Capitulo I - Caíque

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Amor é uma fumaça que se eleva com o vapor dos suspiros; purgado, é o fogo que cintila nos olhos dos amantes; frustrado, é o oceano nutrido das lágrimas desses amantes. O que mais é o amor? A mais discreta das loucuras, fel que sufoca, doçura que preserva. - Romeu


Sentado na minha cadeira de couro preto preferida, feita especialmente para mim, olho para a enorme janela de vidro, que agora substitui a parede que mandei derrubar meses atrás. Me sentia sempre sufocado entre aquelas paredes cinza claro, com apenas algumas janelas de tamanho médio para arejar o lugar no qual passava a maioria do tempo que tinha.

Agora, podia respirar tranquilamente e quase me sentir fora do ambiente estressante de trabalho, ao olhar para a vista daquela janela.

Eu realmente tinha que concordar com todos que diziam que eu tinha a melhor vista de toda a cidade, e agora, com o céu escurecendo aos poucos, podia ver todas as luzes de Nova York criando vida pouco a pouco, informando a todos que a cidade dos sonhos nunca dormia e convidava gentilmente todos que quisessem se aventurar em suas ruas para viver experiências inesquecíveis.


Desde que me mudei para cá, com meus vinte anos, assumi a presidência das empresas do meu pai, mas como o jovem que era, não resisti as tentações de NY. Tinha cansado de me aventurar por entre suas ruas, bares e boates, enchendo a cara e conhecendo pessoas e mulheres novas a cada dia.


E isso não era diferente do que eu era na minha cidade natal, o Rio de Janeiro. Lá, como filho do homem mais rico do estado, eu era tratado como um rei e agia como tal, sempre dando as melhores festas da região, com direito a cobertura pela MTV e pessoas vindas de outros países.

A minha adolescência foi a dos sonhos de qualquer garoto e eu não tinha do que reclamar. Tinha aproveitado minha vida até o extremo e até hoje, quando precisava desestressar, recorria as ruas de NY para me ajudar a encontrar um alivio.


E hoje era um dia desses. Depois de quase um dia inteiro de vídeos conferencias com os presidentes das filiais da empresa em outros países, resolvendo problemas atrás de problemas, eu já não aguentava mais ficar dentro dessa sala ou no meu apartamento. Era difícil demais ser o tempo todo o empresário frio e calculista que mostrei ser para o mundo sem ir à loucura algumas vezes.

Sempre me orgulhei do controle que eu tinha sobre todas as coisas na minha vida, inclusive de mim. As pessoas sempre diziam o quanto invejavam a minha capacidade de me manter calmo em qualquer situação e indiferente a tudo e todos à minha volta. Revistas e jornais eram os que mais comentavam sobre o meu auto-controle impecável e qual era a minha formula secreta para comandar uma das empresas mais bem sucedidas do mundo sem enlouquecer ou perder as rédeas em algum momento. Sabia bem que tudo isso era por que não se conformavam por não ter nenhum furo sobre a minha vida até hoje.


Nunca dei nenhuma brecha para se meterem na minha vida pessoal e me certificava sempre de mantê-los longe o suficiente quando aceitava alguma entrevista.


Essa era a minha fórmula secreta.


Suspirei ao lembrar como meu pai não teve a mesma esperteza e nos expôs muitas vezes a fofocas de revistas e blogs.


Toda semana havia uma noticia nova sobre a vida de Marcos Avellar, sua família conturbada e sua infidelidade descarada. Por várias vezes publicavam depoimentos de ex amantes furiosas por terem sido descartadas, contando em mínimos detalhes tudo que viveram por baixo dos panos. Minha pobre mãe, tão doce e gentil, fora destroçada por matérias como essas inúmeras vezes, e junto com ela toda a nossa família.

Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora