Capítulo 2 - A lágrima que escapou
Snape já estava apropriadamente acomodado em sua cadeira ao lado de Dumbledore, seu café da manhã estava a sua frente, mas permanecia intacto. Sua fome desaparecera enquanto pensava em Harry Potter e em seus olhos apagados, olhos vazios que adentravam o salão principal e se dirigiam abaixados até a mesa ao lado de seus amigos. Não passou despercebido pelos olhos de Snape o fato do menino ainda mancar e fazer caretas de dor. E por que esse fato agora incomodava tanto o professor? Tanto que sentia até mesmo raiva ao ver o prato de comida do menino intocável como o seu, e seus amigos conversando um com o outro sem nem ao menos percebê-lo. Por que isso o deixava tão incomodo?
Com certeza era apenas pelo fato de estar distraído nesse momento, somente isso.
- Espero que esse pirralho tenha forças e energia para prestar atenção nas minhas aulas. – Falou para si.
A primeira aula daquele dia era dupla Grifinória e Sonserina, a aula que Snape mais gostava de dar ao mesmo tempo em que odiava. Aguentar os grifinórios não era uma tarefa fácil, mas pelo menos os seus sonserinos lhe davam a chance de tirar pontos da outra casa. Como sempre quando Snape chegou à sala os alunos já estavam em seus lugares.
- Silêncio.
Era uma ordem desnecessária, visto que os alunos nem respiravam direito.
- Hoje vocês prepararão uma simples poção de limpeza, as instruções estão no quadro e os ingredientes no armário, prestem muita atenção, pois os ingredientes errados colocados na hora errada e da maneira errada podem deixar o caldeirão instável e como temos muitos caldeirões nessa sala, demorariam um ano inteiro para recolherem todos os pedaços de nossos corpos. – Ele olhou para os alunos, alguns estavam paralisados, outros assustados e Neville tremia.
- O que estão esperando? Que eu entregue os caldeirões em suas mãos?
Ao ouvir o professor falar no seu costumeiro mau-humor todos se levantaram e começaram a pegar seus itens no fim da sala. Um de cada vez os sonserinos voltaram aos seus lugares e deixaram os grifinórios buscarem seus utensílios. Snape que estava sentado atrás de sua mesa viu que Potter continuava sentado e que a irritante sabe tudo Granger trazia não somente suas coisas como as de Potter.
- Senhor Potter, será que é tão importante assim para transformar sua amiga em um elfo doméstico? – Zombou o professor junto com risos dos sonserinos. – Ou será que é preguiçoso demais? Dez pontos a menos para a Grifinória.
Hermione que havia parado no meio do corredor com um caldeirão em cada mão não pôde se conter e disse em alto e bom som.
- O senhor não pode nos tirar 10 pontos só porque eu fiz um favor ao Harry, nós não temos culpa que o senhor não tem amigos para lhe fazer favores!
A sala estava completamente em silêncio, todos estavam espantados, ninguém tinha enfrentado o morcegão das masmorras. Hermione soltou os caldeirões ao ver o professor avançando em sua direção com a pior expressão que ela já viu, parecendo um cão raivoso que estava prestes a lançar um Avada Kedavra a qualquer momento, percebendo o que fez ela recuou o máximo possível até que a parede a impediu. Snape chegou tão perto que ela pôde ver nitidamente os dentes amarelos do professor.
- Dez pontos a menos pela senhorita buscar as coisas do seu amigo, vinte pontos a menos por ter respondido à um professor e uma detenção de uma semana para a senhorita aprender que quem manda nessa sala sou eu. Eu digo o que pode e o que não pode dentro dessa sala de aula. Apresente-se ao senhor Filch para sua detenção, pois não tenho a menor vontade de ficar olhando para a sua cara uma semana inteira, entendeu?
Hermione não respirava e apenas balançou a cabeça.
- Agora limpe esse rosto, não quero nenhum bebê chorando na minha aula, pegue suas coisas e coloque em sua mesa, e pegue o resto e coloque de volta ao armário, o senhor Potter irá buscar as coisas dele. – Snape se virou e viu o garoto o perfurando com os olhos, depois olhou para a sala, o tempo parecia ter parado. – Estou vendo que vocês estão com dez minutos a menos para preparar minha poção, quero essa poção pronta em trinta minutos.
Todos começaram a fazer sua poção imediatamente prestando atenção em cada palavra do quadro, não queriam errar, era o terceiro dia e já haviam visto a cólera do Snape suficiente para uma semana.
- Sr Potter pode ir buscar suas coisas no armário.
Harry, que permanecia calado e apenas fuzilava o professor com os olhos, fez um esforço para se levantar e ainda mancando se dirigiu até o armário, o caldeirão era pesado e ao voltar Harry quase caiu de cara no chão, o professor que ainda estava parado no mesmo lugar o segurou pelo braço impedindo que ele caísse, mas imaginou que tivesse apertado o braço forte demais, pois o garoto gritou de dor e ele pôde ver uma lágrima caindo pelo canto de seus olhos, uma lágrima que ele rapidamente limpou com a manga das vestes.
- É melhor o senhor ir a Ala Hospitalar, não quero vê-lo derrubando os caldeirões todas as aulas.
- Eu estou bem senhor, não irá se repetir.
- Eu espero. – Falou entre os dentes.
Durante a aula Snape não conseguiu se concentrar em corrigir aos trabalhos em sua mesa, sua mente sempre o levava até a mesa do grifinório sentado ao lado do ruivo. Os minutos passaram e ninguém falou nada, felizmente ninguém explodiu nada, porém a única que conseguiu fazer a poção corretamente foi nada mais nada menos que Hermione Granger. O sinal tocou e todos começaram a guardar os materiais o mais rápido que conseguiam, todos queriam sair da sala do Snape.
- Sr. Potter permaneça na sala, o resto está dispensado. – Disse olhando diretamente para Rony e Hermione.
- Vão, encontro vocês depois. – Disse Harry.
Snape fechou a porta depois que Hermione e Rony saíram e se virou lentamente para ver Harry ainda sentado na mesma posição. Aproximou-se devagar e ficou olhando o garoto com uma sobrancelha levantada, ele ainda estava abatido e tinha olheiras fundas, parecia mais magro também. Como desejava que não tivesse percebido esses detalhes no menino.
- O professor Dumbledore me incumbiu de lhe ensinar Oclumência. Sabe o que é isso?
O menino fez que não com a cabeça.
- Eu já imaginava, oclumência é arte de fechar a mente, parece que a sua amiga Granger avisou a professora McGonagall sobre seus pesadelos à noite e sobre o que o senhor vê referente ao Lord das Trevas. O Lord ainda não deve saber dessa ligação, e esperamos que ele não saiba durante um tempo, porém se ele souber poderá entrar, ler, controlar, destruir a sua mente, isso será uma arma para ele.
O garoto estava de olhos arregalados ouvindo com atenção.
- Eu irei ensiná-lo a fechar a mente, por isso teremos aulas todos os dias às dez horas em ponto, não tolero atrasos entendeu? Essas aulas são secretas, então espero que fique de bico calado.
- Sim senhor. – Respondeu sem nenhum interesse. - Quando começa?
- Hoje à noite, esteja na minha sala às dez horas. Dispensado.
Harry colocou a mochila nas costas com certa dificuldade e saiu da sala novamente mancando. Snape achou aquilo estranho, por que o menino não ia até a enfermaria? Madame Pomfrey cuidaria disso com uma simples poção e um repouso de apenas algumas horas, se pegou pensando nisso durante um tempo, mas foi distraído pela entrada dos alunos da Corvinal e Lufa Lufa.
Por um momento pensou que conseguiria se concentrar nessa aula já que Harry já havia saído, mas se enganou, novamente teve que deixar os trabalhos para corrigir mais tarde, pois tudo que vinha na sua cabeça era a imagem do menino caindo ao carregar o caldeirão e sua lágrima escorrendo pelo canto do olho.
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As Coincidências de Nossas Vidas (Severitus)
RomanceSeria Harry Potter capaz de amolecer o coração do Temível Severus Snape após descobrir que suas vidas não são tão diferentes assim? E seria Severus Snape capaz de proteger Harry Potter dos males que o cercam? Tudo se inicia com a troca de um diário...