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Birmingham, Sábado, 24 de julho de 1920

Meu nome é Alexandra Marie Mills e hoje eu cometi um assassinato.

Os lençóis brancos da minha cama no quarto de hóspedes da casa de John haviam se tornado rubros. O cheiro metálico do sangue espalhava-se, tomando o nariz de quem se aventurasse pelo cômodo. Minhas mãos tremiam nervosamente e uma fina camada de suor havia se formado em minha testa enquanto encarava o corpo de um homem, imóvel sobre a cama.

As quatro crianças de John haviam corrido e se escondido em seus quartos, obedientes ao meu comando assim que eu vira um estranho tentando arrombar a porta da frente pela janela do meu quarto. Era exatamente 10:17 da manhã de um sábado cinzento pela poluição impregnada de Small Heath.

-Alex?

Uma voz de criança despertou-me de meu transe. Virei-me rapidamente para ver Jack em pé na soleira da porta, revezando um olhar assustado entre mim e o cadáver.

Saí do cômodo, fechando a porta para evitar a cena. Larguei a arma em um canto e abaixei-me para abraçar o menino amedrontado, tentando acalma-lo e me acalmar também. Por alguns momentos, permanecemos ali no chão, chorando e soluçando a fim de liberar o estresse.

-ALEX! - pulei de susto ao ouvir meu nome sendo chamado, era John gritando do andar de baixo.

-Aqui em cima, John! - respondi com a voz falha, mas alto o suficiente para que ouvisse, pois logo seus pés fizeram ruídos sobre o assoalho dos degraus.

John revelou-se no alto da escada com a arma em punho, mas a abaixou ao nos encontrar sem companhia estrangeira.

-Vocês estão bem? Onde estão Katie, James e Anna?

John perguntava com preocupação, ajoelhando-se na nossa frente, checando nossos corpos por ferimentos. Sua respiração estava descontrolada, provavelmente por ter corrido até ali. E, pela primeira vez, vi seus olhos cheios de terror.

-Estamos aqui, papai. - ouvi Anna dizer, descendo as escadas do terceiro andar acompanhada dos irmãos, e vieram todos abraçar o pai, chorosos.

-JOHN! - ouvimos Arthur e Tommy gritarem do andar de baixo e logo subindo as escadas também.

-Estão todos bem. - respondeu John colocando-se em pé com a filha mais nova nos braços.

-Alex, onde ele está? - levantei-me, tentando me recompor enquanto secava as lágrimas com as mangas do vestido.

-No quarto de hóspedes, meu quarto... - respondi, afastando-me da porta e juntando as crianças para poupa-los de ver a cena.

John me entregou Katie cuidadosamente, a menina resmungou ao separar-se do pai, mas logo aceitou meu ombro como apoio enquanto distraia-se com os cachos em meu cabelo. Thomas abriu a porta e vi de relance o par de sapatos bem engraxado do mafioso morto, de pés pendurados para fora da cama. Ele, Arthur e John entraram.

-Está tudo bem agora, crianças. Por favor, voltem para o quarto de vocês. - ordenei, entregando Katie aos cuidados da irmã, e os três subiram sem reclamações.

Adentrei hesitante o cômodo para me juntar aos irmãos, que certificavam-se da morte do intruso. De qualquer jeito, era impossível que sobrevivesse.

-Desculpe, John. - espremi as palavras para comentar, notando manchas pelo papel de parede, chão, cama e demais móveis.

-Você salvou minha família, Alex. Não tenho palavras pra agradecer, muito obrigado. - disse puxando-me para um abraço, colocando a mão atrás da minha cabeça enquanto eu soluçava, derramando mais e mais lágrimas, ainda em choque.

Blind Love || John ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora