Capítulo 33

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Acordo com dor nas costas, minha cama era pequena e minha tia e eu acabamos adormecendo lá. Olho pro lado e vejo ela dormindo tranquilamente, como se não tivesse chorado a noite inteira.

Levanto e faço o que normalmente faço no sábado de manhã, ligar a água para fazer o café e verificar a correspondência. Ao pegá-las me deparo com um envelope com o nome da minha mãe no remetente, algo que raramente acontecia. Morrendo de curiosidade, mesmo sabendo que aquela carta era pra minha tia, a abro e leio-a.

Estimada irmã,

Eu sei que você não queria me ouvir, mas talvez você aceite ler o que eu tenho pra dizer, que é um assunto muito importante. Só espero que não me odeie depois do que eu vou escrever.

Respiro fundo, com medo do que estou prestes a ler. Será que isso me faria gostar menos da minha mãe?

Primeiro quero te contar como conheço o Oliver e o que ele tem a ver na nossa vida. Não sei se você se lembra que te falei que tinha um namorado sério na faculdade, que estávamos praticamente completando um ano de namoro. Ele sempre morou longe e as nossas folgas nunca batiam, por isso vocês nunca o conheceram. Bom, esse tal namorado é o seu querido Oliver. E não para de ler que tem mais coisa.

Como qualquer namoro, nós dormimos várias vezes juntos, matando a saudade dos dias que passava lá em casa, longe dele. Um dia, depois de uma festa da minha turma, fomos pra casa caindo de bêbados. Eu tinha acabado de voltar de duas semanas na casa dos nossos pais, eu estava louca para tê-los nos meus braços. Entramos em meu quarto na república já aos beijos e logo estávamos na cama. Nenhum dos dois lembrou de usar o preservativo e de manhã não lembramos de nada. Como você deve imaginar, dessa aventura saiu o Thomas. Quando eu descobri minha gravidez, tentei lembrar do que teria acontecido de errado e a bebedeira me veio a mente, com raiva de mim mesma e com medo de contar pro Oliver (esperando para que a gravidez ficasse aparente para contar. Uma besteira, eu sei). Se ainda não ficou claro vou falar de novo: OLIVER É O PAI DO THOMAS!!

Ah, e a bomba não para por aí. Depois disso tudo ele me deixou!! Depois de quatro meses que soube do acidente ele me deixou, alegando que nosso namoro caiu na rotina! Eu estava GRÁVIDA e ele me deixou! Eu tinha quatro semanas e ele nem se importou!

Agora quer saber do pior? Foi por culpa dele que eu deixei o Thomas com você! Saiba que ele foi o responsável pelo fim do seu namoro, ele que me fez te deixar o recém nascido contigo.

Sabe o que me tornei depois que ele me deixou? Uma alcóolatra! Isso mesmo que você leu! Comecei a beber e a beber mais, sem me importar com o feto que crescia dentro de mim. Afinal, por que me importaria se eu não tinha o amor do Oliver? Eu dei o bebê bêbada!! O acidente dos nossos pais, naquele fatídico dia, culminou para isso, e bebi mais do que já estava bebendo, ao ponto de desmaiar ao chegar com a Luciane no hospital, minha companheira de quarto. Depois disso ela não aguentou e falou que ia me levar para uma clínica. Implorei por dois dias de teste, para provar que conseguia ficar sem a bebida. Não tinha capacidade para cuidar de um filho então o deixei contigo, consegui ficar sóbria por dois dias, registrei o Thomas com o nome que você deu e decidi deixá-lo com você para pegar minha mudança para a nossa casa. Acabei vendo o Oliver com outra mulher ao voltar para a república e a bebida me chamou. Luciane não aguentou e fui levada às forças pra clínica. Sai cinco meses depois e não quis saber de nada que me lembrasse o Oliver, então abandonei meu filho e não me arrependo disso. Pude conhecer o mundo sem um filho a tira colo e namorar um monte sem me preocupar o que o meu companheiro acharia se contasse que eu tinha um filho.

Bom, era isso que eu tinha para te contar. Espero que não me odeie e, quando quiser falar, é só procurar, meu número continua o mesmo.

Um abraço

Sofia

-De quem é essa carta, Tony?- pergunta minha tia

Me assusto ao vê-la, achei que ela ainda estaria dormindo.

-Minha mãe- respondo sem ânimo

-Me deixa ver isso!- fala ela

Eu tinha que proteger a minha tia das bombas, mesmo sem eu ter me recuperado. Ela não precisa saber.

-É pra mim, não precisa lê-la!- falo

Ela me olha sério.

-Anthony Thomas Miller, você está me escondendo algo!- fala ela séria

-Claro que não!

Ela rouba o papel das minhas mãos e começa a lê-lo imediatamente.

-Tia...- falo

Eu sabia da rápida capacidade de leitura dela, provavelmente ela já tinha passado da metade da carta.

-Você finalmente descobriu quem é o seu pai- fala ela

-Isso não muda nada, eu continuo odiando ele pelo que fez com você!

Ela dá um sorriso amarelo.

-Mas não podemos odiá-lo pelo alcoolismo da sua mãe. A decisão de beber é dela- fala ela

-Vai defendê-lo?- pergunto incrédulo

-Não! Nunca vou perdoá-lo por abandonar a minha irmã quando ela mais precisou. Assim como eu não perdoei o Jonathan.

Ela fica em silêncio por um momento.

-Se você quiser passar tempo com teu pai, por mim tudo bem

De pequeno eu sonhava em saber quem era meu pai, falava que quando soubesse, e o encontrasse, passaria horas com ele, jogando bola e fazendo coisas de pai e filho que nunca pude fazer. Hoje essa vontade sumiu, após saber quem ele era.

-Por que nunca me contou que meus pais morreram quando nasci?- pergunto

-Não valia a pena.

-Eles estavam indo me ver, não estavam?

-Tony....

-Chega de mentiras! Eu só quero a verdade, a mais pura verdade.

Ela respira fundo.

-Sim, eles iam ir te ver no hospital e eu estava no estágio.

Pensei que aquele dia não podia ficar pior, mas ficou. Eu era a causa da morte dos meus avós.

There's nothin' wrong with lovin' who you areOnde histórias criam vida. Descubra agora