IX. Hayley

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Eu queria morrer.

Eu não queria ver Matthew, nem ouvir todas as coisas horríveis que ele tinha a me dizer, muito menos na frente dos vizinhos. Não queria que Henry tivesse presenciado aquela cena... Eu estava horrorizada.

De qualquer forma, não adiantava nada me queixar, nesse momento, eu encontrava conforto nos braços do meu melhor amigo, coisa que eu achava que nunca mais poderia fazer.

— O que Matthew falou... – ergui a cabeça pra olhar para Henry – Não vim atrás de você. Pra ser sincera, eu nem queria te ver.

— Estou tocado com a sua sinceridade, Hayley – ele comentou sorrindo e eu ri balançando a cabeça – Não se preocupe, eu sei que ele só queria te desestabilizar. Também sei que ele nunca me quis perto de você, então eu sempre ignorei qualquer coisa que ele pudesse dizer pra que eu me afastasse.

Suspirei aliviada. Matthew sempre tentou plantar essa semente na cabeça de Henry, era uma das formas que ele agia pra que eu desistisse de mantê-lo por perto. Ele sempre fazia com que eu me sentisse culpada, me acusando de sentir coisas, por Henry, que jamais foram reais.

Henry era meu amigo, apenas meu amigo, mas eu me sentia péssima sempre que Matthew me acusava de me importar mais com Henry do que com ele, que era meu namorado. Foi assim que eu comecei a evitar Henry.

Durante anos as pessoas especulavam e apostavam que Henry e eu nos apaixonaríamos, eventualmente, mas nunca aconteceu. Éramos como irmãos, não tínhamos esse olhar um pro outro.

— Ele já fez isso antes? – Henry perguntou preocupado, eu neguei com a cabeça.

— Antes de assinarmos o divórcio, ele tentou me convencer a continuar casada com ele... – contei com um suspiro – Ele disse que seria um recomeço... – ri com desdém – Me recusei e nos divorciamos duas semanas depois. Nunca me senti tão livre.

— Ele aceitou assim? Tão fácil? – Henry perguntou sem crer e eu suspirei outra vez, entortando os lábios – Achei que ele fosse causar algumas dificuldades.

— Ah, ele é um homem importante no mercado imobiliário, lá na Irlanda – expliquei erguendo as sobrancelhas – Ele foi bem insistente, no começo, aí eu ameacei a expor o que ele fez, ameacei a fazer um baita escândalo...

— Você? – ele parecia surpreso e eu entendia. Eu não era de escândalo, eu evitava ao máximo que minha vida estivesse sobre o olhar público – Você não é disso.

— Exatamente, não sou – concordei rindo – Ele achou exatamente a mesma coisa, quando me obrigou a ir em um encontro de negócios com ele. Os papéis do divórcio foram assinados na mesma noite, depois de eu começar a contar detalhes nada agradáveis sobre os acontecimentos da época.

— Hayley... – ele estava impressionado, o que me fez rir mais

— Acho que ele ia tentar me prender com a casa, ameaçando me tirar tudo – comentei balançando a cabeça – Mas, no dia seguinte, acordei bem cedo, arrumei minhas malas e embarquei no primeiro trem de volta pra Inglaterra.

— E ele não te procurou? – ele perguntou e eu fiz que não com a cabeça

— Eu não lhe dei muita chance. Mudei meu número e bloqueei qualquer possibilidade dele tentar contato comigo – expliquei pensativa – Minha mãe também tinha se mudado há anos, não sei exatamente como ele me encontrou aqui, mas deve ter tido um trabalho danado pra conseguir.

— E o que está pensando em fazer agora? – ele perguntou com um semblante de preocupação, sorri agradecida e coloquei minha mão sobre a dele

— Amanhã vou entrar com um pedido para uma ordem de restrição – declarei e Henry pareceu se tranquilizar um pouco – Não quero mais surpresas como essa, minha cabeça tá estourando...

— Posso ajudar, se quiser – ele ofereceu apertando a minha mão e eu sorri – O que você precisar, eu posso ajudar.

