Brilho alaranjado que jamais presenciara antes. Tão claro que ofuscava a visão, cegando. Um som ensurdecedor, explosivo. Uma onda de calor, ar se deslocando. Por cima do tecido grosso de seu casaco, Alex sentia os braços de John ao redor de seu tronco, firmes como uma fortaleza. Ambos abaixados, encolhidos atrás dos tapumes de madeira da estação central ferroviária a fim de protegerem-se.
Enquanto permanecia de olhos fechados, um filme projetara rapidamente em sua cabeça. Memórias ainda não empoeiradas vinham em retrospectiva mostrar-lhe o quão rápido os acontecimentos em sua vida haviam escalado. Desde o minuto em que pusera o solado de seus finos Scarpins italianos sobre a lama de Small Heat até o presente momento.
Os mortos realmente amontoam-se ao redor dos pés. Pensou, lembrando o que John dissera uma vez. Em tão curto período, Alex viu-se tornar algo que não imaginava ser capaz. Escondida dentro daquela menina mimada, protegida do mal do mundo por seu implacável pai, havia uma mulher forte e corajosa. Capaz de suportar e fazer coisas, boas e ruins, que jamais imaginara tomarem tamanha proporção. Nunca vislumbrou no quê suas aulas de tiro e defesa pessoal viriam a servir. Recordando-se da primeira vez que fora obrigada a matar os homens que invadiram a casa de John, notou que a sensação era a mesma correndo em suas veias naquele momento. Terror. Mas não apenas: terror e poder.
Suas mãos suavam, a respiração era ofegante. Certamente, naquela altura, os corpos amontoados já somavam mais de dez. Número alto demais, caro demais para que não se pagasse em todas as noites com um pouco de insônia. A voz em sua consciência, compreensiva, porém as vezes juíza de suas ações, balanceava cada ato. Apesar de tudo que presenciara, nada aliviava em sua ideia de que a morte de alguém ainda lhe era custosa. Tirar a vida de um ser humano, bom ou mau, não era um direito que lhe cabia. Entretanto, no mundo baseado em "mate ou morra", que lhe fora introduzido no minuto que seu caminho cruzara o de John, era questão de sobrevivência.
-Alex? Anjo, perguntei se está tudo bem? - sussurrou John, repetindo a pergunta pela terceira vez.
Anjo. Apenas John seria ousado o suficiente para chamá-la daquilo naquele momento.
-Sim, John. Você?
O Shelby apenas assentiu em resposta, uma expressão estoica esculpida em seu rosto. Estava sério diante das circunstâncias em que se encontravam.
Uma fumaça escura havia coberto o céu e cinzas caiam como chuva, algumas ainda alaranjadas antes de tocar o chão de pedra entre os trilhos de trem. O vento congelante estava de cortar a pele do rosto, mas mesmo assim, não incomodava o suficiente para que ela e John não avistassem Arthur vindo na direção deles, gritando para certificar-se de que todos estavam bem.
-Onde estão, Arthur? Estão bem?
Alex só queria saber de Charlotte. Ela e Charlie eram os únicos motivos pela qual cometer tais atrocidades pagaria o preço de seis vidas inocentes. Seis operários e trabalhadores da linha férrea haviam sido mortos na explosão que ela e John causaram minutos antes.
Colocando as mãos nos joelhos em posição de descanso, ofegante pela corrida, Arthur assentiu.
-Estão bem, estão com Michael. Agora, vamos dar o fora antes que os policiais apareçam. Temos aproximadamente 15 minutos.
-Já estamos indo. Só o último detalhe...
John retirou um fósforo de seu bolso e o acendeu, ateando fogo nas bordas de um papel e o apagando logo em seguida para criar uma falsa pista que deveria ser encontrada no local para incriminar as pessoas certas. Apesar do risco de se demorarem mais ali na cena do crime, era necessário ter certeza de que a pista falsa seria plantada em um local visível aos policiais da perícia.
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Blind Love || John Shelby
Fiksi PenggemarAlexandra Marie Mills era uma jovem que vivia confortavelmente em Londres até que, em uma esquina, o destino a expusesse a realidade das gangues inglesas que despontaram ao fim do século XIX e início do século XX. Mesmo que tal cenário sempre a espr...