Capítulo 8

326 68 72
                                    

      Sábado passou devagar. Karina não quis falar comigo, mesmo que eu tenha ligado mil vezes. Chegou uma hora que desisti e fiquei vendo qualquer besteira para passar o tempo.

      Domingo chegou e junto com ele a melancolia do término do fim de semana. Sem trabalhos ou provas para estudar, estava entediado no meu quarto.

- Tia? - pergunto entrando na sala.

      Ela coloca o laptop de lado e sorri para mim.

- Estou atrapalhando?

- De jeito nenhum, Tony, eu sempre tenho um tempinho para você. Agora me fala, o que foi querido?

      Sorrio para ela. Eu tinha muita sorte de tê-la como segunda mãe, já que a primeira não ligava pra mim.

- Você gosta da minha mãe?

- Ah, ela é família. Nós gostamos da nossa família
.
- Você tem alguma lembrança feliz com ela?

- Minha mãe contava que, quando eu nasci, ela ajudava a trocar fraldas e a me levar no carrinho de bebê. Pelo que ela contava, Sofia estava apaixonada por mim. Foi ela que me ajudou a superar minha primeira desilusão amorosa. Lembro que ficamos vendo filmes de comédia e comendo sorvete de chocolate. Lembro que na época ela disse que voltou da faculdade só pra
me ver.

      Ela se aproxima de mim e me abraça.

- Eu queria saber por que ela me deixou contigo.

- Ah, essa é fácil! Ela sempre soube que eu seria uma melhor mãe que ela! - fala ela sorrindo

     E de fato ela era. Enquanto minha mãe mandava um cartão por ano, minha tia escrevia bilhetinhos praticamente todos os dias junto com o lanche, sempre vinha uma mensagem
carinhosa, me dando força pra enfrentar a escola. Enquanto os
presentes da minha mãe, quando ela mandava alguma coisa, eram meias, os dela eram os mais variados, desde varinhas de Harry Potter até um PlayStation que sempre quis. Porém, ela não era minha mãe, ela sempre foi minha tia e, por mais que ela fosse uma figura materna incrível, nunca a considerei como mãe, mas também nunca pediu que a chamasse assim, sempre se referindo a mim como seu sobrinho.

- Você não tem vontade de se casar e ter filhos?

      Ela sorri.

- Eu tenho o melhor filho sobrinho que poderia ter.

- Você não gostaria de ter um filho teu?

- Para isso preciso ter um namorado ou estar casada. E eu já sei que vou ficar pra titia, minha vida amorosa está morta! Agora só falta arranjar os gatos.

Ela ri.

- Mas você tem muita vida pela frente, um dia você vai fazer uma mulher muito feliz. Um dia você vai se casar e ter filhos maravilhosos. E você vai ser um ótimo pai.

Fico paralisado. Essa era a ideia de vida perfeita que minha tia tinha para mim, ter uma família com uma mulher.

- Que foi, Tony? Você ficou quieto de repente.

- Você ficaria decepcionada ou triste se eu não fosse o que você esperava de mim?

      Ela acaricia meu cabelo.
- Eu vou te amar de qualquer jeito. Para mim você vai ser sempre meu pequeno Tony, aquele que tinha uma paixão por dinossauros.

      Meu Deus, eu nem lembrava mais disso! Tinha passado tanto tempo. Por anos quis ser paleontólogo, mas depois mudei de opção e decidi ser professor. Hoje curso história e pretendo fazer
pedagogia depois.
 
      Meus olhos se enchem de lágrimas.

- Você sabe que pode me contar tudo, não é?

     Sorrio sem jeito. Eu queria tanto contar a ela, mas tinha muito medo.

- Acho que pela sua cara você está precisando de uns cookies!

      Quando era pequeno, sempre que ficava triste ela fazia cookies para mim e os comíamos com leitinho quente. Fazia tempo que não fazíamos isso.

- Você já sentiu atração por outra mulher? - pergunto

- Ah, eu vejo a Gisele Bündchen e penso que ela linda, que eu podia ter sua beleza. Ou penso em como a Emma Watson tem uma beleza única. Mas nunca tive vontade beijá-las ou algo
assim.

       Ela me olha com ternura.

- Eu vejo o David Beckham e penso que homem lindo, quem me dera poder passar um tempo com ele. Penso na Hermione e como ela teve sorte de que o Victor Krum gostasse dela. Vejo
alguns jogadores de futebol e penso como seria bom que eles dedicassem um touch down pra mim - falo rápido.

- Você está tentando me dizer que é homossexual?

      Desabo em lágrimas. Eu estava com medo do que ela ia achar de mim, eu tinha medo do que as pessoas iam achar de mim.

- Ah, querido, eu não te amo menos por isso. Me arrisco a dizer que te amo até mais! Você teve muita coragem para me contar isso.

      Ela limpa minhas lágrimas.

- Oh, meu garoto, não chora.

- Eu vou morrer sozinho! Eu já nasci com esta doença horrível, ninguém vai me amar!

       Ela acaricia meu rosto enquanto sorri.

- Qualquer um vai se apaixonar por isso aquí - ela fala colocando
a mão no meu peito - qualquer um vai se apaixonar pelo belo coração que você tem. Ah, e essas manchas no seu rosto, elas são seu charme.

     Sorrio de leve.

- Acho que a ocasião merece cookies! Sempre é um bom momento para se comer cookies!

      Ela se levanta.

- Hoje eu preciso de um ajudante!

- Tia, você sabe que eu não levo jeito para cozinha!

- É só falta de prática, querido. Vamos lá que os cookies de chocolate não se fazem sozinhos.

      E foi assim que passamos o domingo, fazendo e comendo cookies enquanto assistíamos filmes na Netflix.

There's nothin' wrong with lovin' who you areOnde histórias criam vida. Descubra agora