Capítulo 1

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       Não era a primeira vez que o via, mas meu coração dava o mesmo pulo desde que o vi com outros olhos. Apaixonar-me por ele era um erro, um erro enorme. Ele é o irmão mais velho da minha melhor amiga! Além disso, era impossível que o sentimento fosse recíproco, meu rosto é todo manchado pela condição rara, sem cura e não contagiosa, que carrego desde o nascimento: vitiligo.

- Eu te perguntei se vocês vão voltar cedo! - enfatiza ele, um tanto exaltado

       Apolo era simplesmente o irmão maior, e único, da Karina , mas era superprotetor como um pai. 

- Vamos sim, apenas vamos sair com uns amigos – respondo, torcendo para ele não barrar nossa saída.

         Ele me olha sério. Mesmo que o conhecesse desde sempre, eu
nunca sabia o que acontecia na sua mente. Ele era um livro fechado, um garoto misterioso e isso era uma das coisas que eu amava nele. Garotos misteriosos sempre despertaram minha atenção.

- Vocês vão beber? - pregunta ele.

- Isso é um interrogatório? Já falamos que só vamos sair. E além disso, você não é meu pai para controlar minha vida - fala Karina entrando na sala da própria casa.

       Karina sempre foi meiga e um pouco ingênua, mas podia ser forte e teimosa às vezes. A superproteção a incomodava, mesmo que fosse compreensível.

      Ambos nunca tiveram uma mãe, desde pequenos foram criados por babás já que o pai estava servindo o exército. Um ano atrás, o Apolo fez vinte anos e começou a cuidar da casa, trabalhando em uma loja de música e completando a renda da família, que até então se baseava no dinheiro que o pai mandava.

      Apolo se fecha e não fala mais nada. Era sempre assim quando se falava do pai.

- Eu também sinto falta dele - compartilha minha amiga com uma voz chorosa

     Embora ela não falasse abertamente sobre isso, eu sabia. Quando estávamos na escola, ela nunca comparecia nas celebrações do dias dos pais e também na confraternização familiar de início de ano. Por mais que Dolores, a babá, fosse considerada da família, ela nunca ia a esses eventos.

- Voltem às doze.

- Claro, se não o feitiço vai acabar - responde ela com desdém

      O irmão se permite sorrir.

- Se cuidem, não quero te perder como perdi ao nosso pai - confessa, baixinho

- Não se preocupe, você não vai se livrar tão cedo de mim!

There's nothin' wrong with lovin' who you areOnde histórias criam vida. Descubra agora