Sara Nilsa deixou de acreditar no destino aos oito anos de idade, quando seu pai saiu para uma viagem misteriosa em 2005 e nunca mais voltou. Naquele dia, apesar da relutância, preferiu acreditar que algo muito ruim havia acontecido, tentando ignorar os comentários que os vizinhos faziam à mãe sobre o pai ter fugido com outra mulher. Aconteceu que, cresceu com um buraco no coração, magoada e mimada pela mãe e pela avó paterna - que resolveu acompanhar o crescimento da neta de perto depois que seu filho partiu.Para tentar cessar a saudade do pai que parecia crescer a cada ano, ela passou a alimentar hábitos viciosos dentro do antigo escritório onde ele trabalhava. Se metia por entre as plantas que ele deixara perto do telhado da casa, alinhadas em uma ordem específica que Sara não tinha muita certeza, mas que pareciam funcionar para que continuassem saudáveis. Passava horas deitada sobre o tapete felpudo do cômodo, lendo e relendo os vários livros estranhos de fantasia que seu pai mantinha na estante. E, de vez em quando, se aventurava a procurar alguns álbuns de fotos para poder se lembrar dos traços fortes que o pai possuía. Isso a deixava triste no final do dia, mas valia a pena para que nunca se esquecesse de nenhum detalhe.
A mãe de Sara, Cecília Nilsa, tentou levar a filha muitas vezes ao psicólogo, mas nada parecia funcionar. Dona Cláudia, a sogra, tentava explicar à mulher que nenhum tratamento vindo de um humano funcionaria com uma garota metade bruxa. A única coisa que deveria funcionar seria levá-la à uma psicóloga que fosse da mesma linhagem, que faria com que Sara entendesse que as mágoas dela eram sempre mais doídas porque seu interior era diferente. Cecília sempre dizia não. Não queria que Sara soubesse desse lado tão perigoso da família do pai.
E assim seguiu-se o segredo. Ninguém citava ou praticava magia dentro de casa, e todos os livros de estudo dentro do escritório do pai pareciam apenas contos de fantasia os quais Sara amava se conectar. Tudo não parecia passar de uma grande brincadeira de criança. Mas a menina cresceu, e os livros começaram a se empoeirar conforme o ritmo da escola ficava mais agitado, e as plantas perto do telhado mudaram de cor e aspecto.
As brigas no colégio começaram logo quando ela completou seus treze anos, quando alguns colegas de classe decidiram retomar o assunto do pai de Sara ter fugido com outra mulher. Diziam constantemente que Esmond nunca gostara da própria família, principalmente porque achava Sara esquisita demais e extremamente chata. A encrenca estava feita, e mais tarde naquela época Cecília teve que comparecer na diretoria junto de mais outros dois casais, pais de alunos.
-Não estou acreditando que ela socou dois garotos de uma vez. - Disse a vovó Cláudia num tom secretamente orgulhoso - Não é para menos. Tenho certeza que ela teve um bom motivo.
-Ora, Dona Cláudia. Independente do que eles tenham dito ou feito à ela, você sabe que ela tem mais força que eles. Ela não pode sair socando todo mundo que a incomoda. - Disse Cecília nervosa.
-Ela não teria feito isso se soubesse da linhagem da família. - Avisou a velhinha.
E o que pareceu ter sido apenas um ponto fora da curva, começou a se repetir diariamente. Obviamente, Sara aprendeu que brigas físicas causavam mais confusão do que as verbais, então acabou por optar sempre por ofensas que aprendia na televisão. Isso também gerou várias outras reuniões entre professores e a mãe de Sara. Foi então que, sutilmente, a menina aprendeu a se defender através do sarcasmo, cinismo e ironia, e aos quatorze anos e meio era quase impossível ter uma conversa normal com ela.
Dentro de casa, apesar do que as pessoas do lado de fora pensavam, Sara era quase um bichinho assustado, como qualquer outro adolescente em crescimento que era assombrado por um passado pesaroso e complicado demais para ser compreendido
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Mudanças Noturnas: A Filha da Orna
FantasiaQuatro adolescentes quebrados, uma profecia de futuro incerto e mudanças noturnas desagradáveis dentro de um colégio de elite de magia. Tudo pode dar errado, mas eles não estão sozinhos. "A única forma de matar algo que não existe, é se esquecend...