Imagens indistintas envoltas em uma penumbra inebriavam meus sentidos. Rostos pálidos, perfurados em balas seguiam-me movimentando suas cabeças mesmo tendo olhos fechados. Vozes gritavam meu nome em um corredor escuro, torturadas. Meus pés pisavam um chão repleto de seringas vazias, que espetavam meus dedos com agulhas usadas.
-Alex? Alex, o que houve?!
Meus olhos se abriram, arregalados. Puxei o ar com mais força, como se fosse morrer sufocada, hiperventilando.
Confusa, ainda com a mente entre o mundo dos sonhos e a realidade, demorei a assimilar o rosto preocupado de John pairando sobre o meu, repetindo meu nome e pedindo que me acalmasse. Sorte grande tê-lo ali para me resgatar de um pesadelo com um chacoalhão quando se fizesse necessário, pensei.
Assim que me acalmei, ainda sem proferir uma palavra sequer, John sentou-se na cama para alcançar uma jarra de porcelana pintada cheia de água sobre a mesinha de cabeceira. Levantei o tronco, apoiando o peso nos cotovelos e bebi todo o conteúdo do copo que me oferecera, devolvendo o vidro vazio.
Estávamos em sua cama de solteiro, na casa sede. John havia insistido inutilmente em dormir no sofá para me deixar mais confortável, mas cedeu ao meu pedido de que ficasse para companhia pois estava farta de passar as noites sozinha. Uma camisola de Ada me servira como uma luva, enquanto John usava apenas seus shorts e meias para dormir, como o usual.
Ficamos algum tempo calados, impossibilitados de voltar a dormir. Deixei que seus dedos emaranhassem os fios de meus cabelos enquanto seu rosto escondia-se na curva do meu pescoço. Sua respiração era saboreada pela minha pele, lembrando-me a cada expiração de que não estava mais solitária.
-Você me assustou... - sussurrou, quebrando o silêncio.
-O que realmente aconteceu?
-Você estava chorando. Pensei que estivesse sentindo dor.
Diante da constatação, trouxe minha mão esquerda até o rosto, percebendo o traço das lágrimas secas sobre a pele. Intrigada, levantei minha cabeça do travesseiro de fronha branca, que denunciava meu pranto noturno com uma pequena mancha úmida.
-Não me lembro mais de nada... - menti, repassando algumas imagens desconexadas ainda remanescentes na lembrança.
-Está tudo bem agora, você está em casa. - repetiu, beijando minha bochecha demoradamente.
-Eu te amo, John.
-Eu também te amo.
Permaneci quieta enquanto seus dedos traçavam padrões sobre a pele do meu colo. Meus olhos estavam fixos nas tábuas do forro do teto enquanto suspiros deixavam meus lábios a cada pouco.
-Você parece tão incomodada. O que foi?
-Me sinto estranha, não tenho certeza. - respondi, sem desafixar o olhar.
-Onde estava com a cabeça ao te deixar tomar aqueles comprimidos calmantes que Tommy disse pelo telefone...
-Você sabe do que eram feitos? - perguntei, agora com meus olhos nos seus, esperando pela resposta hesitante de John.
-Eram cápsulas de Ópio.
-Por que ele toma aquilo? - perguntei, arregalando um pouco os olhos.
-Pelo mesmo motivo que você..
Parei por um segundo raciocinando, mas logo percebi a resposta óbvia. Meu trauma era estar à mercê do Walker no Hospital Psiquiátrico. O dele, a Guerra.
-Ao menos me ajudam a dormir uma noite inteira.
-Não. Foi a primeira e última vez. Melhor ficar longe dessas coisas. - disse tentando soar sério, mas sua voz estava repleta de ternura
Apenas assenti, e submergirmos novamente em silêncio. Um silêncio tão confortável que era capaz de acariciar a pele. Medi cada detalhe de seu rosto, traçando o contorno de suas feições com a ponta dos dedos enquanto seus olhos permaneciam fixos nos meus, sorrindo e piscando lentamente. Os primeiros raios de sol a surgirem pela janela, transpassando os buracos da cortina de renda, ressaltavam cada uma das sardas que povoavam seu rosto e faziam seus cílios e cabelo refletirem um brilho dourado.
-Você quer levantar? - atrevi-me a perguntar, mesmo que já esperasse uma resposta negativa de sua parte.
-Não. Polly não sai da cama antes das sete e fica irritada se for acordada antes. - disse, deitando-se com as costas esticadas sobre o colchão antes de espreguiçar-se; meus olhos, inevitavelmente, desceram pelo seu abdômen em contemplação.
-Você tem alguma ideia do que fazer? - perguntei, sorrindo abertamente, esperando que minhas segundas intenções fossem bem recebidas.
-Bem, talvez eu tenha várias... - expôs, retribuindo com um sorriso igualmente significativo.
-É mesmo, Sr. Shelby?
Tive tempo de dizer antes que John atacasse meus lábios em um beijo apaixonado e um tanto quanto luxurioso. Desci minhas mãos pelo seu abdômen, sentindo-o enrijecer os músculos ao arranhar das minhas unhas antes que eu parasse uma mão no cos de seu shorts e levasse a outra a sua nuca. Enrosquei uma perna ao redor da sua cintura enquanto me derretia à sensação de seus lábios tocando meu pescoço.
John colocou-se sobre mim, ao centro da pequena cama, posicionando suas pernas sobre o colchão de forma que meu corpo estivesse preso entre seus joelhos.
Beijos foram sendo distribuídos por toda a pele exposta do meu colo até que ele abaixasse o decote da camisola para revelar meus seios desnudos de qualquer sutiã.
Seus lábios perfeitamente moldados ao meus mamilos sugavam com intensidade suficiente para me fazer soltar gemidos baixos, pedintes por mais de seu toque. Suas mãos, antes pressionadas em minha cintura, haviam descido pelas laterais das minhas pernas até pararem na bainha da camisola por um momento enquanto minha mãos arranhavam a parte de trás de sua cabeça e nuca.
Impaciente, ousei apressá-lo, subindo minha própria camisola para expor minhas partes íntimas recobertas por lingerie alguma. John riu do ato contra o beijo, mordendo meu lábio inferior antes de separar-se para posicionar seu membro.
A sensação inicial fez-me ter os lençóis repuxados entre os dedos. Movimentos lentos me faziam delirar enquanto seu nome deixava-se escapar da minha boca misturado aos gemidos de prazer. À medida que ia aumentando a intensidade, ficavam cada vez mais altos, e só notei estar possivelmente excedendo em barulho quando John colidiu seus lábios nos meus, ferozmente, para me calar.
Os movimentos aumentaram de velocidade e, ocasionalmente, a cama de guarda amadeirada chocou-se contra a parede em um baque, fazendo-nos rir contra os lábios um do outro. O quarto de Ada era logo do outro lado da parede que não era grossa o suficiente.
-Meu Deus, é tão bom ter você aqui. - disse ofegante enquanto guardava seu membro de volta no shorts, pronto pra deitar-se ao meu lado na cama, estávamos suados após o clímax.
-Você diz isso porque acabou de gozar. - rebati, rindo e lhe dando um tapinha no ombro.
-Por favor, casa comigo?
-Pensei que já fôssemos casar, John. Tinha mudado de ideia? - perguntei brincalhona, arqueando a sobrancelha.
-Não, não. Ótimo!
-Ei, vocês dois! O café da manhã está na mesa! - ouvimos Ada gritar do corredor.
-Obrigada, Ada! - respondi, sentando-me na cama e enfiando os seios de volta na camisola caso ela resolvesse abrir a porta destrancada.
-O que está escondendo? Acha que ela não ouviu?? - provocou John, rindo e puxando-me para cima de seu peito.
-Oh, cale a boca.
-Senti sua falta, Alex.
-Eu também senti a sua, Johnny Boy.
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Blind Love || John Shelby
FanficAlexandra Marie Mills era uma jovem que vivia confortavelmente em Londres até que, em uma esquina, o destino a expusesse a realidade das gangues inglesas que despontaram ao fim do século XIX e início do século XX. Mesmo que tal cenário sempre a espr...