-Alexandra!!
Fui acordada com batidas insistentes em minha porta, estava ainda tão sonolenta que não pude reconhecer de quem era a voz. Talvez...Tommy?
-Estou acordada... - respondi, remexendo nas cobertas da cama.
Acendi o abajur da mesa de cabeceira, a luz vindo do objeto me fez apertar os olhos até que se ajustassem à luminosidade. Eu dormira mal, acordando varias vezes a noite, o que me fazia ainda estar cansada.
Sentei-me, passando a mão pelos fios do meu cabelo a fim de desembaraçar os cachos das pontas. Peguei meu relógio de pulso para ver as horas, ainda eram seis horas e sete minutos.
-Chegou o maldito dia, Alexandra...
Resmunguei para mim mesma enquanto mexia despretensiosamente com a correntinha de ouro em meu pescoço. Era um relicário, onde guardava fotos dos meus pais.
Forcei-me para fora da cama, arrastando os pés pelo carpete até o banheiro. Fiz minha higiene pessoal e as necessidades básicas. Meu rosto no espelho parecia distante de ser quem eu era, estava visivelmente triste e abatida. John tinha razão, ligeiramente mais magra também.
No armário do quarto estava pendurado no cabideiro a roupa que havia separado para a ocasião. Um vestido de seda esmeralda, minha cor preferida. Era simples, sem pedrarias, sem mangas. Mantive meu relicário, brincos pequenos e discretos e pequenas luvas de renda preta que davam na altura dos punhos. Nos pés apenas uma sandália de salto médio. Com meu sobretudo por cima, estava pronta.
Fechei minha mala, certificando-me de ter todos os pertences dentro e deixei o quarto. Os rapazes me aguardavam no refeitório, tomando café da manhã.
-Bom dia, Alex!
-Bom dia, Arthur... - sorri genuinamente.
Arthur era uma das poucas pessoas que me fizera rir naqueles dias. Ele tinha seu lado agressivo, mas também fazia piadas péssimas, era impossível ficar sem rir perto dele.
-Você está bonita. - disse John assim que sentei-me ao seu lado na mesa.
-Obrigada. Você também não está nada mal. - disse notando seu paletó cinza.
Fiz minha refeição sem conversar muito. Belisquei um cacho de uvas, algumas castanhas, queijo e uma xícara de chá. Talvez aquela tenha sido a refeição mais completa da semana.
Me ausentei por alguns minutos após ter terminado, fui ao banheiro para escovar os dentes e retocar o batom carmim em meus lábios. Minhas maquiagens eram sempre discretas, mas aquele não seria um dia do "sempre" para mim. Um batom chamativo - emprestado de Ada - nos lábios me bastava.
Depois de fazermos o check out, enchemos o porta malas com nossos pertences e rumamos novamente para a casa de Alfie. O casamento seria em seu jardim, com simplicidade e pouquíssimos convidados para não chamar atenção dos inimigos.
O Jardim não fora decorado, uma vez que já era usualmente muito bem cuidado e florido com todas as cores possíveis. Algumas cadeiras haviam sido postas e um pequeno altar improvisado. A realidade estava ali, escancarada e pronta para me dar um choque.
Acompanhei os rapazes o tempo todo, sorrindo, assentindo, apertando mãos e dizendo em maior parte monossílabos. John, em algum momento, separou-se para seus deveres de noivo; os outros dois Shelby entretiam-se conversando entre si e com outros convidados. Sentia-me desajustada naquele ambiente.
Dirigi-me ao pequeno chafariz do jardim central, olhando as rosas negras que ali brotavam, ia dispersa e suspirando profundamente com nervosismo. Minhas mãos trêmulas abriram minha bolsa para buscar a única coisa que poderia me acalmar: um cigarro. Eu jamais havia fumado tantos daqueles na minha vida, em uma semana já era o terceiro maço.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Blind Love || John Shelby
FanfictionAlexandra Marie Mills era uma jovem que vivia confortavelmente em Londres até que, em uma esquina, o destino a expusesse a realidade das gangues inglesas que despontaram ao fim do século XIX e início do século XX. Mesmo que tal cenário sempre a espr...