O ar estava mais denso e impenetrável ali dentro, de todos os lugares da impressionável mansão, aquele sem dúvida era o mais frio. O azul turquesa desbotado na parede agora tinha um novo significado para todos ali, emersos em tristeza e inércia ao passo em que a morte arrastava-se pesarosa pelo solado vistoso de madeira e o tique taque do relógio contava taciturno o tempo que a vida levava para esvair-se solenemente do corpo moribundo do respeitável e agora quase irreconhecível Lord Edwards.
Um novo vento surgiu quando a porta se abriu e o jovem Fhilipe atravessou o silencioso cômodo a passos largos, retirando o chapéu em respeito, posicionou-se ao lado da inconsolável senhora Edwards que já não esboçava reação alguma, não era possível saber se estava conformada ou apenas paralisada pelo pavor da perda, o jovem inspetor tocou o ombro da Lady e em seguida trocou um fraco sorriso em cumprimento a Nana que encolhida a um canto do quarto chorava discretamente, embora fosse doloroso admitir ambas as mulheres já velavam discretamente o bom senhor que se despedia.
Encarou o rosto do enfermo por longo período, tinha dentro do peito um pequeno pedaço de esperança desiludida de ver nele algo que se se assemelhasse ao homem forte e generoso que George sempre fora, mas era em vão. A fraqueza aparente era perceptível, os olhos azuis enrugados esforçaram-se para se abrir, e quando conseguiu focou-se no jovem a quem tanto considerava e movimentou os lábios, por mais que lhe fosse difícil falar o Lord sabia que estava morrendo e não poderia partir antes de fazer o que devia ser feito, ele não tinha tempo a perder, ele não tinha mais nada a perder, agora que perderia a vida.
- Fhilipe... Obrigado por vir.
- O senhor sabe caro amigo, eu viria todas às vezes e quaisquer horários que me solicitasse.
- A cada dia que passa tenho pressentido que a morte rodeia-me, a qualquer momento serei levado por esta chaga que me atinge de maneira tão abrasadora... – Lady Débora soltou um suspiro agudo e abaixou a cabeça se agarrando com mais força a mão do marido. – É doloroso, mas se esta é a ordem natural das coisas acredito que Deus deva assegurar-se de meu destino daqui para frente... Mas antes de ir preciso ter a certeza de que as pessoas que eu amo ficarão asseguradas.
- Claro, como quiser Lord. Diga-me do que necessitas e garantirei que será feito, conforme tua vontade.
- Eu sei que sim, Fhilipe és um homem de ouro. – George tossiu um pouco, mas abrandou em seguida, voltando a tranquilizar todos afirmou que já estava bem. Dentro de si ele sabia que não estava longe o dia de partir. – É por isso que o chamei aqui, eu requisitei a presença de meu advogado que deve chegar à próxima hora, pretendo mudar meu testamento e sei que apenas você conseguiria garantir que se cumpram minhas últimas vontades.
- Sim. E quais são as mudanças mais pertinentes?
- No contrato atual, minha filha e minha esposa receberiam a empresa, sendo o marido de Perrie o responsável a frente da empresa. Entretanto, agora pelo pouco que pude conhecer melhor de quem se trata Austin... Gostaria que nomeasse minha filha Perrie como a herdeira maioritária e única a frente da empresa da família.
Não era certo que algo de mágico realmente tivesse acontecido, mas naquele momento um raio de sol adentrou pela janela cinza daquele quarto, ao simples nomear do nome, Perrie. George não pôde deixar de desejar que aquilo fosse à maneira que a filha encontrara de se despedir.
Na branquidão da neve um ponto vermelho surgiu. Envolta em seu grosso capuz vermelho Jade esgueirou-se com cuidado pelas ruas congeladas em Veneza não havia muitas pessoas, na verdade era raro avistar alguém que se aventurasse pelas ruas naquele fim de tarde gélido, as nuvens estavam pávidas e escuras, tudo estava estranho naquele dia era como se a pior das áureas pairasse pelos arredores, a jovem sentiu um arrepio nos ossos, com extremo cuidado vasculhou tudo a sua volta não podia ser vista entrando na velha casa dos Nelson, onde agora se encontrava refugiada aquela a quem insanamente Austin procurava, não havia espaço para riscos ou erros, Jade precisava proteger a si mesma, o pequeno Jack e agora também a pobre jovem.
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Uma Dama Para Lady Edwards
FanficA Viena do século XIX caminhava para o progresso desatando as amarras da escravidão, com seus heróis aclamados nas altas cortes, enquanto o povo liberto permanecia cativo, seus carrascos agora nomeavam-se fome, medo e desabrigo. A jovem camponesa Le...