XXVIII. Hayley

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Lembro de quando Henry teve seu primeiro papel em um filme, na adolescência. Nada grandioso, pros profissionais da área, mas pra galera com quem andávamos, era quase como se ele fosse indicado ao Oscar.

Quando Henry voltou pra Jersey, pouco antes de Matthew surgir e Henry ter de partir outra vez, teve essa festa gigantesca para qual fomos convidados.

Henry estava nos interesses de todos, afinal, todo mundo queria um pouquinho da estrela do momento. Nunca esqueço de como odiei boa parte daquela noite, porque simplesmente não conseguia conversar com o meu melhor amigo, nem mesmo por cinco minutos, sem que alguma garota nos interrompesse, ou algum idiota do time de futebol tentasse agir como se fosse íntimo de Henry.

Lembro-me de ter desistido de tentar e ido remoer meu ressentimento sozinha, sentada a beira da piscina, com os pés dentro da água.

— Quando sair daí, é melhor secar bem entre os dedos – ouvi sua voz de longe e o olhei sem entender – Ou então vai ficar com um chulé pavoroso.

— Bom saber que Los Angeles não te mudou em nada – ri olhando pra ele – Continua um idiota.

— E você me adora por isso, eu sei – ele deu de ombros e eu ri mais – Por que está isolada aqui?

— Senti sua falta – falei sem rodeios, recebendo um olhar compreensivo dele – E, bom, não dá pra conversar direito se, mentalmente, fico contando quanto tempo falta pra alguém te levar pra algum outro lugar e eu ter que ficar falando sozinha.

Henry ficou em silêncio por alguns minutos, enrolou a barra da calça e se sentou bem ao meu lado, com os pés na água.

— Também senti sua falta, Hayleyzinha... – ele falou com um sorriso – E eu sei que não é o ideal

— É péssimo! – corrigi e ele riu

— Não é o ideal... – ele continuou e eu rolei os olhos – Mas isso já vai passar, daqui a pouco ninguém mais vai lembrar disso.

"Duvido!", foi o que pensei na época

— Até parece! Logo você vai estar estrelando grandes produções cinematográficas e eu não terei lugar em sua vida – brinquei e ele rolou os olhos

— Olha, eu te aconselho a aprender lidar com isso então – ele falou erguendo as sobrancelhas – Porque preciso de você ao meu lado.

— Não precisa de mim pra nada – falei balançando a cabeça. Henry suspirou e cobriu a minha mão com a sua, me olhando diretamente nos olhos, como se não quisesse deixar dúvidas sobre o que seria dito a seguir.

— Sempre vou precisar de você, Hayley – ele declarou com seriedade – E quero você comigo, se isso for o que você quer também.

Não pude evitar o sorriso que se abriu diante daquela fala. Meu medo era perder a amizade de Henry, a todo resto, eu sabia que sobreviveria.

Relembrar isso agora, depois de tudo o que passamos para chegar aqui, chegava a ser cômico. Ficamos vinte anos sem nos falar e agora estávamos aqui, saindo juntos e falando sobre criar uma criança juntos. Sempre soube do peso que Henry tinha em minha vida, mas jamais imaginei que ele transformaria tudo assim.

A viagem estava ótima. Eu acompanhava Henry quase todos os dias, mas em alguns eu esperava no trailer com Anne. Todos eram adoráveis e atenciosos, Anya e Freya eram duas queridas e passavam muito tempo brincando com Anne, enquanto não filmavam. Anne e Kal disputavam quem era a maior atração do set e eu entendia perfeitamente, eles eram maravilhosos.

Depois do pequeno estranhamento entre Anne e Kal, não tivemos nenhum outro episódio daqueles. Anne também não me chamou de mãe outra vez, mas ainda me chamava de tia. Eu não sabia o que aquilo significava pra ela, mas decidi esperar até que ela estivesse pronta pra decidir, nada entre nós duas seria uma imposição, eu preferia que fosse uma escolha e ela era livre pra me escolher, se ela quisesse.

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