta, sem entender o que ela queria dizer – Bom, da última vez que nos despedimos assim foi tão...

— Definitivo? – sugeri e ela riu, concordando

— É... Na época foi emocionante e incrível te ver dar esse passo, sabe? – ela falou desajeitada e eu ri – Eu torci tanto por você, mas... Tudo acabou sendo catastrófico. – ela riu como se dissesse algo bobo – E agora, eu não sei... Talvez parte de mim tenha medo de ver você ir embora outra vez, depois de eu já ter me apegado demais a ideia de ter você na minha vida novamente.

Era interessante ouvi-la dizer aquilo, porque fazia todo sentido. Há algum tempo eu também pensava naquilo e, talvez, parte do meu receio e da minha dificuldade de aceitar o retorno, fossem, na verdade, medo de que algo horrível acontecesse e nos afastasse mais uma vez.

Eu me encontrava cada vez mais resistente a ideia de me afastar de Hayley outra vez.

— Sei como você se sente... – falei com um sorriso de canto – Mas acho que nós dois estamos em outro momento da vida. Estamos mais maduros e sabemos o que queremos, do que não podemos abrir mão.. – continuei, um pouco mais pensativo – E eu não posso abrir mão de você, Hayley. Nunca mais.

Há algum tempo eu já sabia disso. Hayley sempre foi uma parte grande da minha história, mesmo tendo nos afastado por tantos anos. Agora que ela voltou, ela era grande parte da vida da minha filha, que se tornou a maior parte da minha vida. Tudo isso se misturava e me causava uma necessidade absurda de tê-la por perto o tempo todo.

Sempre que algo acontecia, uma das primeiras coisas que eu pensava era que eu precisa contar pra Hayley, ou pedir a sua opinião, ou que eu precisava urgentemente ouvir o seu conselho. Não havia um dia sequer, desde o dia em que Anne e eu viajamos, que eu não pensava que ela deveria estar ali.

— Nossa, você tá ficando um velho meloso! – ela comentou me arrancando uma gargalhada, tão espontânea que ajudou a dissipar um pouco do meu cansaço mental – Tô brincando, eu também me sinto assim. Com a idade, a gente aprende a ver o que é indispensável na vida.

— Exatamente... – concordei sorrindo – Tem certeza que não consegue uma brecha no trabalho pra passar uns dias aqui? – perguntei e ela sorriu – O apartamento tem espaço mais do que suficiente pra nós três.

— Está planejando uma visita ou uma mudança? – ela perguntou e eu ri – Bom, eu prometo que vou tentar adiantar ao máximo o que eu puder. Se eu conseguir alguns dias, eu te aviso.

— Vou esperar, então! – falei vendo-a bocejar – E agora, acho melhor você ir dormir. Bom descanso, estamos com saudades!

— Estou com saudades também – ela sorriu cansada e eu ri – Vai dormir você também! Amanhã você tem trabalho a fazer!

Nos despedimos e eu fiz o que ela tinha sugerido, voltando pro quarto e me deitando ao lado de Anne, que sem acordar, imediatamente agarrou a mim.

De alguma forma, a presença de Anne, somada a breve conversa que tive com Hayley, ajudaram a me tranquilizar um pouco e depois disso o sono veio fácil.

NOTAS FINAIS:

Diante dos acontecimentos apresentados, podemos concluir que tá um mais boiola que o outro. Eu não aguento! Anne, faça a sua mágica!

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