Capitulo IV - Sophia

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Meu único amor, nascido do meu único ódio! Cedo demais o vi, ignorando-lhe o nome, e tarde demais fiquei sabendo quem é. – Julieta 


No momento em que sua voz passeou pelos meus ouvidos, tudo em mim reagiu de forma brutal. Minha cabeça sacolejava, minhas idéias embaralhadas, as lembranças me golpeando uma de cada vez com sua força implacável e arrasadora. Depois de tudo que passei, depois de todos os anos tentando superar pelo menos uma parcela dele, percebi que nunca progredi naquela luta. Apenas estar no mesmo ambiente que ele pela primeira vez depois de tudo, me desestabilizou quase completamente, agora, ouvindo sua voz, estava totalmente acabada. 


A situação em que nos encontramos de novo era vergonhosa para mim, sendo humilhada e tratada como um lixo diante de todos, inclusive dele. Não havia quase dignidade nenhuma em mim naquele momento e ainda piorou quando ele disse aquelas palavras. "Eu pago tudo, me diga a quantia e eu lhe dou em dinheiro vivo", como se tivesse a obrigação de me tirar daquela sala o mais rápido possível só para que as outras pessoas não me olhassem mais com arrogância, como ele também deveria estar olhando. 


Não tinha palavras que descrevessem o jeito que me senti rebaixada, doída e magoada. Nem as unhas da senhora Vianna cravadas em meu ombro doíam mais que tudo aquilo. 


Respirei fundo, encarando meus pés encharcados, calculando as minhas chances de sair daquela situação com pelo menos algum respeito por mim mesma. Não queria olhar para ele, não queria ver a pena espelhada em seu olhar, mas também não queria que achasse que eu era fraca demais para encará-lo e agradecer a sua boa vontade em me ajudar. 


Forcei minha cabeça a levantar e o encarei com o máximo de dignidade que pude. Mas perdi toda a força que juntei quando ele sustentou o meu olhar. Não havia pena, dó, culpa ou arrogância ali, apenas aquelas chamas já conhecidas que incendiavam todo o meu corpo. Fiquei perturbada, sem reação por um momento, as palavras escapando por entre minha boca arfante sem provocarem nenhum som. Meus pensamentos embaralhando mais ainda, tudo em mim parecendo ter vida própria, inclusive meus braços que queriam enrola-lo em um abraço forte e cheio de saudade. 


Fiz um esforço físico e mental enorme para que tudo ficasse parado em seus devidos lugares e que nada em mim fosse comandado pelos sentimentos enlouquecidos abafados dentro de mim. 


- Obrigada, senhor Avellar – disse no tom mais calmo que pude – mas, não precisa se incomodar com nada disso, eu posso pagar todo o estrago. 


Menti, e como menti. Eu não podia pagar pelo estrago que tinha feito com as taças, o champanhe e o vestido caro demais da filha dos Vianna. Mas também não podia admitir isso para ele. Então, me livrando sofridamente do seu olhar, continuei:


- Senhora Vianna, me perdoe pelo estrago – encarei o rosto transtornado da velha – eu prometo que pagarei cada centavo que foi perdido aqui, começando com o meu salário de hoje. 


A mulher não aliviou a careta que estava fazendo. O que a deixou mais feia do que já era com todo o botox que fez, mas não me deixei intimidar, precisava ir embora dali o mais rápido que conseguisse e deixando claro que pagaria tudo que devia, me livrei de sua mão que parecia petrificada em meu ombro, sentindo a dor latejar. 

Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora