XXXI

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     Nunca subestime o amor de uma mãe por sua criança. Essa era a valiosa lição que Thomas estava aprendendo, do pior jeito possível, naqueles últimos dias. Alex, em pouco tempo, deixara aparecer mais de seu lado rebelde, revelando faces em si que nem ela mesma reconhecia. A mulher relativamente equilibrada dera lugar a uma personalidade feroz, de olhar matador e palavradas afiadas.

     Ao contrário do que todos erroneamente pensavam sobre Thomas, Alexandra sabia que o segundo irmão Shelby estava longe de ser frio e meticuloso. Não. E ela podia lê-lo tão bem tal qual um livro aberto. Apesar de suas brilhantes táticas de convencimento, ego inflado e complexo de grandeza, ela o percebia por baixo das máscaras: assustado e desesperado, ele era apenas um homem tentando abraçar o mundo com as pernas. Os acontecimentos recentes haviam o abalado como nunca antes, abrindo seus olhos para a realidade brutal a qual fazia parte. Tommy temia pelo futuro de seu filho, e também de sua mais nova sobrinha.

1 hora antes...

O plano havia falhado. Ao final de Janeiro de 1921, Thomas era apenas mais um viúvo, pai solteiro e com a intenção falha de enriquecer com um grande roubo de jóias da Família Romanov. Naquele mesmo momento, enquanto Alex, John e Arthur preparavam-se para deixar a base da organização e executar as partes à eles designadas, Tommy estava na lama há vários metros terra abaixo, com uma equipe de mineradores de guerra, cavando caminho para dentro do cofre real russo.

Na manhã daquele mesmo dia, 14 horas antes...

     Estacionando o carro em frente ao escritório de apostas, Alex bateu a sujeira acinzentada de Small Heat de suas botas antes de entrar, não esperando encontrar ninguém menos que John e seus irmãos. Exausta por noites mal dormidas e preocupação constante, estava prestes a retirar seu coldre de costas e jogá-lo sobre a mesa de John antes de dirigir-se à sala de Tommy e atualizar notícias. A relação com seu cunhado estava sendo difícil. Discussões tão inflamadas que precisavam de intervenções, deixando um silêncio desconfortável que sugava a energia de qualquer que fosse o ambiente.

Sinais de agitação incomum eram notados a cada passo, John e Thomas falavam firme com uma pessoa de voz estranha a seus ouvidos. Suas pernas interromperam movimento assim que a visão estreitou-se em um homem de uniforme azul.

-O que ele está fazendo aqui? - perguntou, cada palavra deixando seus lábios cor de rouge com firmeza.

-O Sr. Martens veio nos deixar um recado, mas já estava se retirando. - disse Thomas, apontando a saída do lugar, insistindo que o visitante o obedecesse.

     Ira. Raiva. Medo. Sentimentos tão ruins tornaram-se frequentemente experimentados por Alex naqueles últimos dias. Estava impulsiva, agia com o imediatismo das batidas de seu coração. Queria respostas, nomes, números e sangue. John, já familiarizado com o comportamento estourado e impaciente de sua própria natureza, a compreendia bem e, surpreendentemente, era um dos poucos que conseguia equilibra-la. No calor do momento, a mulher prontamente sacou sua pistola do coldre e mirou para o meio do rosto do intruso.

-Alex, abaixe a arma. - disse John, sua voz soando como um pedido de favor.

-Porque eu deveria, John?

-Ele é apenas um mediador. Veio passar informações.

-Escute seu marido, Alexandra Shelby. Ele é um homem esperto. - debochou o intruso.

-Todos os que compactuam com o inimigo, também são inimigos para mim.

Perigo era a palavra que melhor definia Alexandra. Furiosa, a mulher tinha sua Colt Police Positive 38 em posição para abrir fogo. Seus olhos verdes, marejados em lágrimas que formavam um cristal úmido sobre as pupilas dilatadas devido à adrenalina em seu sangue, gritavam a quem lhes mirasse o ódio corroendo-a por dentro.

Blind Love || John ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora