Prisão

144 23 8
                                    


        Era o começo de mais uma manhã, mais uma manhã em que Leigh- Anne não tinha nenhum lugar para ir, não tinha mais emprego naquela enorme mansão, não via seu sorriso tolo refletido no espelho daqueles belos olhos azuis. E não havia restado mais nada desses poucos dias em que estivera junto dela, e tudo teria sido simples ilusão, mentira, apenas brincadeira, mas o que poderia ser feito, se em meio a todo o teatro o sentimentos que a pobre criada havia cultivado sempre foram verdadeiros como se acostumar com a verdade?

     Na semana que se passou, forçara sua mente a expulsar as lembranças alojadas em seu interior, mas de nada adiantou se as mandava embora, elas se abrigavam em seu coração e de lá não ha quem as tire, tentou concentrar- se no trabalho na taverna e procurar um outro segundo emprego, mas não havia sequer uma vaga em lugar algum o povo permanecia em dificuldades, pois os tempos eram críticos para a economia de Viena, bem sentia isto na pele todos os dias.

    Parte de dificuldade em dissipar as poucas lembranças que ainda restaram fora este fim meio torto, seu coração ainda não aceitou não ouvir a verdade vinda de Perrie teria ela coragem de olhar- lhe nos olhos e dizer que o que mãe dela disse era verdade? Leigh não acredito que fosse, ao menos esperava que não.

    A tosse da pobre senhora interrompeu abruptamente em suas ilusões naquele manhã sua pobre avó amanhecera com um pouco de tosse e um tanto indisposta a idade avançava e lhe apavorava a possibilidade de que ela estivesse no inicio de uma doença isso seria o fim, um completo desastre, não haveria como cuidar dela corretamente em caso de uma enfermidade, o que tinham mal dava pra comer até o final do mês, não sabia o que seria delas, se pelo menos ainda tivesse o segundo emprego, mesmo que isso significasse submeter-se ao papel de bobo da corte para divertir Perrie e sua mãe.

   Enquanto as horas arrastavam-se como em dias mórbidos, a jovem Lady havia criado um novo e estranho habito desde que Leigh- Anne se fora sem qualquer explicação, ia para as grandes janelas da sala de estar e ficava a observar os jardins imaginando- a lá correndo em volta dos arbustos, cheirando as flores, com seus cachos ao vento, e sua doce risada, a que falta lhe fazia seu sorriso, depois a via girar em torno de si com a cabeça inclinada para o céu de olhos fechados, as vezes acreditava que Leigh fosse a reencarnação pura e simples da liberdade.

    Liberdade essa, que a nobre perdera desde sua partida, sua mãe durante a semana a azucrinara, impedindo que saísse mesmo que acompanhada pelo motorista, mas, quando Austin aparecia, e ele deve ter feito isso pelo menos umas três vezes essa semana, a matriarca mudava seu discurso e não só permitia como ordenava que a herdeira aceitasse ir a um passeio na companhia de seu futuro marido o que repetidamente era negado pela mesma com todas as forças, não por Austin ele de nada tinha culpa mas, não o faria por sua mãe, jamais.

- Novamente nessa janela? Você devia estar se ocupando com outras coisas.- A mãe invadia seus pensamentos sem ser convidada, como de costume.

- Outras coisas? A única coisa que tenho me preocupado é em não enlouquecer, presa nesta maldita casa como um simples passarinho e não como o ser humano que sou.

- Não seja dramática, você conquistará a liberdade quando crescer e parar de agir como a criança mimada que você tem sido, você devia estar ocupando-se com o planejamento do enxoval de seu casamento e em garantir que Austin não fuja dessa seu gênio ruim.

- Pois que fuja, e fuja pra bem longe não sabe a sogra ruim e a esposa amarga que terá por companhia acaso insista neste matrimônio que você e os pais dele tem nos enfiado a força.

- Austin não esta sendo obrigado a nada ele realmente gosta de você, ainda que você não o mereça, eu no lugar dele fugiria.

- Eu também, quem dera eu estar no lugar dele, pra fugir o quanto antes, e poder sair deste inferno, quero respirar fora destes portões.- Bufou a moça, caindo sobre o sofá, nestes dias parecia que os vestidos ficavam ainda mais sufocantes.

- Quanto a isso não se preocupe poderá sair de casa a partir de amanhã.

- Poderei?- Perrie alegrou-se no mesmo instante.

- Não se anime em demasiado, não fica bem. Sairá sim na companhia de sua nova dama.

- Nova dama do que raios esta falando?

- Da nova dama que contratei, e dessa vez você não terá escapatória ela está sobre minhas ordens e comandos, e a vigiará de bem perto, mocinha.

- Ah claro uma dama de sua inteira confiança, ou devo dizer uma extensão dos seus olhos, e só mais uma mera espiã sua?

- Exato. Ela será meus olhos e meus ouvidos, e nela confio plenamente, amanhã sairão pela primeira vez juntas, irão até a plataforma de trem par despedir-se de Austin que partirá para a América de manhã, onde ficara alguns poucos dias com os pais.

- Não irei.

- Sim você irá. Conversei com seu pai e a partir de agora depois de sua rebeldia com aquela mulher, você perdeu o direito de qualquer escolha e se casará sim com Austin, os negócios de seu pai estão em crise, e nosso patrimônio ameaçado, será uma ótima aliança econômica, e você me agradecerá depois, é pelo bem de todos.

- Todos? Todos quem? E meu bem como fica? Vocês vão me sacrificar deste modo?

- Não há sacrifícios. Seu bem é o nosso bem, e o nosso bem é o seu. Acostume-se, pois, na vida querida filha, as coisas são assim.

Perrie levantou-se as pressas e correu em direção ao escritório do pai abrindo a porta com violência, naquela altura ela não dava a mínima para a etiqueta somente rezava para que o veneno da mãe não fosse verdade.

- Perrie minha filha, porque você entrou assim, aconteceu algo? Eu estou trabalhando aqui podemos nos falar mais tarde?

- Não, papai. Não vou esperar por nada.

- O que houve?

- Diga- me você, papai. O que houve com você? Achei que fosse diferente da mamãe, que se importasse com o que eu sinto.- A jovem sentiu- se vencida pelas lágrimas, decepcionada por descobrir que seu pai o único que poderia salvar-lhe das maldades de sua mãe, já não estava ao seu lado.

- Eu me importo querida.- Comovido o lorde se aproximou abraçando- a. - Não chore querida, eu não queria concordar com sua mãe, mas nossa situação financeira me obriga, e acredite que se Austin não fosse um bom rapaz jamais permitiria este enlace, mas sei que ele a ama e lhe fará feliz, querida e isto lhe prometo.

- E o que farei, se não o amo papai?- As palavras tropeçavam com as lágrimas, mas ela sabia que seu pai compreendia a angústia, através de seus olhos que se encontravam cabisbaixos como nunca estiveram antes.

- Eu sinto muito querida, já combinei com Austin nesses dias a respeito de seu dote, e garanti que os pais dele darão- lhe a melhor festa do mundo, a mais luxuosa que Viena já vira.

- Não quero festas luxuosas, nem vestidos, não quero nada. Quero apenas que minha vontade seja ouvida, ao menos uma vez na vida. Não o amo papai.

- O amor vem como tempo meu anjo, sua mãe e eu mal nos conhecíamos quando fomos prometidos um ao outro e hoje nos amamos como nunca, sei que será assim com vocês.

- Não tenho certeza. Papai poderia ao menos prometer- me uma coisa?

- Claro, se estiver ao meu alcance.

- Leigh, poderia voltar?

O velho senhor, comprimiu os lábios entristecido.

- Sinto muito, receio que não poderei realizar teu desejo, querida. Sua mãe já contratou uma dama e pelo que me disse parece ser uma boa moça.

- Não papai! É somente outra espiã de mamãe, ela mesma já me confirmou.

- Entenda sua mãe, querida tudo que ela quer é vê-la feliz, sei que as vezes ela exagera mas, ela te ama muito.

- Será mesmo papai? As vezes é difícil de acreditar.

E de fato o era...

Uma Dama Para Lady EdwardsOnde histórias criam vida. Descubra agora