Capítulo 86

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-O que um garoto está fazendo aqui?- pergunta um homem


Tinha ido resolver algo do casamento da minha tia e estava voltando pro carro, mas o homem me interceptou antes.


-Nada- respondo


Ele pega meu braço.


-Ei, não precisa ter pressa. Por que não conversamos um pouco.


-Minha mãe me ensinou a nunca falar com estranhos...- falo com a voz trêmula


-Então podemos passar para o que importa. Me passa a grana e o celular!


Fico paralisado. Mesmo sempre tendo morado em Nova Iorque eu nunca tinha sido assaltado. Já tinha sido quase estuprado, mas assaltado nunca.


-Está esperando o que, seu manchadinho?! Isso aqui é um assalto, me passa a carteira e o celular!


Tento me desvencilhar, mas ele me segura mais forte.


-Vou ter que falar pela terceira vez pra você entender?! Eu falei pra você me dar suas coisas de valor!


Ele puxa uma faca e começo a tremer.


-Anthony! Que coincidência!- fala uma voz que reconheço bem


Olho pro lado e vejo o Apolo encarando o homem. Com os olhos peço pra ele ir embora, mas ele não entende a mensagem.


-Ah, menino, soube do casamento dos seus pais! O Oliver me contou quando fui fazer uma denúncia na delegacia onde ele trabalha! Seus olhos brilhavam, ele estava tão feliz. Até me contou que sua mãe sempre teve o sonho de se casar com alguém de uniforme, principalmente um policial.


O homem na minha frente sai correndo, com medo de ser pego pelo meu pai. Respiro fundo, aliviado.


-Obrigada- falo tímido


-Eu não podia não fazer alguma coisa.


Começamos a caminhar em silêncio até que eu pergunto:


-Onde você estava esse tempo todo? A Karina estava preocupada.


Ela não estava muito, ela sabia que o irmão precisa de tempo e que tinha pra onde ir. Na verdade, eu que estava preocupado, mas não queria admitir isso.


-Eu fui dormir na casa de um amigo.


Arregalo os olhos, tentando não imaginar o pior. Mas quem era eu pra julgar?


-Não é o que você está pensando, eu nunca terminaria com alguém e iria imediatamente aos braços de outro. Fui para casa de um amigo do meu pai.


-Um amigo do seu pai?


-Ele era companheiro dele, trabalhavam juntos no exército. Foi mandado embora por ser gay.


-E o teu pai? O que ele fez?


-Virou as costas como todo mundo. Os dois eram como irmãos, já que Júlio era órfão. Meu pai cortou o contato com ele, mas eu não. É pra lá que eu vou quando as coisas estão tensas.


-Por isso que você tinha tanto medo de contar ao seu pai!


Apolo da um pequeno sorriso.


-Acho que isso não importa mais. Que se danem as opiniões alheias.


Ele me olha profundamente.


-Nesses dias que eu estive afastado eu tive muito tempo pra pensar. E pensei que não vale a pena ficar longe do homem que eu amo.


-Então você ainda me ama?- pergunto incrédulo


-Eu não deixei de te amar, só estava bravo demais pra. admitir isso.


Dou um sorriso do tamanho do mundo.


-Só tem mais uma coisa- falo


-O que?


-Não quero mais mentir. Nem pra você, nem pra Karina.


-Eu não ia te pedir isso...


-Eu sei. Mas estou dizendo isso porque eu beijei outro homem.


Espero pela reação dele que demora pra aparecer.


-Quem?


-Você vai me odiar, como eu me odiei, mas te garanto que não significou nada. Eu só estava... machucado. Em um momento de fraqueza eu beijei o Stuart.


-Eu sabia que vocês se gostavam!


-Não, pera aí. Eu nunca o amei. O único homem que eu amei na vida está na minha frente. Eu estou te dizendo isso porque eu quero começar com o pé direito.


-Então se você não o ama desfaz essa amizade.


-Eu sei que você está chateado, mas das minhas amizades quem cuido sou eu. Se você quer que eu deixe minha amizade com o Stuart você está perdendo tempo. Eu também poderia te pedir pra desfazer a amizade com o Júlio, mas não o faço.


Eu não ia falar pra ele que o Stuart e eu estávamos brigados. Ele não tinha o direito de dizer com quem eu deveria andar, quem deveriam ser meus amigos. Se ele me amasse de verdade ele não ia querer me perder.


Respiro fundo.


-Eu sei que o que fiz não foi legal, mas tecnicamente não foi traição. Se eu beijei ele foi por culpa sua, pelo que você fez com a porcaria do meu coração! Eu estava em pedaços! Queria te ferir exatamente como você tinha feito comigo.


-Eu tenho que pensar...


-Eu não quero te perder mais uma vez...


Ele não fala nada e vai embora, me deixando sozinho na frente do meu carro.


There's nothin' wrong with lovin' who you areOnde histórias criam vida. Descubra agora