Tornando-se um só

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Capítulo 15 - Tornando-se um só

Snape não se surpreendeu quando não avistou um sorriso de surpresa no rosto de Dumbledore e sim aquele maldito sorriso de quem já sabia que aquilo iria acontecer. Dumbledore sempre sabia de tudo. Um dom extremamente irritante.

- Eu sabia que você faria a escolha certa. – Disse Dumbledore sorrindo e levantando-se. – Vamos, acompanhe-me até a Ala Hospitalar.

Enquanto caminhavam à passos rápidos em direção à ala hospitalar Dumbledore explicava em mínimos detalhes o que poderia ocorrer dentro da mente de Harry e como Snape deveria ter cuidado, pois a mente de Harry poderia agir de várias formas, inclusive não o reconhecendo, as vezes não reconhecendo a ele mesmo. Snape só se reservava a murmurar um sim de vez em quando e a balançar a cabeça indicando que estava prestando a atenção quando na verdade estava mais preocupado em chegar logo do lado do leito de Harry. Sentia o desespero apertar cada vez mais em seu coração.

Será que conseguiria trazê-lo de volta?

E se não conseguisse?

E se falhasse?

Não. Ele não podia se prender nessas possibilidades de falha, sua cabeça explodiria dessa forma. A porta da ala hospitalar estava logo adiante e Dumbledore a abriu como se nada aterrorizante esperasse do outro lado. Mas Snape hesitou por um leve segundo que não escapou dos olhos sábios do diretor.

- Não tenha medo, Severus.

Snape o olhou por apenas um segundo antes de murmurar "medo do que?" e adentrar o recinto já ocupado por Hermione e Rony devidamente sentados nas cadeiras duras de madeira ao lado do leito dele.

Ele.

Quando esteve mais cedo naquele mesmo lugar não tinha olhado direito para seu corpo, tinha apenas ignorado e prestado atenção ao que os outros grifinórios diziam. Mas naquele momento não tinha ninguém falando e Hermione teve a delicadeza de puxar Rony para longe da cama de Harry, cama da qual Snape se aproximava cada vez mais.

Era tão estranho lhe ver assim tão pálido, tão parado, tão morto.

Por um único momento todos a sua volta pareceram sumir e eram somente ele e Harry agora, eram apenas suas almas, seus corações conectados de uma forma única e assustadora. Mas a voz baixa de Hermione o trouxe à realidade fazendo-o ficar surpreso ao ver a própria mão afastando os cabelos pretos dos olhos verdes fechados.

Ele não afastou a mão dali.

- Diretor, vocês vão salvar o Harry, não vão?

A pergunta de Hermione foi carregada de medo e seus olhos estavam molhados pelas lágrimas que já estavam caindo por seu rosto corado e sumindo por dentro de sua camisa, Snape sabia o trajeto das lágrimas, pois seus olhos estavam presos nela, tão presos que sentiu uma raiva ao ver as mãos imundas de Rony afagarem as suas costas enquanto a abraçava.

Parecia que um monstro estava despertando lentamente dentro de Snape.

- Calma minha criança, nós conseguiremos sim, se tudo der certo traremos nosso Harry de volta. Por sorte o professor Snape aceitou nos ajudar.

Hermione não tinha olhado para Snape até aquele presente momento e quando o fez não pôde evitar sentir o arrepio que percorreu sua espinha e que nada tinha haver com a mão de seu namorado posicionada na base de sua coluna. Eram aqueles olhos, aqueles olhos negros e carregados de mistério, aqueles olhos que pareciam ler suas emoções, dominar seu corpo e invadir sua alma, aqueles olhos que traziam um misto de raiva e desconcertamento.

O que estava acontecendo entre eles? Hermione se perguntou antes de abrir a boca para tentar falar algo, mas calou-se quando percebeu que não conseguiria falar nada, não ali, não naquele momento, mas ele sabia, sabia que ela estava agradecendo a ele silenciosamente ao olhá-lo.

- Severus, você tem certeza? Uma vez lá dentro não há como voltar. – Perguntou Dumbledore fechando a porta da ala.

- Sim, eu tenho certeza.

Nunca teve tanta certeza em sua vida.

- Então vamos começar logo. Severus preciso que se deite nessa cama ao lado de Harry e a partir de agora você faz somente o que eu mandar.

- Como se eu já não fizesse isso.

- E a primeira coisa que vou pedir é que fique calado.

Snape sentiu um prazer gostoso lhe atingir o estomago quando Hermione bateu no braço de Rony após o mesmo tentar esconder a risada.

- Agora Severus segure a mão de Harry, para o feitiço funcionar tem que ter a união dos dois corpos.

Snape estendeu a mão direita e pegou a pequena mão de Harry sentindo-a gelada, sem vida. Em um reflexo apertou-a como se tivesse medo que o menino fugisse mesmo sabendo que não era possível.

- Lembre-se que ele pode não o reconhecer, não saber quem você é, então sugiro que seja totalmente sincero com ele, não omita nada, conte toda a verdade à ele, TODA a verdade Severus, você tentará ser amigo dele e amigos são sinceros.

Snape assentiu com a cabeça pensando como conseguiria fazer a proeza de se aproximar da pessoa que tanto tentou afastar. Que ironia do destino, que grande armadilha da vida. Não podia negar que estava muito nervoso, isso era visível no suor que molhava sua testa e em seus olhos que piscavam a todo momento. Fora isso qualquer desatento pensaria que Snape era mais um corpo morto na ala hospitalar

- Boa sorte Severus, vá, faça o que tem que fazer e volte para nós, volte para Hogwarts, para seus alunos e para aqueles que o amam. – Dumbledore parecia calmo, mas por dentro estava mais nervoso do que onça enjaulada, temia por Harry, temia por Severus, não aceitaria perder seus dois protegidos. – Agora feche os olhos.

Snape respirou fundo e antes de fechar os olhos, antes de mergulhar no escuro, avistou Hermione no fundo da sala parecendo prender a respiração, ela o olhou de volta e uma lágrima traiçoeira escapou-lhe dos olhos. Uma lágrima por ele.

- Feche os olhos Severus.

Foi difícil deixar de olhar para ela, mas a mão pequenina segura embaixo da sua lhe lembrou o seu objetivo, lembrou-lhe o por que ele estava ali deitado, o porque estava arriscando sua vida.

Harry.

A varinha de Dumbledore encostou levemente em sua testa e Snape sentiu o feitiço da magia atingir seu corpo.

- Amenomenti.

Depois sentiu encostar em seu peito.

- Amenocor.

Ouviu o diretor repetir as mesmas palavras encostando na testa e no peito de Harry e então sentiu a ponta da varinha encostar em sua mão que estava apertando a do menino.

- Amenouni.

A sensação era como se uma gosma gelada o envolvesse, começando pela mão e cobrindo o restante do corpo, aquela sensação era desconfortante e dolorida. Snape arqueou o corpo jogando a cabeça para trás e apertando os dentes. Sentiu cada musculo de seu corpo endurecer.

- O que está havendo com ele? – Conseguiu ouvir a voz de Hermione questionar.

- O professor Snape está "saindo do seu corpo" e se unindo a mente de Harry, esse processo é um pouco dolorido.

Se Snape tivesse forças para revidar teria gritado com o diretor. Aquilo não era um pouco dolorido, era muito dolorido, era como se sua pele estivesse se desgrudando de seus músculos, como se seus ossos estivessem quebrando em mil pedaços, como se ele estivesse morrendo. Mas foi só quando a sensação de congelamento começou que Snape gritou. Não havia mais dores, mas aquilo era pior, muito pior, agora ele não sentia nada. Seu corpo não estava mais em seus domínios, não podia mais senti-lo. Agora era como se seu corpo estivesse sendo molhado, imerso em um oceano gélido.

A sensação subia cada vez mais por seu corpo até que finalmente atingiu seu coração, desacelerando-o, fazendo-o bater mais devagar, fazendo-o parar. Ele estava morrendo.

Mas então por que aquela sensação continuava a subir? Porque estava agora em seu pescoço, rodeando sua cabeça e entrando por sua boca deslizando-o por um túnel sem fim?

Ele estava morto, não estava?

A experiência tinha dado errado, não conseguira salvar Harry como pensara que conseguiria.

Falhara com ele.

As Coincidências de Nossas Vidas (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora