A senhora mais velha entrelaçou as próprias mãos ansiosa com as expectativas que prenunciavam o reencontro prestes a acontecer. Sua pele marcada pela idade estava fria como sempre estivera, mas as sensações que levavam seu coração a palpitar naquele momento eram diferentes, olhou para a janela da sala pela segunda vez buscando talvez um apoio divino, desejando criar a coragem necessária para olhar nos olhos da filha, não da forma como costumara-se a olhar nos últimos anos, congelante e inacessível, o tempo a endurecera, a secara por dentro ela sabia que se afastara de Perrie, ela sabia que havia lhe negado amor por acreditar ser incapaz de oferecer o acolhimento maternal necessário, ela sabia amar seu marido, ser a esposa firme e decidida que ele precisava ao seu lado, mas nunca se dera conta do quanto se perdera imersa neste personagem de esposa perfeita ao ponto de reduzir-se apenas a isso e esquecer do quanto desejava também ser mãe.
Ela mal se recordava do último dia em que encontraram-se frente a frente, naquela manhã ocorria a última despedida ao Lorde George, e não havia espaço para raciocinar qualquer outra coisa, a senhora estava magoada, ferida com a ausência de Perrie e descontou toda sua raiva ao culpa-la, por não querer admitir que a real responsabilidade recaia sobre si mesma. A nobre senhora levantou a cabeça e fechou os olhos com força, sentindo todo o pesar de suas atitudes, acreditava agora que suas falhas maternas haviam inevitavelmente levado a ausência constante de sua filha. Conhecendo a jovem lady como ela conhecia Débora sabia que deveria se preparar propriamente para um debate acalorado, Perrie nunca escondeu suas opiniões e soube muito bem argumentar contra os melancólicos e inflamados discursos de sua matriarca.
Do lado de fora o carro negro de Austin parou bruscamente, até mesmo os pneus na terra demonstravam a energia empenhada pela raiva de seu condutor. Perrie estava aflita no banco da frente seus dedos suavam dentro das luvas e uma angústia crescente circulava dentro de si, amolecendo suas pernas e dando-lhe a constante sensação de morrer a cada novo respirar; contrariando a etiqueta comum Rosa localizava-se no banco traseiro. Estrategicamente o Duque decidira que a empregada acompanhasse a esposa no lugar de sua dama de companhia costumeira Jade, há muito tempo que ele já não confiava tanto na moça e de qualquer forma trazer sua cúmplice era de mais vantagem, uma vez que ela poderia vigiar de perto a Lady e garantir que todos os detalhes da conversa entre mãe e filha chegassem até ele.
— Ai está! Cumpra o combinado, não quero vê-la sair deste lugar até que tenha conseguido convencer está velha caquética a dar-me o que é meu de direito.
— Você não tem direito nenhum, sobre nada...— Perrie sussurrou olhando-o com asco. Austin apenas deu um de seus sorrisos jocosos avaliando-a em silêncio — Minha mãe não se convence facilmente...não sei ao certo o que a faria tomar a decisão que tomou, mas ela raramente volta atrás do que diz.
— Veremos. Eu posso fazer milagres, basta olhar para seu reflexo no espelho; eu quebrei você. Quando a conheci você tinha bobas ilusões de acreditar que se igualava a mim, mulher mimada, atrevida, não servia como esposa, mas eu a fiz servir. — Austin voltou-se para a esposa com o olhar ganancioso que sustentava sempre que queria exercer seu poder sobre alguém, no castanho de sua pupila podia-se ver ferver seu ego inflamado. — Lembra-se da noite em que a fiz se ajoelhar naquela cama e a tomei como um domador toma seu cavalo mais indomável? Ah, aquela noite! Foi o único momento em que não me arrependi de ter me casado com você...este e é claro os momentos em que me lembro o quanto de grana eu terei quando finalmente por minhas mãos na empresa, sem qualquer empecilho.
Austin deu uma alta risada enquanto admirava as próprias ações como feitos inigualáveis dignos de louvor, Rosa no banco de trás apenas lançava lhe um olhar de breve mágoa enciumada, para ela era todas as atitudes do Duque tinham uma demonstração de carinho ao fundo, ainda que bruta.
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Uma Dama Para Lady Edwards
FanficA Viena do século XIX caminhava para o progresso desatando as amarras da escravidão, com seus heróis aclamados nas altas cortes, enquanto o povo liberto permanecia cativo, seus carrascos agora nomeavam-se fome, medo e desabrigo. A jovem camponesa Le...