A farsa tem olhos azuis...

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      Acordou envolta em pensamentos, mas o mais certo seria dizer que não dormira seus olhos permaneceram estáticos e não pode fecha- los ainda que muito tentasse, levantou- se então. Na cozinha o café já encontrava-se pronto com alguns biscoitos de trigo, a avó já havia saído para as compras na feira como era seu costume as quartas, ainda sonolenta comeu pouco, mesmo que com fome não estivesse, não poderia estar tamanha era sua preocupação com Perrie.

   Como estaria ela depois do passeio da noite anterior? Já cogitava ter feito mal em levá-la até o rio, sua mãe o que faria com ela agora? E pior o que faria Lady Edwards com ela, a negra a quem tanto repudiava? Depois desta louca aventura, elas haviam retornado quando a noite já vencia o céu por volta das sete, Perrie impediu-a de entrar e explicar a eles sua total responsabilidade que a havia levado e que portanto não era culpa da nobre, mas dela. "Fui por que quis, não é sua culpa" Dissera ela, ora muito errada estava, pois de fato a única culpada na mente da jovem criada era tão somente ela, mas como a nobre loira era teimosa, sem alternativas veio para casa, nem mesmo tivera cabeça para comparecer a taverna na noite passada, não poderia cantar uma nota sequer.

   Após comer começou a se preparar para o trabalho e para a bronca, é claro. Embora muito apavorada, não poderia deixar de ir, pois além de ansiar saber o que seria decidido quanto a si, tinha que saber o que haviam feito de Perrie e se ela estaria bem. Entrou no trem, sentando-se perto da janela era sempre um bom lugar para viajar, pois enquanto as paisagens de Viena cativavam-na, podia lembrar de um par de olhos azuis que igualmente a cativaram, Pezz. Ainda se lembrava de ser beijada por ela tal qual a rosa é beijada pelos beija-flores, não sabia ao certo se fora apenas um sonho embalado por aqueles estranhos desejos que lhe vinham as vezes ou se era real.

   Nunca sentirá o que vinha sentindo quando ficava perto dela, é como se os olhos dela pudessem despir-lhe a alma e o coração e fazer com que sua boca de bom grado entregasse todos os seus segredos, anseios e sentimentos. As vezes era como se Perrie não fosse uma amiga ou alguém que lhe inspirava confiança simplesmente, as vezes era como se ela fosse parte dela.

- Rua 17, centro! – Gritaram seu destino, puxando as cordas sinalizou ao maquinista, era chegado a hora.

   Por mais tranquila que a mansão Edwards pudesse parecer aquela manhã, era possível captar o alto nível de tensão que envolvia o ambiente, na noite anterior Perrie havia quebrado todas as regras possíveis da etiqueta e fugido de seu motorista na companhia de Leigh- Anne, sua dama de companhia.

   Sem muitas explicações, Perrie chegara com os cabelos desmanchados e o vestido um pouco sujo de terra e se recusara a responder os incontáveis questionamentos berrados pela mãe, que se encontrava em polvorosa. Naquela noite Perrie dormira tranquilamente ciente de que teria que se explicar pela manhã, seu pai por sua vez não descansara da mesma forma sendo alvo das lamentações e reclamações da esposa a respeito da conduta da filha e da má influência da dita dama de companhia.

Ao amanhecer, senhora Debbie Edwards encontrava-se reunida com o marido no gabinete do escritório, decidindo juntos, que atitude tomar.

- Eu exijo que esta negrinha imunda saia desta casa imediatamente, que não pise os pés aqui.

- Concordo com você, mas acredito que devíamos ouvir o que nossa filha tem a dizer primeiro.

- Tolice! Você sabe melhor que ninguém que Perrie a defenderá na certa esta mulher lançou algum tipo de feitiço em nossa filha, é uma bruxa! Queria eu estarmos na época da inquisição para vê-la condenada a arder na fogueira.

- Que monstruosidade, mulher! Deixe de fantasiar aquela jovem não é bruxa, apenas têm sido a amiga que você nunca foi para nossa filha e elas são jovens devem ter ido se divertir um pouco, isto é de fato muito comum nesta idade.

Uma Dama Para Lady EdwardsOnde histórias criam vida. Descubra agora