— Significa muito pra mim, Henry – sorri e ele sorriu de volta

— Devo dizer, estou feliz em te ver tão decidida. Vejo situações em que algumas mulheres ainda se veem muito presas a homens assim – ele falou e eu suspirei

— Aguentei essa merda toda por tempo demais, Henry... – contei, exausta – No dia em que o vi com outra, foi como se algo dentro de mim tivesse acordado. Eu entendi que não merecia aquilo, também entendi que ele sempre foi aquele porco nojento... – encolhi os ombros – Ele não vai mudar, eu não preciso me desgastar pra convencê-lo a ser melhor pra mim, ele deveria fazer isso por escolha própria e não porque eu pedi. – falei – E, bom, também percebi que eu já não o amava mais. Aquilo, pra mim, funcionou muito mais como uma carta de alforria... Eu estava livre, finalmente.

— Sinto muito que tenha passado por isso – ele falou me olhando com certa culpa – E sinto muito mais por ter sido um idiota com você. Eu não deveria ter me afastado, você precisava de mim e eu simplesmente dei as costas a você...

— Henry, nós éramos dois adolescentes – balancei a cabeça – Eu também errei em não te ouvir e paguei o preço por isso... Eu não lamento que tive que passar por isso, eu só lamento ter permitido que isso se estendesse por tanto tempo.

— Você merecia algo melhor – ele declarou e eu sorri

— Agora eu posso recomeçar – falei suavemente – É mais do que muitas pessoas podem fazer – sorri.

— Não vou te abandonar nunca mais – ele prometeu e senti meu coração ser inundado pela mais profunda gratidão – Mesmo que você se esforce demais pra isso.

— Você continua sendo um grande idiota, viu? – falei rindo e ele riu comigo, me puxando pra um abraço apertado.

Eu estava feliz que ao menos isso estava voltando ao seu devido lugar. Henry conseguia ser um pé no saco, quando queria, mas ele me tornava corajosa. Na infância, saber que eu tinha o seu apoio me dava mais força pra fazer qualquer coisa. Eu achei que era coisa de criança, bobeira de menina, mas hoje eu via como fazia toda a diferença ter um suporte diante das situações mais estranhas.

Eu não sabia colocar em palavras como me sentia feliz com a possibilidade de ter o meu melhor amigo de volta.

Ele ficou comigo por mais um tempo, passamos a conversar sobre coisas bobas, até que o clima pesado se dissipasse de uma vez. Nos despedimos e então ele voltou pra casa da mãe, eu já havia o prendido por tempo o suficiente.

Quando eu estava pronta pra dormir, minha mãe entrou no quarto, vindo checar se eu estava bem, no típico comportamento de mãe preocupada.

— Eu sabia que era questão de tempo – ela declarou e eu a olhei sem entender – Você e o Henry.

— Ah, claro! – eu comentei rindo e rolando os olhos

— Vocês eram inseparáveis, eu sabia que um dia se entenderiam – ela continuou a falar

— Vinte anos, mãe. Só levou vinte anos! – ri balançando a cabeça e ela riu também.

— Nunca é tarde demais, Hayley – ela declarou sorrindo – Um dia, talvez, você entenda. – ela falou dando palmadinhas amigáveis sobre a minha perna, coberta pela colcha – Boa noite, querida. Amanhã você tem que acordar cedo.

— Boa noite, mãe. Até amanhã! – falei sorrindo e apagando o abajur aceso sobre a minha mesa de cabeceira.

Minha mãe se despediu e saiu, fechando a porta do quarto atrás de si.

Ao contrário do que imaginei, mesmo com a aparição indesejada de Matthew, naquela noite eu dormi como um anjo.

Acredito que as boas coisas tenham superado as ruins e os meus problemas com Matthew, pelo menos naquela hora, não me pareciam mais tão relevantes.

NOTAS FINAIS:

Finalmente nossa dupla dinâmica selou a paz e retomaram essa amizade do pop! O que vocês acham que o futuro reserva pra esses dois?

Me contem nos comentários, tô super curiosa! 🥰

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