5. Gabi

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Sentei novamente e tentei manter a calma que lutei para encontrar no minúsculo banheiro da aeronave momentos antes. Joguei água no rosto, como se isso fosse me acordar do transe em que eu parecia estar. Meu equilíbrio recobrado durara pouco. Assim que retornei, aquele homem me encarou com aquele olhar intenso... Quase predatório. Meu corpo inteiro reagiu, como se estivesse entrando em combustão. Até mesmo o ar parecia estalar entre nós, pela eletricidade.

Ele não é pra você. Ele grita perigo. Não ceda, Gabi. Não ceda.

Fiz uma careta ao pensar nisso. Minha mãe com certeza me repreenderia dizendo que ninguém estava acima dos filhos dela. Sorri. Mas com certeza aquele homem rico e deslumbrante ao meu lado devia ser bem seletivo. Com certeza escolhia apenas modelos de beleza, as mais estonteantes. As beldades de seu meio. E eu? O que eu era? Uma mulher simples e não tão bonita que não se encaixava nessa categoria. Nem de longe. Esse desejo louco ou que fosse lá o que eu estava sentindo era fruto da minha imaginação.

Uma onda de mortificação me atravessou, fazendo-me sentir calor e frio ao mesmo tempo. Eu estava projetando as fantasias patéticas em meu subconsciente ridículo no homem que teve o azar de ser posto ao meu lado naquele voo?

Ouvi-o limpar a garganta e tive medo de olhar. Podia senti-lo encarando-me. Com um desejo doentio de saber até onde ia minha própria ilusão, virei a cabeça e encarei aquele par de olhos negros e profundos. Como águas profundas e perigosas.

– Não... – disse ele rouca e intimamente. – Não me chame de sr. Jordan novamente. Isso me faz sentir um velho. Pode me chamar de Aaron.

Eu não sabia o que pensar, muito menos o que falar. Então senti o avião sacolejar e de alguma forma, consegui responder:

– Vamos aterrissar logo. E provavelmente não vou vê-lo de novo, então isso realmente não importa.

– Não tenha tanta certeza.

Eu pisquei. Meu coração batia forte contra o peito.

– O que você quer dizer com isso?

– Vou levá-la para jantar esta noite.

Tive duas reações contraditórias. Meu coração deu um salto de ansiedade, mas minha cabeça dizia: Perigo!

Perigo! Ele era definitivamente arrogante, e eu odiava deixar transparecer que mesmo uma parte pequena de meu ser estava tentada a aceitar. Um homem como ele? Ele me comeria viva no jantar e, depois de uma aventura de uma noite só, me desprezaria sem pensar. Para um homem como aquele, eu era um interesse passageiro.

Talvez a falta de ar e o confinamento da classe econômica tivessem mexido com a cabeça dele. Talvez estivesse entediado, e eu o intrigasse por ser tão diferente de seu tipo usual de mulher.

Cruzei os braços e estreitei os olhos. Ele enrijeceu o queixo, como se estivesse se preparando para uma luta, e algo dentro de mim estremeceu antes de derreter-se.

– Isso soou como uma ordem, e não como um convite.

A verdade era que eu me sentia ameaçada pela investida dele. Embora achasse que estava certa sobre as motivações dele, uma parte bem grande de mim queria jogar-me em seus braços e dizer sim. Poderia apostar que nenhuma mulher havia sido louca o bastante para rejeitá-lo.

Mas eu nunca tinha feito aquilo. Nunca me entregara a nenhum homem por uma noite apenas, por uma aventura. Sempre tive namorados. Disse a mim mesma que jamais aceitaria tal coisa, que me valorizava demais, mas sabia lá no fundo que, na verdade, estava com medo do quanto aquele homem me afetava. Uma noite jamais seria o suficiente. Eu sabia. Eu sentia. E aquilo me assustava.

Eu sempre fui uma pessoa responsável e cautelosa por natureza, avessa a atos espontâneos como aquele.

Ele ficou calado e eu me voltei ao meu livro. Era melhor me concentrar em Anne e Frederick que naquela incógnita que era Aaron Jordan.

Um tempo depois a comissária apareceu e disse algo muito baixo para Aaron Jordan, mas eu não consegui entender.

- Parece que vamos mesmo jantar hoje.

Não deu tempo nem de eu processar o que ele estava dizendo, logo ouvi a voz do piloto.

- Senhores passageiros, aqui quem fala é o seu piloto: James Wilson . Infelizmente fui avisado pela Torre que uma nevasca se aproxima o que nos renderia muita turbulência. Para nossa segurança, pousaremos em Richmond Airoport, no estado da Virginia. Chegaremos em Richmond às 19 horas e 50 minutos, horário local, e a temperatura é de quatro graus.

Eu não conseguia processar mais nada. Eu não estaria em casa àquela noite, mas eu um lugar desconhecido e sozinha. Olhei para Aaron Jordan e ele me encarava com aquele olhar arrogante e sorriso sedutor.

- Mas não se preocupe, eu não mordo. A não ser que você queira.

Minha razão gritava "não", mas meu coração suspirava "sim".

Preconceitos (em ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora