Cansaço

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Capítulo 23 - Cansaço

Harry sentiu o coração estourar dentro do peito. Era como se toda aquela sala começasse a diminuir, diminuir tanto que seu corpo era esmagado por elas. O ar escapou de seus pulmões e não voltou, ele não sentiu o coração voltar a bater, estava morto, morto por dentro, enterrado em desgraça. Seus olhos desfocados encheram-se de lágrimas, lágrimas que ele não percebeu derramar, lágrimas de luto. Uma mão foi levada ao cabelo bagunçado e suas pernas tremeram, seu chão sumiu e tudo escureceu.

Era inútil puxar seus cabelos como estava fazendo naquele momento, aquela mínima dor infligida em seu corpo não faria sumir a dor que agora crescia devagar em sua alma. Abriu a boca no intuito de gritar, mas nada saiu. Apenas o choro era ouvido. A sala rodava e os olhos verdes acompanhavam causando lhe enjôo. Seu estômago não foi capaz de segurar o café da manhã preparado carinhosamente por Dobby. Agora seu estômago estava vazio, porém seu coração estava mais ainda.

Hermione foi ajudá-lo. Usou um feitiço para limpar a sujeira e tentou chegar perto do amigo.

- Harry se acalma.

- Não cheguem perto de mim!

- Não faz isso Harry, queremos ajudá-lo.

- Me ajudar? Me ajudar? Vocês passaram dois dias mentindo para mim, diziam que estava tudo bem e, no entanto, estava tudo errado. Sirius morreu, meu padrinho morreu. O único homem que um dia se importou comigo está morto.

- Isso não é verdade, Potter – Disse McGonagall que até agora permanecia calada – Todos aqui nos importamos com você.

- Harry. – Chamou Dumbledore. – Todos aqui se importam com você, com sua saúde, com a sua felicidade.

- MENTIRA! – Gritou sem aguentar mais segurar a raiva que estava sentindo de todo mundo. – O único homem que um dia se importou comigo foi Sirius. Nenhum de vocês nunca ligou para o que acontecia comigo, nunca recebi uma palavra amiga, uma que confortasse após ser espancado pelos meus tios.

- Acalme-se rapaz.

Todos iam em direção ao garoto menos Snape que permanecia no mesmo lugar apenas ouvindo o menino. Harry tinha razão em ficar bravo com todos aqueles bajuladores. O menino era mais do que espancado em casa e ninguém lhe ajudava. Talvez Sirius pelo menos o escrevesse de vez em quando e ainda que não soubesse o que acontecia, provavelmente as palavras do animago ajudavam o menino a superar os momentos mais intensos que passara. Às vezes apenas a palavra amiga é o que mais se precisa. Snape sabia disso.

- Não cheguem perto de mim. – Gritou novamente ao perceber que todos se aproximavam.

Dumbledore pousou a mão no ombro do menino o que o fez sentir mais raiva ainda, aquela mão parecia como uma descarga elétrica em seu corpo.

- NÃO! - Gritou Harry antes de sair correndo sem olhar para trás.

Os alunos que estavam no corredor saiam da frente e os quadros exclamavam horrorizados pela falta de tato e educação do estudante grifinório que corria pelos corredores não se importando com quem estivesse pela frente.

Harry queria rasgar todos os quadros, empurrar cada estudante, quebrar as armaduras.

As escadas pareciam longas demais, era como se corresse e jamais chegasse a algum lugar. Não olhou para trás, não ligou para nada e nem mesmo para os gritos de Snape o chamando enquanto corria atrás dele, não queria saber de ninguém, não queria saber de nada, não importava mais quem estava vivo ou quem estava morto, nem sua própria vida importava mais.

Atravessou a porta da entrada e disparou pelo jardim escorregando algumas vezes no gramado molhado. Ele não podia parar, seu objetivo estava logo adiante. Um raio de sol ofuscou seus olhos quando se jogou no lago negro. Nem mesmo a água gelada pelo frio intenso do inverno lhe fez sentir menos dor. Nadou até o fundo e mergulhou sem voltar.

As Coincidências de Nossas Vidas (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora