V. Henry

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Era engraçado como nós dois éramos péssimos naquilo.

Hayley e eu estávamos há mais de meia hora sentados um de frente pro outro, em um café, do outro lado da rua. Fizemos os nossos pedidos e agradecemos quando eles chegaram, mas, fora isso, nenhuma palavra.

— Eu devo dizer que se alguém me contasse que um dia eu e você não teríamos o que contar um pro outro, eu riria e diria que isso seria impossível de acontecer... – fui eu quem quebrou o silêncio, fazendo com que ela me olhasse surpresa – Sei que a culpa disso, em parte, é minha... – falei olhando pra ela, verdadeiramente arrependido por saber que minha explosão, há vinte anos atrás, tinha me custado a minha melhor amiga. Ela tombou a cabeça pro lado e me olhou com certa compaixão – E eu realmente sinto muito por isso, éramos bons amigos.

— Éramos os melhores amigos! – ela falou com a voz fraca e um sorriso tímido, mas ele logo desapareceu e ela adotou uma postura mais formal. Suspirei sem saber exatamente se eu e Hayley teríamos alguma chance de nos reconectarmos de verdade.

Minha mãe sempre me dizia que eu deveria esquecer e perdoar algumas coisas, mas eu sempre fui teimoso. Teimoso demais pra não achar que ela entendia o que eu estava sentindo, teimoso demais pra achar que eu deveria dar o braço a torcer quando eu sabia que estava certo.

Somos tão estúpidos quando somos jovens.

"Você vai entender um dia, Henry. Provavelmente quando ver seus filhos cometendo os mesmos erros...", era o que a minha mãe me dizia.

Bom, eu não era oficialmente pai, mas me sentia um. Anne ainda não tinha entrado na fase rebelde, mas Deus queira que ela não seja tão teimosa como eu fui. Enfim, o que quero dizer é que eu estava prestes a me tornar pai e tudo o que eu queria era poder comemorar isso com a minha melhor amiga, mas talvez fosse tarde demais pra isso.

— Eu estou feliz, Hayley... – decidi que se eu me sentia responsável, era justo eu tentar quebrar o gelo, especialmente depois de tudo o que eu fiz. Nada mais justo que fosse eu a me esforçar pra trazê-la de volta – Eu sempre imaginei que você estaria ao meu lado quando eu finalmente vivesse esse momento...

— Tecnicamente, estou ao lado da Anne.. – ela falou e eu fiz uma careta, fazendo ela dar uma risada – Mas acredito que ela esteja em boas mãos. Quer me contar a história de vocês?

Eu sabia que agora ela estava perguntando como assistente social e não como amiga. Ela era profissional, afinal de contas.

Contei-a tudo, desde o início. Contei como Anne foi parar lá, contei como nos conhecemos em seu primeiro dia no abrigo, contei como eu senti uma conexão imediata com ela e que até mesmo evitei me aproximar muito, no início, pra não atrapalhar qualquer família que quisesse ou pudesse adotá-la, mas que foi inevitável.

Falei apenas sobre os acontecimentos, ela ouviu com atenção e até mesmo sorria algumas vezes.

— É basicamente isso... – falei encolhendo os ombros e suspirando antes de beber um gole do meu café – Me senti conectado a ela desde o primeiro momento.

— É mútuo, dá pra notar... – ela comentou e eu concordei com a cabeça, sem realmente olhar pra ela. Ficamos em um silêncio incômodo, enquanto cada um se concentrava em sua própria bebida. Eu estava prestes a pedir a conta, quando a vi abrir a boca na intenção de falar algo – Estou feliz por você, Henry. Eu estou, mesmo! – ela falou com um suspiro trêmulo, quase como se ela estivesse nervosa em dizer aquilo em voz alta.

Sorri fraco e relaxei um pouco

— Eu sei, Hayley... – falei brincando e ela riu balançando a cabeça – Mas fico feliz em ouvir você dizer isso.

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