A solidão de Harry

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Capítulo 3 - A solidão de Harry

Harry caminhou lentamente até o seu quarto que ficava em umas das torres do castelo, as escadas eram o empecilho mais difícil para ele e quando finalmente chegou ao retrato da mulher gorda, uma gota de suor escorria ao lado de seu rosto.

- A senha, por favor.

- Seminviso.

- Exatamente. – Dissera a mulher gorda antes de rodar o quadro e permitir a entrada do menino.

O salão comunal da Grifinória não era grande e nem tão pouco luxuoso como o da Sonserina, mas era extremamente confortável e acolhedor. Os alunos adoravam descer após o banho e sentar-se perto da lareira com os amigos jogando conversa fora enquanto as chamas crepitavam esquentando-os. Toda a decoração era vermelha, as poltronas, as cortinas e até mesmo as toalhas de mesa assim como os lençóis e cobertores nos dormitórios. Não havia muitos quadros na sala comunal e os que tinham viviam saindo para visitar outros quadros dentro de Hogwarts ou ficavam rindo das palhaçadas de Fred e Jorge Weasley assim como do seu fiel escudeiro Lino Jordan. Harry não podia negar que o trio parada dura da Grifinória era realmente engraçado, mas naquele dia, assim como em vários outros, as piadas deles não tinha mais o mesmo efeito no menino. Alguns alunos estavam juntos em uma mesa com os gêmeos e Lino, riam alto e pareciam se divertir enquanto Harry entrava devagar e avistava seus amigos em uma poltrona de canto. Rony apertava Hermione de um modo que parecia que jamais iria ver a menina, mas o ruivo era tão grudado em Hermione que era impossível que não soubesse a hora que ela iria ao banheiro de noite. Harry percebia que a amiga algumas vezes ficava brava e chateada com o ciúme possessivo de Rony, fazia pouco tempo que os dois namoravam e Hermione já buscara Harry para desabafar sobre as brigas duas vezes. Harry sempre a ouvia e até mesmo aconselhava de certo modo, mas o sentimento de solidão que se instalou em seu peito depois do anúncio do namoro foi tão grande que ele receava dizer algo que comprometesse o namoro dos dois.

Somente quando Harry bateu sem querer na mesinha de centro que Rony e Hermione perceberam que o amigo estava na sala. Hermione levantou-se depressa e se sentou no sofá grande chamando Harry para sentar-se ao seu lado querendo saber o que havia acontecido na sala de Snape.

- O que o professor queria com você? Ele não te deu uma detenção, não é?

Harry olhou bem para os olhos castanhos de Hermione e lembrou-se dos vários momentos em que eles estiveram ao seu lado, sempre lhe apoiando e por um momento pensou em contar sobre as aulas, mas a voz de Snape ecoou dentro de sua cabeça.

"Isso é segredo"

- Deu. – Mentiu desviando o olhar. - Eu terei detenções com ele todos os dias por um tempo, sempre as dez horas da noite.

- Que injustiça! – A amiga gritou em plenos pulmões. – Ele não pode fazer isso, vá falar com Dumbledore.

- Não adianta, o Dumbledore concordou. – Mentiu sabendo que a amiga não descansaria até ver o amigo falar com o diretor ou ela mesma fazer isso.

- Não acredito nisso. Mas tudo bem, eu tenho um assunto mais sério para tratar com você.

- O que? Fala rápido, por favor, quero subir e tomar um banho.

- Harry o que você tem? – Baixou a voz para que ninguém mais ouvisse - Você está sempre com dores, mas não vai a ala hospitalar, não se alimenta direito, vive abatido, estou preocupada com você.

- Não é nada Hermione. – Respondeu rispidamente. - Eu não quero falar sobre esse assunto está bem, mas é sério eu estou muito bem. Vou tomar meu banho.

Harry deu as costas aos amigos e subiu para seu dormitório que no momento estava vazio, o que foi bom para ele já que seu rosto era completa fúria. Como Hermione se atrevia a vir perguntar o que ele tinha agora, somente agora! Passara dias na casa dos Dursley sem uma única carta, e nos dias em que estava na escola não ouviu uma única frase de preocupação e somente agora ela vem perguntar? Harry não conseguia se aguentar em pé de tanta raiva e dor por ter subido rápido os degraus que levam ao dormitório dos meninos.

Precisava descansar e relaxar. E a melhor coisa naquele momento era tomar um banho demorado. Aproveitando que não tinha ninguém no quarto e provavelmente iriam demorar Harry se trancou no banheiro e se preparou para uma tortura pessoal a qual já estava, de certa forma, acostumado. Suas roupas foram postas em um banquinho ao lado da banheira e a mesma enchia-se de água com sais de banho.

Harry sentou-se no vaso sanitário e devagar tirou a capa, depois o suéter e por último a camisa. Bem em frente tinha um grande espelho no qual Harry se olhava atentamente com olhos vazios e angustiados. Era um menino de quinze anos, mas parecia ter apenas doze, era magro demais e franzino, não era possível ver qualquer vestígio de músculos em seu corpo. Mas não era a sua estrutura que Harry via, não era a sua magreza que o deixava incomodado eram os hematomas roxos no lado esquerdo, bem em suas costelas, assim como também as marcas de unhas que se afundaram em sua pele. Eram as marcas do seu sofrimento, as marcas físicas. Passou a mão delicadamente por cima do corte em seu tórax e depois em algumas cicatrizes mais antigas espalhadas por todo seu peito, braços e pescoço.

Com um suspiro fundo Harry retirou a calça e analisou com cuidado seu joelho. Parecia que um balaço havia batido várias vezes no mesmo lugar deixando-o com o tamanho de uma bola e roxo como a cor das blusinhas que Hermione usava. A banheira já estava quase transbordando quando o menino entrou derramando um pouco d'água no chão. Os sais de banho relaxavam seu corpo e a essência de ervas curativa lhe deixava com menos dor, mas nada era bom o suficiente para lhe tirar o peso no peito, as lembranças, os medos e anseios. Nada.

As Coincidências de Nossas Vidas (Severitus)Onde histórias criam vida. Descubra agora