Capitulo XXIV - Sophia (Parte 01)

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"Baby, serei seu predador hoje á noite 
Te caçarei, te comerei viva 
Como animais, animais (...) 
Talvez você ache que pode se esconder
Posso sentir seu cheiro a milhas 
Como animais, animais..."   Animals (Maroon 5

Uma brisa fresca envolvia meu corpo com uma suavidade gelada. Os pelos do meu corpo eriçaram-se com o contato frio. A porta da varanda estava aberta e o espaço vazio ao meu lado me dizia que Caíque tinha acordado no meio da madrugada: de novo

Suspirei pesadamente, deixando que o resto de inconsciência, que ainda me cercava, deixasse a minha mente. Tomei coragem para levantar da cama aconchegante que me acolhia e fui para a varanda atrás do homem que devia estar me protegendo do frio com seu calor. 

Sua voz estava baixa e rouca de fúria quando o alcancei. Seus braços estavam escorados na sacada de pedra á sua frente, seus músculos das costas tensos com a conversa ao telefone. Eu não entendia a fonte de seu nervosismo. Suas palavras fluíam em um inglês perfeito e raivoso, mas eu sabia. Sabia que alguma coisa de errado estava acontecendo em sua empresa. Apenas isso o tiraria da cama a essa hora do noite. 

Caminhei para ele, encurtando a distância entre nós. Envolvi meus braços em sua cintura rígida e o apertei em um abraço. Um suspiro trêmulo saiu de sua garganta denunciando o seu estado de espírito. 

Eu queria beijá-lo até que esquecesse todas as suas aflições. Queria abraçá-lo até não existir nenhum tremor, mesmo imperceptível, balançando seu corpo. Queria dizer todas as palavras que ele precisava ouvir para se sentir em paz. Queria ser a sua felicidade em carne e osso, assim como ele era a minha. Queria ser a sua fonte de segurança. Seu aconchego. Queria dar-lhe tudo e não pedir nada de volta. 

Fechei os olhos e apoiei minha cabeça em suas costas – esperando. Esperando que sua conversa terminasse para poder desfrutar de todos aqueles músculos esculpidos com perfeição e trabalhados até a última gota de suor. Esperando que os resultados das breves respostas em inglês e da explicação sem fim do outro lado da linha não surtissem efeitos irreversíveis. Esperando transformar a noite perdida em ganha. 

Tão soterrada por meus próprios pensamentos e especulações, não percebi que Caíque já havia desligado o telefone e o jogado de qualquer jeito sobre a sacana de mármore. 

- Preciso ir para Nova York. – sua voz estava rouca ao falar, despertando-me do estado vegetativo. 

- Por que? – tentando manter a calma e controlar o coração agitado, a pergunta foi a única palavra que conseguiu organizar-se e pular para fora em meio a tantas outras. 

Seu corpo criou vida em frente ao meu, movendo-se com delicadeza para mudar de posição. Seus olhos bombardearam os meus cheios de preocupação. As conhecidas chamas queimavam todo o verde esmeralda de forma descontrolada. 

A situação estava realmente ruim, estava claro para quem soubesse ler. 

- Me roubaram. – o tom doído deixava exposto o quanto ele estava afetado e surpreso com aquilo. – Pela primeira vez em toda a minha vida alguém além do meu pai me passou a perna. 

- Como? O que aconteceu? 

- Cinco milhões de dólares aconteceu. 

Engasguei com a minha própria saliva ao ouvir. Cinco milhões de dólares era um mar de dinheiro infinito para quem nunca conheceu mais de dois zeros em uma conta bancária. 

- Meu Deus. Isso é... É muito sério. – forcei as palavras a saírem de minha mente, mas nenhuma delas formavam frases coerentes. Ao contrário, eram um amontoado de letras sem rumo e significado. – O que você pretende fazer? 

Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora