Durante a semana que procedeu, tentamos agir como se nada estivesse prestes a acontecer para evitar maior sofrimento, mas era impossível desfocar do assunto pois cada vez que alguém me olhava eu não recebia menos que olhares de pena; principalmente vindos de Thomas, ele me pedia desculpas silenciosas cada vez que fazíamos contato visual, o que não me parecia ser algo muito comum de sua personalidade.
Não me afastei dos Shelby, afinal, eu era uma dos Peaky Blinders até que me dissessem o contrário. Não estava mais na casa de John, havia alugado um pequeno imóvel nas redondezas e mantive meu trabalho no escritório de apostas.
Conversamos pouco durante aqueles dias, achei melhor ser daquela forma pois assim iríamos nos acostumando a viver com a ausência um do outro. Todavia, isso não me impedia de sofrer cada vez que o via entrar e sair pela porta. Muitas vezes, para a surpresa de todos, foi Polly quem me impedia de despedaçar-me, consolando meu pranto com o carinho da mãe que não tive.
Na noite de sexta, antecedente ao dia de viagem à Londres, eu saira do escritório tarde depois de terminar a contagem do dinheiro com Polly. Me despedi, negando o convite para jantar em sua casa, não queria ter de fingir nem mais um sorriso naquele dia.
Vesti meu casaco e sai, sozinha batendo os saltos de minhas botas pelas pedras das calçadas de Small Heat a caminho do meu imóvel, situado duas quadras dali. Era por volta das sete, as ruas já estavam praticamente vazias para a hora do jantar nos lares e os festeiros se preparavam para virar a noite nos pubs de Birmigham.
Assim que cheguei à esquina do meu quarteirão, tive a sensação de estar sendo seguida, então apertei o passo a fim de chegar mais rápido. Tudo que passava pelos meus pensamentos era que deviam ser homens do Sabini querendo vingar a morte de seus colegas e terminar de vez com a minha vida. Abri minha bolsa de mão e fiquei segurando a pequena pistola metálica, pronta para usá-la caso necessário. Estava praticamente chegando na soleira da porta de casa quando ouvi:
-Alexandra!
Tentei me convencer de que estava ouvindo vozes antes de me virar e me deparar com...
-Pelo amor de Deus, John!
Disse irritada fechando a arma novamente na bolsa depois de fuçar para pegar a chave da porta.
-Pensei ser alguém do Sabini, pronto pra me matar.
-Desculpe te assustar. E não se preocupe com isso, eles não vão fazer nada...
John aproximava-se devagar, com o olhar baixo e as mãos metidas nos bolsos de sua capa.
-Como tem certeza?
-Apenas tenho.
-Afinal, por que está me seguindo?
-Finalmente me desocuparam, estive querendo um tempo para ver você a semana toda, mas Tommy e Arthur certificaram-se de me manter bêbado e ocupado. Não sabem que te segui...
O cheiro do Whisky era presente em seu hálito, misturado ao tabaco que defumava o tecido de suas roupas e o cheiro amadeirado de sua colônia. Meu olfato capturava cada essência, misturadas compunham o cheiro do homem que eu ainda amava.
Emergi de meus pensamentos, voltando à realidade dos olhos azuis e ressacados que me encarravam com emoções transparentes. Mais uma vez, engoli meus sentimentos, meu amor e minha saudade, dizendo com clareza e sem grandes afetos no tom de voz:
-Bem, você já me viu. Agora, se me dá licença, gostaria de entrar em casa.
Vi o semblante quase alegre em seu rosto desfazer-se em um que eu não reconhecia bem, mas não parecia bom.
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Blind Love || John Shelby
FanfictionAlexandra Marie Mills era uma jovem que vivia confortavelmente em Londres até que, em uma esquina, o destino a expusesse a realidade das gangues inglesas que despontaram ao fim do século XIX e início do século XX. Mesmo que tal cenário sempre a espr...