Reflexão e Lembrança

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- Parece um pouco distante, querida.


     A anciã observou repassando outro fio de lã, a queda de sua já fragilizada situação financeira a obrigara a retornar seus trabalhos de crochê para a venda.


- É somente impressão sua,vovó.- Respondeu a jovem Leigh-Anne repousando seus olhos na paisagem suja da rua através da janela, se olhasse para sua avó enquanto mentia, certamente choraria.

- Não minta para mim, ouço além do que você fala, te conheço desde quando você ainda nem mesmo falava.- A neta então virou-se para a senhora que a olhava compreensiva, forçou um sorriso, jogando a cabeça para traz na esperança de distrair aqueles sentimentos.- Sei como se sente, minha neta.

   

    A avó havia sido sincera, mas mal sabia que estava errada, não em tudo é claro, a falta de dinheiro preocupava-na, mas o peso do que houvera na noite passada não podia ser ignorado. Mas para a jovem ão seria justo derrubar este peso a mais sobre suas velhas costas, a matriarca já havia feito tanto por aquela família, era a vez dela de suportar as próprias quedas e a da noite passada fora uma queda e tanto. Austin definitivamente caiu do pedestal no qual ela o havia posto, mais foi o golpe final. Estava decidida a parar de confiar em todo mundo, porque o mundo é e sempre será um lugar ruim.

   Havia um silêncio entre ela e a avó carregado de pesar,o ar era sólido e palpável, podia sentir que a brisa fria trabalhava em sua face secando as lágrimas de forma lenta e insegura, da mesma maneira que a vida vinha sendo nestes últimos dias, crescia nela o medo de tentar, medo de viver.

    A tosse seca da avó, se tornara uma espécie de fundo sonoro, para as próprias lamentações silenciosas, sentia a doença adentrando a casa, a senhora estava piorando lentamente, e Leigh impotente, nada poderia fazer para impedir.

   Haveria uma reunião na taverna naquele dia, seria anunciado por madame Luthai de maneira oficial, a venda do lugar e milhares de homens e mulheres que lutam como ela perderão seus empregos, inconsolável Lee se perguntava o que seria de todos eles, filhos da suprema miséria? Só Deus poderia saber. 


- Ah essa vida...- A anciã retirou seus óculos improvisados e já gastos pelo tempo.- Só quem tem dinheiro, tem paz.

- Quem tem dinheiro, tem vida vovó. Nós sobrevivemos.

- Quem tem dinheiro brinca com a vida querida, manda e desmanda em pessoas como nós.- Doía a verdade naquelas palavras, ainda mais quando Leigh já havia passado por isso na pele, lembrar das mãos daquele homem percorrendo seu corpo revirava-lhe o estômago.

- Eles realmente têm o poder de brincar com nossa vida vovó e acredite eles o fazem.- A camponesa limpou as lágrimas tentando não pensar em Perrie, na mãe dela ou Austin, nada do que lhe fazia mal pensar.

- Onde vai querida?

-A taverna vovó. Hoje será o anúncio final.- A avó abençoou-a, demorando-se em um longo abraço que quase fez-lhe desmoronar novamente, retomou a postura procurando esconder seus sentimentos só precisava parecer bem, não importava o que havia dentro de si.

- Irá de trem, querida?

- Não há mais dinheiro, vovó irei a pé e com o acerto que madame me der pagarei por remédios e comida.

- Não estou doente.

- Ainda vovó, mas não permitirei que a doença avance mais principalmente com a epidemia que têm surgido pala vila. