Capitulo XIII - Sophia

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Essa era a primeira vez em duas semanas em que aparecia no Jack's para trabalhar. Eu sabia que se Caíque soubesse o antro onde eu trabalhava usaria todos os tipos de artifícios para me convencer a sair daqui sem olhar para trás, e como eu o conhecia mais do que a mim mesma, manti esse segredo. Primeiro por que eu precisava muito do dinheiro, querendo ou não, á volta de Caíque para minha vida não tinha mudado a minha classe social e muito menos diminuído as minhas dificuldades; segundo por que não estavámos casados e ele não podia tomar conta da minha vida assim, eu era dona do meu próprio nariz e tinha que zelar pelo meu orgulho. Eu não aceitaria em hipótese alguma ser sustentada pelo meu namorado. 

Por isso e por estar querendo aproveitar todos os segundos ao lado dele, eu dei um tempo do bar. Torci intimamente para que Jack achasse a minha falta de responsabilidade com o "trabalho" motivo o suficiente para me demitir, mas não aconteceu. Eu sabia que não aconteceria, afinal, eu era uma das poucas pessoas honestas que trabalhavam com ele e esperavam até o fim do mês para receber o salário ao invés de roubar dinheiro do caixa como outros funcionários faziam. 

Suspirei pesadamente quando peguei a garrafa de pinga quase vazia e dois copos pequenos, servindo duas doses para dois caminhoneiros que estavam de passagem. 
Não entendia como esses homens conseguiam se embebedar sabendo que teriam que dirigir um caminhão grande como aqueles. Era pela falta de discernimento dessas pessoas que acidentes aconteciam todos os dias. 

- Aceita uma dose, gatinha? – perguntou um deles, me lançando um sorriso de dentes amarelos. 
- Eu agradeço, mas não, obrigada. – me virei para pegar outras duas cervejas para servir na mesa doze. 
- Você deve ser a famosa dama de gelo do bar – disse o outro homem, dando uma risada grotesca. 
- Eu não sou dama nenhuma meu senhor. – respondi dando a volta no balcão e indo atender a mesa com as cervejas em cada mão. Caminhei para o canto escuro e coberto por uma nuvem de fumaça onde ficava á doze e um sentimento ruim abateu meu coração, apertando-o de maneira dolorosa. 
Deposite as cervejas na tampa de madeira e levantei os olhos para dois homens que eu reconheci logo de cara. Eram os mesmos que estiveram aqui semanas atrás e tentaram me apalpar. 
Prendi a respiração quando o mesmo que havia me tocado me lançou um sorriso malicioso e se levantou, caminhando em minha direção. Recuei rapidamente para trás, chocando minhas costas á alguém. Olhei para trás e o homem que estava sentado no balcão do bar, á quem eu havia servido a dose de pinga, bloqueava a minha passagem com o mesmo sorriso que o outro. Suas mãos calejadas e sujas de graxa seguraram meus braços com força, enquanto o outro parava á minha frente. 

- Ora, ora... Olha quem resolveu aparecer! Eu estava com saudades, sabia? 
Não tentei responder, sabia que o medo tinha tomado cada parte do meu corpo e minha voz sairia tão tremula que não formaria palavras concretas. 
Respirei fundo, tentando achar ar puro em algum canto daquele ambiente e juntei toda a minha coragem para, na hora certa, gritar por Tobias, o segurança do bar. 
- Pelo visto, o gato comeu a lingua dela, João... – o homem que me segurava por trás passou o nariz no lóbulo da minha orelha, fungando como um porco. A bile subiu até a minha garganta com aquele gesto e o vômito quase saiu junto ao meu grito quando ele cravou os dentes com força na minha orelha. 
Senti o líquido quente escorrer pelo meu pescoço á baixo, pingando gotas vermelhas em minha regata branca. 
- Doeu, lindinha? Desculpe. – sua voz soava debochada enquanto ele passava para minha outra orelha. Mais uma dentada forte e mais pingos vermelhos em minha blusa. 
As lágrimas pularam pelos meus olhos, caindo como uma cascata pelas minhas bochechas. 
- Oh meu Deus, ela está chorando! Então não é tão gelada como aparenta ser... – João disse com um sorriso de orelha á orelha pregado no rosto nojento. – Vamos descobrir agora se ela é tão frígida como parece. – sua mão agarrou minha intimidade com força, movimentando os dedos com força no meu jeans, machucando-me. 
- Não me toque! – berrei com a maior força que pude, minhas pernas parecendo acordar com meu grito e movimentando-se violentamente, acertando em cheio as partes baixas do homem á minha frente. 
- Desgraçada! – uivou de dor, enquanto se curvava tremendo. – Eu vou acabar com você. 

Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora