XXVIII

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18 dias depois..

-Essas são as minhas condições, Tommy. - disse John, punhos cerrados sobre a mesa do irmão mais velho, fitando-o.
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     Após mais um dia de trabalho no escritório dos Shelby, todos os funcionários haviam deixado o lugar cedo, visto que as apostas para a corrida do final de semana estavam encerradas. Tommy, como de costume, permanecia mais tempo no local, certificando-se de que tudo estava em perfeita ordem. Negócios eram coisa séria e isso não era novidade.

     John, depois de deixar seu livro de apostas sobre a mesa de Polly, enxergou uma oportunidade de conversar com seu irmão sobre o que lhe afligia desde quando retornara da capital. Depois de tantos desencontros, tantos ensaios, finalmente encontrara o momento. Dirigiu-se à sala de Tommy a passos lentos, revisando as palavras corretas e elaborando mentalmente como explicaria tudo da forma mais clara possível.

     Sendo convidado para entrar, John sentou-se na cadeira em frente à escrivaninha do irmão que, relutante, levantara seus olhos dos papéis espalhados sobre a mesa antes de cobri-los com outros, impedindo que John os lesse. Papéis estranhos...não pareciam ter nada a ver com os trabalhos da Companhia.

     Menos de cinco minutos após iniciar a conversa, John já havia perdido sua curta e rara paciência. Algo nas expressões vazias e excessivo equilíbrio emocional do Shelby mais velho lhe serviam de pretexto suficiente para irritação.

-Você não pode sair agora, John. - dizia Tommy, calmamente, soltando a fumaça de seu cigarro.

     John já esperava por aquela resposta, sabia que não seria tudo idealizado e simples. Contudo, o comportamento descontrolado de sua própria natureza fazia borbulhar seu sangue. Sua mandíbula, tensionada em stress, o impedia que palavras  impensadas escapassem de sua boca. Os músculos enrijecidos sob a pele tornaram-se desconfortáveis contra o estofado insuficientemente grosso da cadeira amadeirada. "Era para ser uma conversa breve", pensou.

-Realmente acha que se mudar pra capital vai te deixar impune? Você é um Shelby, não há como mudar isso. Só ficará vulnerável...

-Faz diferença? Eu aprendi, da pior maneira, que a sua palavra não é garantia de segurança. - disparou o mais novo, alterando levemente o tom de voz e levantando-se bruscamente de seu assento.

-John, já te disse pra parar de deixar Alex influenciar nas suas decisões. - retrucou Tommy.

-Alex não tem nada a ver com isso, Thomas. - bradou John, dando as costas ao irmão para andar alguns passos para trás na sala.

-Com certeza tem!

     Os olhos de John reviraram, impacientes com a discussão. Ele sabia bem que, no fundo, a implicância de Tommy era fundamentada, como sempre, em alguma decepção prévia de sua experiência.

-Quando você vai esquecê-la, Tommy? Não é porquê  uma mulher te decepcionou que...

-Não sei de quem está falando, John. Mas esse não é o foco.  - desconversou Tommy, ágil para contornar o assunto desenterrado de quase um ano atrás.

- Ok, então! O foco é: estou cansando de me preocupar que um dia vou voltar pra minha casa depois de um dia trabalhando nesse escritório e chamar pelos meus filhos....oh, por que não me respondem?

     Foi o vez de Tommy revirar os olhos com a explicação teatral de John, porém não o interrompeu. Suas mãos esfregaram os olhos por breves instantes como se para privá-lo de enxergar a cena enquanto o Shelby do meio continuava..

Blind Love || John ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora