VI

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-Por que essa garota veio para a reunião de família?

     Polly disparou logo que me viu entrando no cômodo atrás de John, antes mesmo que eu ameaçasse pendurar meu casaco no mancebo ao lado da porta.

-Tia Polly, Alexandra não oferece ameaça. Ela é uma de nós agora. - disse John, colocando seu braço esquerdo sobre meus ombros, sorrindo satisfeito.

-Sim, John. Mas ela não é da família. Infelizmente terá de ficar fora. - rebateu Polly, me encarando séria com seus olhos negros.

-Tommy, isso não é justo. Ela pode ficar, não pode? - clamou John pela ajuda do irmão, que suspirou impaciente.

-Faça como ela quer, não precisamos de mais atrasos. Já lhe demos a regalia de esperar que vestissem suas roupas.

Senti minhas bochechas arderem com o olhar de desaprovação que Polly me lançara. John estava prestes a disparar todas as injúrias entaladas em sua garganta contra Tommy e Polly, mas eu o impedi antes que criasse uma grande confusão em meu nome.

-Não, John. Ele tem razão. Estarei aqui fora esperando. - respondi.

-Não vai ficar sozinha aí fora..

-Estarei bem. - respondi mostrando a arma que trouxera por baixo do meu sobretudo antes e beijar sua bochecha.

Deixei a sala da sede com o peso dos olhos de todos os Shelby sobre meus ombros. Logo que abri a porta, o frio e o cheiro característico de Small Heat envolveram meus sentidos. A rua estava vazia. Não entendia nada que diziam no interno, apenas sussurros e vozes sobrepostas e indistintas.

     Sabia que eles aparentemente seguiam à risca protocolos de restrição nas reuniões de família, e sim, eu não era uma Shelby. Entretanto, não entendia porque me aceitaram tão rapidamente se não pretendiam me ter nas reuniões.

     Sentei-me desconfortavelmente no degrau da soleira de uma das portas dos Shelby e me dispus à olhar para cima. O céu estava como sempre, coberto por uma fina camada de fumaça que ofuscava parte do brilho das estrelas, mas não impedia que a lua refletisse sua presença.

     Parecia ter se passado muitos minutos e meus olhos começaram a pesar. Talvez eu devesse me preocupar em estar sozinha ali fora, mas estava muito cansada para acreditar que alguém tentaria me dar um tiro naquele momento. Não me propus a mover nenhum músculo sequer para sacar minha arma e ficar de prontidão. Deixei-me adormecer lentamente.

(...)

-Alexandra...

     Ouvi alguém chamar meu nome ao longe e lentamente fui voltando ao estado de vigília até abrir meus olhos e ver John, que me observava sorrindo. De repente, um tiro me fez estremecer de susto e arregalar os olhos. John segurou meus braços tentando me acalmar. Arthur o havia disparado.

-Que belo cão de guarda temos. Dormindo em serviço. - disse em tom de brincadeira.

-Me desculpe, Arthur. O dia foi um pouco pesado pra mim. - respondi sonolenta, levantando-me com a ajuda de John.

-Você se acostuma, Mills. É bem durona. - deu tapinhas nas minhas costas de forma amigável.

-Obrigada, Arthur. Boa noite!

     Com isso, John jogou seu braço direto sobre meus ombros e voltamos a passos lentos de volta para sua casa, conversando.

Blind Love || John ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora