Romeu e Julieta

Capitulo XIX - Caíque

Eu não sabia por onde começar a dizer o quanto estava feliz nessa noite. 

Por mais que a reação de Sophia tenha sido pior do que nós imaginávamos, tudo ficou completamente bem depois que ela se deu conta do que estava acontecendo ao seu redor, e nada me fez tão feliz como ver que eu estava colando os cacos da mulher que eu amava aos poucos. Eu tinha sido persistente o suficiente para merecer isso no final das contas, e ela tinha sido forte o suficiente para ser digna de tamanha felicidade. 

Nós merecíamos aquilo. Merecíamos ter o nosso final feliz. 

Depois de tanto tempo, de tantas reviravoltas e tanto sofrimento, finalmente, tudo tinha acabado, e eu não podia deixar de dizer que esperar o tempo necessário valeu a pena. Nada disso teria acontecido se eu tivesse sido mais forte na época em que tudo aconteceu, mas eu não tinha garantia de que faria tudo certo apesar de escolher o certo. Eu não sabia se teria sido o suficiente para as duas naquela época, como luto para ser agora. Eu não sabia se a minha mente jovem demais e meus hormônios á flor da pele teriam me permitido chegar muito longe com Sophia, por mais que eu a amasse com toda a minha alma.

A vida tinha me mostrado duas verdades naquele momento:

A primeira era que o destino tinha nos pregado uma peça daquelas, mas ele não tinha feito isso em vão. Eu passei a acreditar durante esses dias que apesar do sofrimento que o passado nos causou, ele também nos fez amadurecer de uma forma rápida e inteligente. Nós nos tornamos adultos conscientes das dores da vida e ainda mais de como ela pode ser facilmente modificada, e ter essa lição tão marcada em cada um de nós era o suficiente para nos fazer dar mais valor à tudo.

A segunda era que não temos o controle das páginas dos nossos livros, por mais que digam isso. Elas se escrevem sozinhas, baseadas nas nossas escolhas por um tempo, mas em outro faz questão de escrever o que bem entender, e nós somos obrigados a aceitar isso de qualquer maneira. Eu fui obrigado a aceitar que viveria dez anos sem as duas pessoas mais importantes da minha vida, mas não podia reclamar daquilo. Doeu muito, meu coração sangrou todos os dias, horas, segundos e milésimos que permaneci sem o calor das minhas duas garotas, mas aquilo me serviu de lição sobre vários aspectos da vida em que eu errava muito e me fez amadurecer de uma forma que eu podia entender agora todos os lados da moeda sem pestanejar em nenhum momento. 

Depois de tanto tempo reclamando e me punindo, não me restava mais nada além de agradecer a caneta que escreveu as páginas da minha vida até hoje. Por mais que minha história tenha sido escrita em linhas tortas, eu estava aqui nessa noite me sentindo completo e tão vivo que poderia fornecer força vital à qualquer um que precisasse. 

E eu que pensava que estava fadado à uma vida de martírio, mal sabia que aquilo era o começo do meu paraíso.  – Acariciei as mechas loiras de Anabelle e sorri com o fato de parecerem tanto com as de sua mãe quando era mais nova. Lembrei da primeira vez em que botei meus olhos na pequena garotinha que era Sophia e a vi se estabacar no chão, jogando todo os seus caichinhos em frente ao seu rosto. Naquele momento, enquanto ela se levantava, retirava o cabelo de sua frente e corava tímida, eu soube – mesmo que inconscientemente – que ela era a minha garota especial.
Naquele dia eu cheguei em casa contando para minha mãe que eu tinha uma namorada na escola, mas ela não sabia ainda que era minha namorada. Minha mãe riu e disse que eu deveria contar para ela esse fato e eu fui para a escola no outro dia com as mãos suadas. 

Sorri ao lembrar daquilo – era o meu segredo. Ninguém nunca soube que eu sempre tive olhos para ela e que sempre tive medo de me aproximar. Sophia tinha esse efeito em mim e mal sabia. Ela sempre fora o meu calcanhar de Aquiles... E eu nunca reclamaria daquele ponto fraco, por que mesmo sabendo que ela poderia ser a minha ruína, na maior parte do tempo ela era o meu sucesso.