Eu estava deitada com a cabeça no peito de Aaron. Exausta do sexo recém feito. O sexo, como sempre, delicioso. Aqueles dias estavam sendo incríveis. Todos os dias acordava com ele e logo nos rendíamos ao prazer do sexo. Eu ia trabalhar e meus pensamentos estavam com ele durante todo o dia. Ele me levava e buscava do trabalho todos os dias. Terminávamos o dia sempre da mesma forma que tínhamos começado.
- Posso te perguntar algo?
- Eu tenho escolha? - eu ri e olhei-o.
- Não, sr. Jordan. - ele sorriu de volta.
Voltei a encostar a cabeça em seu peito e minha mão começou a deslizar em sua barriga, como um carinho.
- Como é a sua mãe? - ele gargalha.
- Minha mãe era o último assunto que eu esperava depois de uma boa foda.
Aquilo fez meu coração parar. Por sorte ele não podia ver meus olhos, pois assim enxergaria que aquilo me magoou. Mas era isso que estávamos fazendo. Fodendo.
- Ela parece com você? - minha voz saiu um pouco entrecortada, mas creio que ele não percebeu.
- Minha mãe é uma mulher admirável. Ela cuidou de mim e da minha irmã sozinha.
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- Eu e minha irmã, Malika, praticamente não a víamos durante a semana. Ela trabalhava incansavelmente para nos sustentar, para nos dar uma vida digna e uma oportunidade para alcançarmos nossos sonhos.
- Ela foi mãe solo. - afirmo, mas sinto-o assentir e seu corpo se retrair.
Lembro que Aaron comentou que o pai os deixara por uma mulher rica.
- Quando aquele maldito nos deixou, eu tinha três anos e Malika era apenas um bebê. - ele fala cheio de ressentimento.
- Vocês têm contato hoje em dia?
- Não, ele morreu há dois anos. Parada cardíaca. Quando ele soube que eu tinha enriquecido, foi me procurar. - ele deu um sorriso amargo. - Eu o mandei embora como fez na primeira vez. - ele falava com tanto ódio que meu corpo pareceu esfriar. - Que aquele maldito apodreça no inferno.
Aquilo era muito triste. Eu cresci com meu pai. Um pai amoroso, cuidadoso. Um pai que amava a minha mãe. Um pai que sempre proveu tudo, desde do financeiro ao emocional. Olhei pra ele e Aaron pareceu não gostar do que viu, pois franziu o cenho, irritado.
- Eu sinto muito.
Aaron se levantou da cama e aquele homem nu era a perfeição, uma estátua de Michelangelo.
- Eu não preciso da sua pena. - fala com raiva enquanto veste uma calça moletom.
Ele me encarou.
- Eu cresci muito bem sem ele. Hoje eu tenho tudo o que ele sempre sonhou, mas buscou alcançar da forma errada. Eu não.
- Eu não estou com pena de você, Aaron. - tento me defender, mas era exatamente isso que eu sentia. Pena do menininho que ele foi. - Apenas sinto que você tenha crescido sem pai, mas que bom que sua mãe supriu essa carência. Você hoje é um homem bem sucedido.
- Que porra você tá falando, Gabrielle? - ele fala mais alto. - Carência? Aquele projeto de pai não me deixou carência nenhuma.
Eu fico sem saber o que falar, muito menos fazer. Pareço uma estátua. Dura. Fria.
- Desculpe. Não quis te ofender. Não precisa ficar assim. - por fim falo, mas minha voz sai trêmula. - Seu pai...
- Aquele filho da puta não é meu pai. - ele grita.
Ele anda de um lado pro outro daquele quarto. Pego o lençol e cubro minha nudez levantando-me da cama.
- Não se atreva a gritar comigo. - grito de volta. - Desculpa falar dele. - tento me acalmar. - Não imaginei que você tivesse tanto ressentimento do seu pai.
- Não venha tentar me analisar. Você não é ninguém pra isso. - aquilo doeu mais do que eu poderia prever.
Ele olha bem no fundo dos meus olhos e me lança um olhar gélido.
- Você é apenas uma boa foda. Nada mais.
Meu coração para. Mas era exatamente isso que éramos: uma boa foda. Mesmo assim doeu. E muito.
- A sua boa foda acabou.
Entro do banheiro tentando levar comigo minha dignidade. Tranquei-me e chorei. Chorei baixinho pra ele não ouvir. Enquanto chorava, eu tentava não sucumbir à dor. Nós nos conhecíamos há apenas uma semana, então por que doeu tanto ouvir àquelas palavras? Então eu me lembrei do que minha mãe falou logo depois da partida de Ian e, em lágrimas, eu disse que nunca mais na minha vida amaria ninguém: "O seu coração reconhecerá o amor, meu anjo. Mesmo que você não o procure, ele aparecerá pra você quando menos você esperar."
Mas a única coisa que sentia era ódio de mim mesma, por ter me entregado àquela fantasia. Eu queria apenas uma noite de início e, então, quis mais... Eu esperava de alguma forma que ele fosse sentir o mesmo por mim. Ignorei totalmente meu instinto de autoproteção desde Ian.
Aqueles pensamentos me deixaram nauseada e eu corri pro vaso sanitário. Vomitei tudo o que tinha em meu estômago. Com amargura, chorei mais uma vez porque pra ele eu não era ninguém, era apenas uma boa foda.
Não sei quanto tempo fique ali, chorando e sentindo pena de mim mesma. Então tentei arrancar forças de não sei onde e me levantei. Tomei banho e saí do banheiro enrolada numa toalha. Por intervenção divina, Aaron não estava ali. Coloquei uma roupa e arrumei minhas coisas. Saí do quarto e fui em direção à sala. Ele estava sentado com um copo de bebida na mão. Olhou-me como se eu não fosse nada. Seu olhar estava vazio.
- Estou indo embora. Acabou. - disse num tom neutro.
- O barco está à sua espera ou pode ir com o motorista.
- Eu preferia ir nadando a precisar de algum empregado seu pra me levar. - falo com raiva, mas contida.