Os passos curtos de Annastácia, agora Lírio, exploravam todo o terreno com autoridade, como se já estivessem estado ali, olhando os móveis de requinte todos bem arquitetados, em seus devidos lugares como uma harmônica estrutura impenetrável, tudo naquela casa lembrava-lhe do quão longe de seu lugar ela estava, ela não era daquele mundo, ela jamais poderia se encaixar ali, ela não tinha chances, mas Lírio tinha.
Inerte Nana a valorosa antecessora ensinava os segredos, truques e macetes de sua posição, enquanto dama da distinta família Edwards, do alto de sua prodigiosa atenção flutuante, a bela Lírio deixava que as palavras da boa dama escorregassem para seu pré-consciente, ao passo que se torturava paralelamente a medir as próprias atitudes, palavras e principalmente sua imaginação ingrata que distraía- se a imaginar como fora para a pobre Leigh-Anne meses atrás, antes de entrar em todo aquele emaranhado de problemas.
- Acredito que aqui terminamos nossas primeiras lições. – Nana sorriu complacente. – Tens alguma duvida sobre o que lhe disse até agora? Algo sobre a lida da casa, os compromissos externos de uma dama de companhia ou o temperamento de Lady Debbie?
- Não de fato, esclarecestes todas as minhas funções e quanto a personalidade da Lady, infelizmente há coisas que não se mudam e como se diz por ai o que não tem remédio, remediado esta.
- Que bom que tens compreensão deste caso, tenho um bom pressentimento a vosso respeito. – A senhora sorriu e sua testa enrugou-se levemente. - Você querida lembra-me muito de uma dama que esteve aqui, seu nome era Leigh-Anne e ela fora designada para Lady Perrie Edwards, era uma boa moça de coração puro e doce, tinha seus olhos, ela sem duvida foi uma dadiva na vida de nossa menina é mesmo uma pena o que tenha ocorrido a ela... Bom o que eu gostaria de dizer com isto é que quando se é uma boa dama, você pode ate dar novo sentido a vida e tornar-se confidente da nobre que acompanha.
- E o que houve a esta dama em particular?
- Não poderia ser indiscreta em assuntos como estes, mas é bom que saibas para que tomes cuidado e aprenda rapidamente como as coisas acontecem por aqui. Na época em que ela partiu, a Lady disse que a moça pedira para sair, mas muito diz-se por ai que ela foi mandada embora, não me surpreende, a senhora tem dificuldades em aceitar o fim da escravidão, considera os abolicionistas verdadeiros alienados.
- Não digas... – Anna sussurrou catatônica fingindo se surpreender.
- Sim, mas esqueça disto não é algo que se deva contar pelo povoado ou algo que se questione, eu apenas espero que Deus tenha se compadecido desta pobre moça.
Lírio balançou-se sobre os pés evitando encarar a empregada, a moça questionou displicidamente a respeito da morte recente do patriarca da nobre família e assistiu a expressão de Nana transfigurar-se completamente, com visível incomodo começou a discorrer a respeito da breve e intensa batalha do homem pela vida, uma história tão discutível quanto assombrosa, sem notar comentava com pesar sobre a própria filha Rosa que por vezes oferecia-se para levar o café ao pai de Perrie, mesmo segundo sua mãe, sendo ela tão preguiçosa e descumpridora de suas atribuições como criada.
Os sentidos da moça não haviam se atentado a fala da criada até que o nome de Austin Mahonne atravessa-se como uma fagulha seus ouvidos, aparentemente Rosa, a filha desobediente que dava a velha senhora uma dor de cabeça inimaginável, era nada menos que criada em contato direto com Austin Mahonne. Ainda que fosse seu primeiro contato com aquele nome, Anna/Lírio soube imediatamente que Rosa era a chave para entender um possível envolvimento do Duque na morte repentina e inexplicável de seu sogro.
Ao fim da Tarde, Annastácia sentou-se sem ar a frente de Jade, suas vestes pesadas, escorregavam sobre a pele repleta de pó de arroz. Jade riu da expressão estupefata que a negra demonstrava, serviu a com um suco gelado proveniente de um pé de limões frescos que cresciam em profusão para além dos limites da casa vizinha.
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Uma Dama Para Lady Edwards
FanfictionA Viena do século XIX caminhava para o progresso desatando as amarras da escravidão, com seus heróis aclamados nas altas cortes, enquanto o povo liberto permanecia cativo, seus carrascos agora nomeavam-se fome, medo e desabrigo. A jovem camponesa Le...