XII. Hayley

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Era oficial: Anne deixava os meus dias mais alegres.

Não importa se fosse através de Henry me contando uma de suas pérolas, ou quando ela mesma fazia comentários únicos quando estávamos juntas, ou se porque eu realmente a achava a criança mais incrível do mundo, tão inteligente e desenvolvida... Era uma verdadeira alegria passar tempo com ela.

Nossos momentos juntas eram cada vez mais frequentes, já que Henry ainda estava precisando ir a Londres. Algumas vezes ele a levava e me contava absolutamente tudo por mensagens. Outras vezes, ele achava que seria algo muito cansativo pra ela acompanhar, então eu ficava com ela.

Eu estava feliz em vê-lo aprender a dividir as tarefas, era quase como ver um passarinho aprendendo a voar. Algumas vezes ele cometia alguns erros, mas, bom... Ainda não conheci um pai ou mãe que sejam perfeitos. Ele estava se saindo bem, especialmente pra quem nunca tinha sido pai na vida.

Eu estava orgulhosa, confesso.

Anne era simplesmente fantástica. Em uma das vezes que passamos o dia juntas, decidimos que seria uma boa ideia plantar alguma coisa. Quando contamos a Henry, achei que ele não fosse gostar muito dos nossos planos, mas ele me surpreendeu ao escolher o lugar perfeito e fazer uma espécie de canteiro onde nós pudéssemos trabalhar juntos.

— Achei que fosse perguntar se eu estava louca... – confessei rindo, observando-o enquanto ele martelava com força, pregando ripas de madeira umas nas outras para formar uma cerca.

— Eu sempre quis fazer algo do tipo – ele falou interrompendo as marteladas e limpando o suor da testa com as costas da mão – Mas eu realmente me conheço e acho que as plantas morreriam em duas semanas... – ele falou e eu ri alto – Eu passo muito tempo fora...

— E quando está aqui, está jogando... – completei e ele me jogou surpreso – Você ainda tem idade pra jogar World of Warcraft?

— Eu não vou nem te responder, Hayley – ele rolou os olhos e eu ri. Ele ficou em silêncio, voltando a martelar outro prego. Eu sabia que não estava chateado, só estava trabalhando mesmo.

No dia anterior, passamos horas e horas trabalhando nessa cerca. Anne, Henry e eu pintamos juntos todas as ripas. Anne não passou um minuto do dia sem perguntar se demoraria a secar, já que ela estava louca pra fazer seus desenhos autorais nas mesmas ripas que pintamos.

— Vai ficar lindo! – ela garantiu – Uma cerca personalizada!

Henry e eu sempre soubemos que não seríamos adultos convencionais, então nós definitivamente achamos que era uma ótima ideia. A horta era pra ela, afinal... Nada mais justo que a cerca tivesse o estilo dela também.

— Como não está morrendo com esse calor? – perguntei com uma careta. Desde cedo, o dia anunciava que seria quente. Um dia de calor como poucos vividos na Inglaterra, especialmente em Jersey.

— Não está tão mal... – ele falou dando de ombros, conferindo seu progresso na cerca

— Você tá doido? – perguntei surpresa – No seu lugar, eu já teria desmaiado...

— Porque você é menina... – ele falou com o olhar brincalhão e um sorriso sapeca, exatamente como há vinte anos atrás.

— Está velho demais pra comentários machistas, também... – falei jogando uma pequena quantidade de terra nele – Vou preparar uma limonada e ver se Anne acordou. Por favor, não tenha um mal súbito!

— Não vou a lugar algum, senhora! – ele brincou e eu lhe mostrei o dedo do meio – Que falta de educação! Temos crianças em casa, agora!

— Ah, cale a boca! – falei dando-lhe as costas, mas ainda capaz de ouvir suas risadas atrás de mim.

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