Acordei com as batidas suaves de Made To Love do John Legend, e um sorriso de orelha a orelha se abriu no meu rosto. Tateei o criado mudo, ainda de olhos fechados, pegando o aparelho e apertando o botão para atender a chamada.
- Bom dia, meu anjo! – ele me saudou com aquela voz rouca que me deixava fora de mim.
- Bom dia, meu amor – sorri ainda mais com as minhas próprias palavras e de como elas sairam tão naturalmente do fundo da minha alma, depois que eu resolvi de vez que iria embarcar de novo nessa historia.
- Trabalhou até tarde ontem? – perguntou, sua voz assumindo um tom preocupado – Eu queria ter ido jantar com você, mas tive que doar uma noite para a família pela minha mãe.
- E como foi? – me sentei na cama, abrindo os olhos devagar para me acostumar com a luz que vinha da janela – Muito pesado?
- Não tanto, meu pai não me intimida mais, apesar de tentar fazer isso o tempo todo. Tivemos uma discussão, é claro, mas Josh chegou bem na hora e o mandou “calar a maldita boca” – sua risada ecoou pelos meus ouvidos e eu sorri, pensando em meu terceiro melhor amigo, bem mais velho que todos nós, com aquela cara de mal que me assustava muito até que eu o conheci além da casca dura e vi como era um homem carinhoso e dedicado aos dois irmãos – Fora isso foi bom por que passei um tempo com minha mãe e tive os meus dois irmãos juntos...
A culpa me atingiu em cheio por aquilo. Eu sabia que depois de mim a vida de Caíque tinha se tornado uma confusão e ele tinha perdido muita coisa por ter me escolhido naquela época.
Comecei a entender um pouco o seu lado, coisa que nunca fiz durante esses dez anos.
Eu não podia julgá-lo por ter me abandonado naquele hospital, afinal, tudo que aconteceu naquela noite foi parte minha culpa, ele me escolheu acima da sua família e quando recebeu o peso das suas decisões, não pode suportar. Eu também não suportei, como ele, eu cedi às chantagens do meu pai e o deixei ir embora, sem nem ao menos tentar lutar por ele do mesmo jeito que ele lutou por mim.
- Sinto muito... – murmurei baixinho, mas ele não me deu tempo para continuar:
- A culpa não é sua Sophia, não precisa sentir muito por nada. Tudo que aconteceu foi culpa do meu pai e do seu pai, não nossa. Éramos dois adolescentes, não tínhamos idade e cabeça o suficiente para confrontá-los naquela época, mas temos agora.
- Sim, temos – minha voz continuava baixa e meus pensamentos perdidos naquela época que foi tão boa e ao mesmo tempo tão ruim.
- Vamos mudar de assunto, tudo bem? Não quero falar sobre isso, são tempos novos, escolhas novas e futuro novo, não é? – perguntou e eu pude sentir a esperança e o medo espelhados em sua voz.
- Claro que é! – confirmei, firme da minha decisão e tentando passar toda a confiança que estava sentindo para ele. Suspirou do outro lado da linha, parecendo aliviado.
- Eu te liguei para te convidar para jantar comigo...
- Não me diga? – dei uma risadinha baixa que ele retribuiu com outra.
- Digo sim, e ainda te acuso de ser a culpada por isso.
- E por que eu sou a culpada?
- Por que foi por sua causa que eu não tratei os empresários com toda a atenção e educação que eles mereciam. Só conseguia pensar em você e nessa sua boca maravilhosa e mal prestei atenção na reunião que tive com eles, então para me desculpar, marquei esse jantar e a mocinha vai comigo.
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Romeu e Julieta
RomancePassaram-se dez anos desde da tragédia que marcou para sempre a vida de Caíque e Sophia. Se apaixonaram quando eram adolescentes mas suas familias nunca aceitaram o amor dos dois, fazendo com que se rebelassem e tentassem de todas as formas ficarem...