XXII. Hayley

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Estava chegando o dia em que Henry teria de retomar as filmagens da série, na Hungria. Apesar de Anne estar se recuperando rápido, nenhum de nós estava disposto a colocá-la em risco forçando-a a acompanhar Henry nessa viagem.

Marianne se comprometeu a cuidar da neta, já que eu também precisava trabalhar, mas prometi que a visitaria todos os dias. Ela parecia não estar completamente satisfeita, mas foi o suficiente pra ela. Quanto mais rápido os dias se passavam, o grude com Henry se tornava cada vez maior. Ela queria dormir com Henry, ler com Henry, comer com Henry e eu achava fundamental que ele a atendesse, ficariam muito tempo afastados, a saudade seria pesada pros dois.

— Chamada de vídeo todas as noites? – ele perguntou se certificando de que Anne estava dormindo, aconchegando-a melhor na cama.

— Claro que sim – sorri dando um beijo em seu ombro e o abraçando por trás depois dele ter se levantado. Ainda faltavam alguns dias, mas ele já estava um pouco chateado. Era uma despedida diferente e, apesar de ser apenas por pouco tempo, tinha uma carga emocional diferente. Não fazia parte dos planos dele deixar a filha em casa e ficar fora do país por meses – Henry, é só até ela terminar de se recuperar. Uma semana? Duas, no máximo. Ela já está bem, estamos fazendo isso só pra não correr riscos, lembra? – conversei enquanto caminhávamos pelo corredor, já do lado de fora do quarto de Anne.

— Ainda assim, não gosto disso – ele suspirou enfiando as mãos nos bolsos. Olhei pra ele com um sorriso de lado e ele suspirou alto – Me sinto horrível. Como se eu estivesse errando com ela. – ele continuou, entrando no quarto e se sentando na cama.

— Você não está errando com ninguém, Henry – sorri me aproximando e tocando a sua bochecha. Ele me abraçou pela cintura e encostou o rosto em minha barriga – Mas está sendo horrível com você mesmo, se culpando desse jeito.

— Ela só tem três anos... – ele falou, sua voz saindo abafada contra o meu corpo. Eu ri.

— Henry, ela vai ficar bem! – prometi, segurando seu queixo e virando seu rosto pra me encarar – Você precisa relaxar.

Você extaria do mexmo jeito, xe foxe o contrário – ele falou, suas palavras saindo esmagadas pelo meu aperto em seu rosto, ri outra vez.

— Tá falando igual criança. Fofo! – debochei

Voxê tá apertando a minha bochecha! – ele respondeu rindo, mas não fez nada pra se desvencilhar da minha mão. Fiquei olhando pra ele um tempo e sorri, me inclinando levemente pra alcançar os seus lábios com os meus.

No fundo, eu estava tão desgostosa a respeito de deixá-lo, quanto ele estava a respeito de deixar Anne.

Sim, ainda estávamos "estudando" o nosso caso, mas cada vez mais sentia a necessidade dele, da sua presença, do seu toque, do carinho. Como eu já falei milhares de vezes, eu não gostava de ver Henry partir, nem quando éramos adolescentes e muito menos agora.

Senti seus braços se enrolando em meu corpo, me puxando pra mais perto e me convidando a montar nele. Eu juro que tentava ser racional a respeito de nós, mas as vezes era simplesmente inevitável.

— Não gosto de te ver estressado – falei e ele suspirou, abrindo os olhos pra encarar os meus. Ele encostou a testa na minha e eu fechei os olhos involuntariamente.

— De alguma forma, você sempre sabe me acalmar – ele declarou deslizando a ponta do seu nariz sobre a ponta do meu – Vou sentir saudades de você, Hayley.

Nessa hora, meu coração deu um duplo mortal carpado. Eu não acredito que esse homem aprendeu a me deixar desestabilizada depois de quase quarenta anos.

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