Capitulo V - Caíque

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"Ah, ela ensina as tochas a brilhar! Parece estar suspensa na face da noite, tal qual jóia rara na orelha de uma etíope; beleza incalculável, cara demais para ser usada, por demais preciosa para uso terreno!" – Romeu definindo Julieta a primeira vez que a viu. 


Passaram-se duas semanas depois do meu primeiro encontro repentino com Sophia. 


Olhando pela grande janela do Copacabana Palace, observando o grande azul do oceano revolto, só conseguia pensar em como espelhava exatamente os olhos dela naquela noite. Confusa, perdida, magoada e com certeza, sendo atacada com a mesma voracidade por todas as lembranças que também me atormentavam. 


Olhar naqueles olhos sofridos quase me fez desmoronar por completo, como há muito não acontecia. Me ver incapaz de fazer qualquer coisa que mudasse toda aquela dor e distância que havia entre nós me deixou louco, com um sentimento terrível de impotência.


E se existia um sentimento que eu detestava era esse.


Não havia nada que eu não achasse um modo de fazer ou conseguir para que não fosse tomado pela agonia de tal.


E agora, trancado nesse quarto de hotel, eu estava totalmente assolado por ele, sendo corroído de dentro para fora, com a mente dando mil voltas á procura de uma solução pra tudo isso, pra nossa história que nunca foi resolvida. 


Tantas perguntas ela me fez em silêncio e tantas respostas eu tentei lhe dar da mesma forma.


Eu quis gritar, pedir que ela me perdoasse de alguma forma por toda a burrada que fiz, pedir que me ajudasse a consertar tudo que estava errado entre nós, que me resgatasse do mundo sombrio ao qual me afundei por completo desde dos primeiros dias em que estive longe dela. 


Eu tentei, tentei muito seguir minha vida como se nada tivesse acontecido, como se fosse uma pessoa qualquer no mundo que estava começando tudo agora, mas a cada manhã que chegava das minhas noites regadas a bebidas e mulheres diferentes, o vazio me preenchia sem nenhuma piedade, e a saudade, a dor, a culpa e agonia eram suas companheiras fiéis na missão de me deixar atormentado enquanto vivesse. 


Mesmo que esses dez anos tenham me deixado dormente a tudo, eu sabia, que se o destino nos colocasse frente á frente de novo, eu não aguentaria. Tudo explodiria dentro de mim, todos os sentimentos que aprisionei, todos os pensamentos que não me permiti prestar atenção e todas as lembranças que sempre rondavam o meu coração e mente tudo se tornaria um caos. Como agora. 


Peguei o meu copo cheio do meu Whisky favorito em cima do criado mudo, ao lado da minha cama, e tomei o resto da bebida em um só gole. 


Sabia que nada do que fizesse aplacaria o que estava sentindo, mas pelo menos me ajudaria a não enlouquecer de vez. Mesmo que a loucura beirasse a minha vida desde o princípio. 


Duas batidinhas leves na porta e "camareira!", me despertaram para a realidade. 


Havia duas semanas que não permitia que ninguém entrasse no meu quarto para limpar ou arrumar. Minha bagunça estava refletindo o meu interior e meus olhos, ouvidos e mente estavam fechados para qualquer coisa além da dor aguda no meu peito. 

Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora