IV. Henry

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Hayley parecia um pouco desconfortável com a ideia de trabalhar no meu caso e, bom, eu entendia o seu lado, mas a minha vontade mesmo era rir.

Rir da ironia na vida, rir de como nós deixamos de fazer parte da vida um do outro e agora estávamos praticamente embarcando juntos na maior escolha da minha vida pessoal. Quando eu era adolescente, visualizei Hayley participando da vida dos meus filhos, sendo a melhor tia do mundo, assim como eu seria o melhor tio do mundo pros filhos dela. Com o tempo, isso deixou de ser um plano realista e, bom, agora ela estava aqui... Vivendo esse momento comigo, mesmo que de uma forma totalmente diferente do que eu algum dia imaginei.

Caminhamos em silêncio pelos corredores do orfanato. Mesmo estando desconfortável, eu sabia que podia confiar nela e que ela tomaria uma decisão justa. Independente de qualquer coisa, Hayley sempre foi madura e extremamente sábia, eu não estava com medo.

— Bom dia, Anne! – cumprimentei quando cheguei no quarto onde ela dormia. Ao me ver, ela imediatamente abriu um sorriso e juntou as mãozinhas.

Percebi Hayley amolecer um pouco, mas ela permaneceu em silêncio, observando a cena.

— Tio Henry! – ela comemorou com uma vozinha doce e meiga, eu ri. Hayley e eu nos aproximamos e eu me sentei na beira de sua cama, ela imediatamente veio até mim – Vamos brincar de que, hoje? – ela perguntou

Anne tinha apenas três anos, mas já sabia se expressar bem pra sua idade. Desde pequena sempre teve sua fala estimulada e, bom, eu sempre gostei de ler pra ela e gosto de acreditar que isso também a ajudou.

— Do que você quiser! – garanti e ela riu comemorando

— Hoje eu vou poder morar com você? – ela perguntou e eu ri

— Ainda não, mas agora só falta um pouquinho assim! – falei mostrando o meu polegar e o meu indicador, bem próximos de se unirem e pra ela aquilo foi mais do que suficiente – Hoje vai ser um dia meio diferente, essa moça vai passar o dia com a gente!

— Ela é bonita! – Anne falou sem rodeios e eu ri

— Ela é! – concordei sorrindo e olhando pra ela, que já parecia ter amolecido completamente – E ela também é muito legal, então nós vamos nos comportar com ela, certo?

— Certo! – Anne concordou sorrindo e eu ri

— Olá, Anne. Meu nome é Hayley! – ela sorriu se aproximando de nós dois com um sorriso meigo, sorri ao vê-la se aproximar de Anne. Não dava nem dois dias pra que ela caísse de amores pela menina, era quase inevitável isso acontecer.

— Oi, Hayley! – Anne sorriu e deitou a cabeça em meu ombro – Você é amiga do tio Henry?

Olhei pra ela como se também esperasse essa resposta e Hayley me olhou como se preferisse beber vitamina de salmão, o que me fez querer rir.

— Sou amiga de vocês dois, o que acha? – ela respondeu e eu ri balançando a cabeça. Não sei exatamente qual era o problema de Hayley comigo. Mesmo que a situação tivesse sido estranha, há anos atrás, não havia motivo pra isso se alongar por vinte anos. Não éramos mais adolescentes, podíamos lidar com nossos desentendimentos infantis, certo?

Deveríamos, pelo menos.

— E você vai deixar ele ser meu pai? – Anne perguntou e Hayley pareceu surpresa

— Quantos anos disse que ela tinha? – Hayley perguntou e eu ri

— Sei o que quer dizer. Semana passada ela perguntou se eu não a amava, porque eu estava colocando-a pra dormir contra a vontade dela. – ri ao relembrar – Não se engane pela idade, ela tem uma mente bem afiada!

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