4 anos depois...
Eu sempre gostei de estar no meio das flores. De sentir os aromas diferenciados de cada uma, absorver a tranquilidade das suas folhas e a esperança que cada pétala emanava de mais um dia de sol.
As flores sempre foram a minha segurança, a minha cura. Lembro-me bem das inúmeras vezes em que me senti solitária, insegura e totalmente despedaçada pela incerteza que sempre fora a minha vida, mas bastava estar no meio daquelas pequenas plantas que a paz voltava a reinar no meu interior.
A verdade é que elas sempre foram as minhas maiores confidentes. Desde o momento em que aprendi a dizer minhas primeiras palavras, comecei a faze-las de meu porta-segredos. Para alguns, aquilo poderia parecer loucura, estar falando dos momentos bons e ruins da minha vida para seres que não poderiam me responder, nem partilhar de emoções comigo. Mas, para mim, era como conversar com Ellen.
E mesmo que parecesse ainda mais louco, eu poderia reconhecer suas respostas.
Um leve balançar com a brisa, o ato das folhas sugarem as gotículas de água que caíam sobre si e até mesmo os aromas que se intensificavam.
Tudo aquilo sempre me deu alento nos dias pesarosos e explosões de felicidade nos meus dias mais coloridos.
E, eu não podia expressar a minha felicidade quando meu pai me deu um jardim enorme na nossa nova casa, em Nova York.
Havia uma pequena estufa, toda feita em vidro, no qual eu podia cultivar as flores mais raras e que precisavam de cuidados especiais, e onde o por-do-sol e o nascer do mesmo sempre me tiravam o fôlego ao perpassar pela cobertura espelhada. Um jardim de porte médio, com armações de madeira branca no qual eu tinha plantado trepadeiras de todos os tipos, que faziam o seu trabalho em deixar o aspecto romântico por todos os cantos. A grama era de um verde vivo agora, no qual eu tinha me esforçado muito para conseguir. Estava seca quando chegamos, mas o amor e a força de vontade que dediquei-lhe fizeram com que se tornasse quase uma cama fofa e macia.
Aquele era o meu pequeno paraíso, com flores de todas as cores, uma estufa repleta de mais delas e trepadeiras tomando conta de cada pedaço branco das armações. Haviam pequenos bancos e uma mesa de tamanho família, onde eu reservava desde que chegamos para um almoço especial.
Inalei com força todo o aroma do ar fresco que misturava-se com outros diversos que orbitavam o meu pequeno paraíso, antes de caminhar até a grande toalha xadrez que estava estendida no centro da grama.
Jude corria em volta da família, que estava sentada relaxadamente sobre a cobertura macia, desfrutando de um grande piquenique.
Sorri quando o pequeno garotinho de olhos azuis como os meus e cabelos negros como os de papai, correu e agarrou as minhas pernas com carinho. - Eu o amava mais do que a minha própria vida. Era o caçula de três anos de idade que eu havia esperado com tanta expectativa que pensava poder explodir no dia em que ele nasceu.
- Eu sou um leão, roaaaaar, - disse, imitando um rugido. Aquele som me despertou uma gargalhada doce. Ele fazia até com que o alerta de um dos maiores predadores da selva parecesse meigo. - e vou te devorarrrr!
- Oh meu Deus! Não me devore, senhor leão, não vê que não terá um bom almoço?! - coloquei a minha melhor cara de espanto e corri para o lado oposto da toalha xadrez. - Eu quase não tenho carnes! Só feita de pele e osso.
- Isso é verdade! - papai zombou de mim. Olhei-o com uma carranca. Ele sempre fazia questão de me incentivar a comer igual uma porca. - Não vale a pena o esforço, leão Jude, essa presa não matará a sua fome.
- Tão engraçadinho! - enviei-lhe uma língua grande que em resposta recebeu uma piscadinha marota.
Sentei-me de pernas cruzadas como um índio em frente á eles. Chamei Jude com um dedo e fiz um aceno para que sentasse no meu colo. Não precisei esperar nem meio segundo para que ele pulasse com toda a sua força nas minhas pernas e se aconchegasse a mim como um gatinho.

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Romeu e Julieta
RomantikPassaram-se dez anos desde da tragédia que marcou para sempre a vida de Caíque e Sophia. Se apaixonaram quando eram adolescentes mas suas familias nunca aceitaram o amor dos dois, fazendo com que se rebelassem e tentassem de todas as formas ficarem...