Me estiquei, ainda de olhos fechados, a procura de John do outro lado da cama, mas abracei apenas uma pilha de lençóis vazios.
Abri os olhos lentamente, fitando o teto por alguns momentos para que minha visão se ajustasse a luminosidade antes de recompor as forças para me sentar. Olhei cada canto do cômodo, aparentemente não havia ninguém por perto.
Estava vestida apenas em minhas roupas íntimas e uma das camisa de John, desabotoada. Sorri com as lembranças da noite anterior e logo levantei-me para me preparar um banho.
Demorei algum tempo a mais para banhar-me, aproveitando o vapor da água quente que fumegava da banheira. Meia hora mais tarde, estava trocada, e então desci para comer algo. O relógio da cozinha marcava oito e quinze da manhã.
Chamei pelas crianças, por John e pela babá, mas ninguém estava; então preparei café e uma torrada com ovos, comendo-os vagarosamente, entediada com o silêncio da casa.
Estava terminando de lavar a louça que havia sujado quando ouvi a porta da frente sendo destrancada e momentos depois o barulho de passos familiares pelo corredor. Senti dois braços ao redor de minha cintura, não precisava olhar para saber quem era.
-Bom dia.. - ele disse.
-Bom dia, amor.
Respondi sorrindo, enquanto fechava a torneira e pegava uma toalha para me secar. Virei para olhá-lo e lhe dei um breve selinho.
-O que aconteceu? - perguntei logo que decifrei a expressão abatida em seu rosto.
-Saiba que eu te amo. Independente de qualquer coisa, ok?
-Ok...eu também te amo, Johnny. Mas o que aconteceu?
-Tommy nos reuniu para fazer um comunicado. Um de nós teria de se casar, você sabe...
-Sim, eu sei. E? - John suspirou profundamente, me deixando ainda mais apreensiva.
-Há uma grande chance de que seja eu.
-O que? O que você está dizendo, John?
-Ele estava negociando que fosse Arthur ou ele mesmo, mas Alfie não aceitou. Finn e Michael não tem idade. Restaram apenas a mim e Ada...espero que ela concorde...
Minha pressão caiu por breves segundos, obrigando-me a escorar sobre a pia. John percebeu e me segurou, evitando que eu caísse.
-Está se sentindo bem? Você está pálida...
Disse colocando a mão em minha testa para sentir minha temperatura antes de guiar-me até uma cadeira para que eu pudesse me sentar. John pegou um copo d'água e me deu de beber enquanto eu tentava reencontrar a fala.
-Não se preocupe, Ada vai entender, Alex. O cara tem vinte e cinco anos, poderia ser pior....
-Não. Ada está grávida, John.
-O que?
-Sim, e a essa hora... - olhei para o relógio da parede, embaçado pelas lágrimas em meus olhos. - prestes a se casar na capela com Freddie.
-Está brincando?! - exclamou surpreso.
-Claro que não...
-Há quanto tempo sabe disso? Poderíamos te-la impedido...
-John, ela é minha amiga, eu jamais faria isso e nem permitiria que vocês o fizessem. Mas não importa agora... - respondi com olhos vagos, as lágrimas já acumuladas começaram a escorrer.
-Alex... - ele disse tentando segurar minha mão, mas eu a afastei e levantei da cadeira.
-Quantos anos ela tem?
-Quem? - ri com sarcasmo.
-Sua noiva.
-Não sei, acredito que vinte e três... - respondeu baixo.
-Ela é bonita?
-Alex, não...eu não a vi e....não importa! - disse colocando-se a minha frente.
-Claro que importa, você vai se casar com ela. - respondi enxugando as lágrimas em minha bochecha com a manga do vestido.
Encostei-me na parede em busca de apoio, minhas pernas tremiam tanto que não suportavam mais o peso do corpo.
-Não, Alex, eu não vou me casar. Podemos ir embora juntos, eu, você e as crianças. Vamos para os Estados Unidos, nos casamos e você poderá ser professora! Como planejava antes de eu ter te enfiado nessa vida maldita..
Balancei minha cabeça, negando insistentemente cada uma de suas palavras enquanto ele as proferia. Lágrimas voltaram a escorrer incessantemente e eu era uma grande narquia de soluços e tristeza.
John aproximou-se e puxou-me para um abraço, desabei em soluços altos, molhando seu ombro em lágrimas. Algum tempo depois, ficamos em silêncio, me soltei de seus braços e olhei profundamente em seus olhos, vermelhos, marejados e também imersos em profunda tristeza como eu jamais vira anteriormente.
Estar ali com ele, cada segundo a mais seria um lembrete de que eu não poderia tê-lo. Doía. Precisava partir daquela casa o mais rápido possível.
-Alexandra.... - sussurrou segurando meu rosto. - Vamos fugir! Podemos nos esconder no interior...eu prometo te fazer feliz, como você merece.
-Não...você não pode simplesmente correr das suas obrigações.
-Isso não tem que acabar assim...
Vi uma lágrima solitária escorrendo lentamente de seu olho. Observei com atenção cada parte de seu rosto, cada uma de suas sardas, a pequena pinta em seus lábios, cada desenho de sua íris azul a fim de guardar um retrato seu em minha mente.
-Não queria ter de te deixar. Eu te amo, Alex.
-Eu também...mas é seu dever, eu entendo que seja por um bom motivo. Se não fizer isso, muito sangue será derramado.
John assentiu relutante, fui invadida por uma tristeza profunda e um sentimento de incompletude.
-Eu tenho que ir embora.
-Você pode ficar, Alex.
-Não, vou ficar na casa da sede por alguns dias até alugar uma casa. Tenho certeza de que Polly irá consentir...
-Se é isso que quer... - disse acariciando meu rosto.
-Será melhor assim.
Subi para o andar de cima e juntei meus pertences, em pouco tempo consegui acomoda-los em uma mala. Várias das minhas coisas ainda estavam na casa de Londres. Mil possibilidades passavam em minha mente, talvez eu devesse voltar para lá...e viver mais alguns meses na companhia dos fantasma de meus pais na mansão antes de vende-la e quem sabe ir para outro país. Itália? França? Paris me parecia ser uma boa...
Por mais que meus pensamentos rumassem para o futuro, tentando a todo custo esboçar algo positivo e promissor, meus olhos não se enxugaram por um minuto sequer. Um buraco havia sido aberto em meu coração, e seria difícil preenche-lo novamente. Eu e John não trocamos mais muitas palavras, ele me ajudou a carregar o carro e fomos para a sede. Após trocar meia dúzia de palavras com Polly, ela aceitou que eu ficasse ali sem hesitação, fomos deixados a sós em um quarto por alguns momentos.
-Então é assim que termina.. - disse John, parado na porta com o olhar no chão.
-Acho que sim.
-Podemos dar um último beijo?
Suspirei profundamente e assenti. Caminhei até ele, aproximando nossos rostos e roçando-os suavemente. Nossos narizes tocaram-se, nossas respirações se misturaram até finalmente juntamos nossos lábios calmamente, sem pressa alguma, tentando capturar o momento pela eternidade.
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Oi gente, capítulo não revisado!! Comentem o que acharam please :))
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Blind Love || John Shelby
FanfictionAlexandra Marie Mills era uma jovem que vivia confortavelmente em Londres até que, em uma esquina, o destino a expusesse a realidade das gangues inglesas que despontaram ao fim do século XIX e início do século XX. Mesmo que tal cenário sempre a espr...