Cpítulo 7

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       Sábado é o meu dia da semana predileto, posso dormir e acordar tarde. Mas hoje madruguei, ansioso para saber sobre o encontro da Karina.

      Assim que deu um horário razoável, saí e fui para casa dela.

- Bom dia! - falo pro Apolo, que abre a porta.

- Bom dia pra quem?

- Dia ruim?

- A vida toda é uma bosta, hoje é mais um dia que nada dá certo.

- Ainda é de manhã, o dia pode melhorar! Vamos, cadê o seu ânimo e otimismo?

- O que você quer?

- Vim ver a Karina.

- Ah, que pena. Ela não quer ver ninguém.

      Ele fecha a porta, mas eu coloco o braço, impedindo-o.

- O que ela tem?

- Parece que na única vez que não me oponho a sua saída, ela
tem o coração destroçado.

- Será que posso falar com ela?

     Ele respira fundo.
- Tá, pode.

      Ele abre a porta e entro correndo, subo as escadas e chego no quarto da minha melhor amiga.

- Karina, abre essa porta.

- Me deixa em paz!

- Pelo menos me conta o que aconteceu!

      Ela não fala mais nada. Coloco a orelha na porta e escuto ela chorar baixinho.

- Fala comigo, eu quero te ajudar!

- Ninguém pode me ajudar!

- Eu quero pelo menos entender o que está acontecendo.

       Uma mão pousa no meu ombro. Apolo nunca tinha enconstado em mim, meu coração acelera e fico ofegante.

- Acho que devemos deixá-la com a sua dor. Vem, vou te explicar o que sei.

      Ele desce as escadas e o acompanho. Vamos para a cozinha, onde ele pega uma xícara de café e se senta na mesa.

- Ela teve o coração destroçado por um idiota.

- Eu já sei até quem foi!

- Pois esse idiota falou algo que a magoou. Não sei exatamente o
que, mas ela voltou chorando para casa.

      Olho para ele, tentando dar um consolo.

- Se eu não a tivesse deixado sair, nada disso teria acontecido.

     Ele enfia as mãos na cara, triste.

- E por que você deixou ela sair?

     Ele não fala nada.

- Já sei, você não vai se abrir com um pirralho.

- Me desculpe por ter falado isso, eu estava transtornado na hora. Problemas e mais problemas.

- Sou todo ouvidos, se quiser me contar.

- Ah, são problemas de gente grande.

- Ei, não sou um pirralho! Em alguns meses já faço dezoito.

      Ele ri. Como eu amava olhar para aquele sorriso, que poucas vezes saía da sua boca.

- Se eu te contar, você vai contar para Karina. Melhor não.

- Minha boca é um túmulo.

      Ele me olha profundamente e coloca sua mão sobre a minha, que estava apoiada na mesa. Começo a suar de nervoso e meu coração acelera, torcendo para ele não perceber.

- Não conta nada para ninguém, está bem?

- Prometo.

      Ele afasta sua mão da minha e dá um longo suspiro.

- Meu pai e eu brigamos. Eu o acusei de nunca ter tempo para nós, que não se importava conosco e ele alegou que se
importava sim, já que mandava dinheiro toda vez. Furioso, no impulso, falei que dinheiro não compra felicidade e então ele falou que ia cortar nossa mesada. Daí no outro dia, chego no trabalho e descubro que fui mandado embora. Tenho um dinheirinho guardado, mas acho que dura para um mês ou dois,no máximo.

      Fico calado, sem saber o que dizer.

-Acho que eu me comportei como um idiota! Não pensei na Karina, apenas pensei em como eu me sentia!

- Eu não acho, acho que você só falou o que tinha que ser dito! Talvez a parte do dinheiro não foi o melhor a ser dito, mas na hora não se pensa direito. Eu no seu lugar faria a mesma coisa.

- Vai fazer o mesmo quando ver a sua mãe de novo?

      Eu tinha comentado sobre a minha mãe uma única vez, uns dez anos atrás, como ele lembrava?

- Acho que sim, se tiver coragem, claro. Recebi uma carta falando que ela vai chegar quinta.

- Ah que bom, finalmente vai ver a sua mãe!

       Mas eu não estava feliz. Eu não sabia nada sobre ela e, por mais que ela e minha tia fossem irmãs, Claudia não tinha muitas informações sobre ela. Para ambos, ela era uma completa desconhecida.

There's nothin' wrong with lovin' who you areOnde histórias criam vida. Descubra agora