Capitulo XVII - Sophia (parte 02)

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"Fale, anjo, outra vez, pois você brilha 
Na glória desta noite, sobre minha cabeça 
Como um celeste mensageiro alado 
Sobre os olhos mortais que deslumbrados 
Se voltam para o alto, para olhá-lo 
Quando ele chega cavalgando nas nuvens 
E vaga sobre o seio desse espaço."   
 Romeu e Julieta (William Shakespeare)

A noite havia caído e eu não podia me sentir mais satisfeita com a minha vida. Como se diziam os mais velhos: eu tinha entrado em mais um ano de vida com o pé direito e estava gostando muito da sensação de estar voando por entre as estrelas mais brilhantes do céu. 

Os braços de Caíque estavam envolvidos na minha cintura enquanto eu me admirava no pequeno espelho dentro do meu banheiro. Catarina e Ana, antes de irem embora, depois do almoço espetacular que minha mãe e dona Maria preparam para mim, fizeram de novo a transformação da Cinderela. Eu estava com as pálpebras pinceladas a dourado brilhante e um lápis de olho forte que cobria a parte de dentro e de cima, destacando meus olhos azuis de uma forma sedutora. Meus cílios estavam alongados até o máximo e eu os piscava para o homem atrás de mim; meus lábios estavam carregados por um batom rosa opaco e eu sorria abertamente para o rosto deslumbrado de Caíque. 
- Pare de me olhar assim – repeti as suas palavras de antigamente quando ele me pegava admirando-o como uma louca. 
- Assim como? – seu sorriso espalhou-se pelo seu rosto e ele ergueu uma das sobrancelhas. 
- Como um bobo – soltei uma risada baixa e a sua me acompanhou. 
- Os papéis se inverteram então?! – ele perguntou enquanto me girava para ficar de frente para os seus músculos muito bem torneados. Estava sem camisa e a tatuagem com o nome de nossa filha estava vísivel aos meus olhos. Sempre que olhava para ela meu coração enchia de amor e saudade. – Não que eu não te admirasse antes, mas você conseguia fazer isso duplamente mais. 
Concordei com a cabeça enquanto ainda ria. Eu estava distraída pelos seus gominhos na barriga, mas as lembranças não deixaram de vagar pela minha mente. 
- Eu estava realmente muito apaixonada e não tinha ideia do por que de você me querer, enquanto podia ter qualquer uma de toda a cidade. – não aguentando, ergui meus dedos até sua barriga e acariciei com a unha sua pele exposta. Ele gemeu com o meu contato e eu quis que ele desistisse desse jantar de aniversário e me levasse para cama. – Vamos desistir do jantar. 
Minha voz estava manhosa, do jeito que ele nunca resistia e eu estava fazendo aquilo de propósito. Muito de propósito. 
- Deus... Como eu queria esquecer esse jantar, mas eu não posso. Eu tenho que lhe dar o meu presente, esqueceu?! – seus olhos verdes adquiriram as chamas que eu tanto amava e ele os ergueu para mim, prendendo os meus pobres oceanos azulados a fúria dos seus sentimentos espelhados tão descaradamente. Eu sempre me perguntei como ele conseguia dizer tanto apenas com um olhar, mas nunca achei a resposta. Caíque conseguia ser imprevisível de formas variadas e ele nunca me contou o seu segredo para controlar as emoções com tanta destreza. 
- Você pode me dar o meu presente agora – insisti, com a voz subindo os níveis da manha. 
- Não posso não. Vamos lá amor, eu prometo que vai valer á pena, assim como a espera também valerá quando chegarmos em casa. – ele piscou para mim e seu sorriso de canto se abriu daquele jeito tão sexy que me fazia molhar a calcinha automaticamente. Deus! Como ele conseguia?! – E a propósito... Eu queria você acima de todas as outras garotas por que no momento em que pus meus olhos em cima da pequena garota de cabelos loiros, olhos azuis assustados e camisa rosa da barbie, eu soube que a amaria pro resto da minha vida e olha aonde estamos hoje, hein? 
Eu sorri com emoção e meus olhos marejaram. Ele sabia realmente como dizer as coisas e eu que pensava que não conseguiria me apaixonar mais ainda por aquele homem, estava enganada. Naquele momento o meu coração expandiu-se e mais amor caminhou para dentro do meu espaço, mostrando-me que a cada dia que eu passasse ao seu lado o meu coração incharia até que eu fosse toda feita dele. 
- Eu te amo – sussurrei enquanto encostava meus lábios nos seus e o envolvia com meus braços. 
- Eu também te amo – sua língua invadiu a minha boca explorando todos os cantos que haviam ali, escondidos ou não. Deixei que a minha se juntasse á dele e ambas entraram em uma dança sensual que me envolveu de tal forma que esqueci como se ficava em pé ou qual era o meu nome. Suas mãos me apoiavam contra o seu corpo, segurando obviamente todo o meu peso enquanto eu me desfalecia em amor e o cobria com toda a paixão que estava guardada por tantos anos aqui dentro. Acariciei seu couro cabeludo com as pontas dos meus dedos e ele gemeu na minha boca alguma coisa desconexa sobre gostar muito quando eu fazia aquilo, mas eu não consegui decifrar se era realmente aquilo. Suas mãos acariciavam a curva da minha cintura enquanto ele caminhava para fora do pequeno banheiro e nos levava para o quarto. 
Sim, eu queria aquilo. Eu queria tanto aquilo que poderia explodir a qualquer momento apenas com aquele beijo, mas seus lábios desgrudaram-se gentilmente dos meus depois de depositarem um selinho casto. 
Abri os olhos confusa e deixei que minha visão turva pelo desejo se acostumasse com o ambiente para só depois eu conseguir fazer com que a minha mente formulasse um protesto daqueles. 
- Nós estamos atrasados, amor – não precisei perguntar nada, ali estava a minha resposta. Droga.
Ele pegou sua camisa verde escuro que estava pendurada em um cabide no braço da minha cama e a vestiu. Estava perfeito e meu coração palpitou com a visão daquele homem de calça jeans preta e aquela blusa que grudava perfeitamente em seu corpo.  
Gemi de frustração quando ele me olhou com uma sobrancelha arqueada e sorriu sedutoramente para mim, enquanto caminhava na minha direção. Eu estava furiosa e necessitada com ele e por ele, mas deixei que ele entrelaçasse nossas mãos e dedos, e me carregasse pelo apartamento até a porta de saída.

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