A mesa de jantar se esvaziara há pouco tempo, os quarenta convidados entretiam-se dançando ao som de um ritmo enérgico, às ordens de Tommy, no salão principal. Os três irmãos estavam sentados à ponta da mesa, discutindo entre si enquanto assistiam a alguns criados desconfiados retirarem a louça da mesa. Era tarde, por volta das onze badaladas do relógio.
-Não conte à ela, John. Vai ser problema... – aconselhou Arthur.
- Quanto menos pessoas souberem, melhor. Não estamos em posição de permitir que informações sejam vazadas. - disse Tommy austeramente.
-Não é como se eu tivesse alternativa. Preciso contar.
-Invente qualquer coisa e faça ela acreditar. Depois que tivermos terminado, você conta a verdade com um belo diamante de presente, não é mesmo, Tommy? - disse Arthur rindo antes de dar um tapinha no braço de Tommy, que sorriu brevemente balançando a cabeça.
-Você dizendo isso, Arthur? Achei que Deus condenasse a mentira. - rebateu John.
Linda. Há pouco mais de um mês e meio esposa de Arthur, dedicara-se desde o primeiro momento em que o vira em torná-lo um homem melhor. Um homem de Deus. Arrastando-o aos domingos à Santa Missa, foram necessários poucos encontros desde o meio daquele mesmo ano até que ela convencesse o homem, já entregue a seus encantos, a desposa-la perante o Senhor, como mandava o livro sagrado.
-John tem um ponto. Como fez Linda não te perguntar nada sobre o plano, Arthur?
O mais velho dos Shelby permaneceu em silêncio, mexeu-se incomodado em seu próprio assento e suspirou fundo antes de correr os dedos por seu cabelo bem penteado para trás.
-Oh não, é claro que você contou a ela.. - disse Tommy, colocando a mão sobre os olhos.
-Contou também o que você fez naquela noite? Com a costureira? - acusou John.
-Oh, calem a boca! Linda é de confiança! E não, eu não contei sobre aquilo. - defendeu-se Arthur, Tommy retirou de seu bolso um cigarro e o acendeu, numa tentativa desesperada de manter-se equilibrado.
-Tia Polly sabe. - afirmou John, ligando os fatos.
-Sim, mas não pela Linda. Ela descobriu sozinha. Desconfiou da minha movimentação no dinheiro....sabem que não tem como esconder nada daquela mulher! - reclamou Tommy, revirando os olhos, irritado consigo mesmo por alguns instantes.
-Então Alex e Grace são as únicas sem total conhecimento.
Um silencio desconfortável reinou por alguns segundos entre os três irmãos.
-Vou subir e contar tudo o que for necessário. É isso, ou irei perdê-la. - Afirmou o mais novo do trio, convicto, antes de levantar-se e apagar o cigarro, previamente lhe oferecido por Tommy, na porcelana de um prato sujo.
-Faça o que for preciso, irmão. Mas esteja ciente do peso que esses segredos irão implicar. - advertiu Thomas.
John sabia exatamente sobre o que aquelas palavras queriam alerta-lo. Desde quando Grace retornara à Small Heat vindo de Nova York, poucos dias depois da operação na mansão Solomons, com o pequeno Charlie em seus braços e as mãos sujas do sangue de seu marido, assassinado às pressas, Tommy soube que precisava tomar rumo em sua vida. Ele experimentou o que seu irmão John sentira até então. Um extinto protetor. Um medo constante. Uma voz incessante em seus pensamentos que o faziam permanecer acordado à noite, checando as portas e janelas com uma arma em mãos.
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Blind Love || John Shelby
Fiksi PenggemarAlexandra Marie Mills era uma jovem que vivia confortavelmente em Londres até que, em uma esquina, o destino a expusesse a realidade das gangues inglesas que despontaram ao fim do século XIX e início do século XX. Mesmo que tal cenário sempre a espr...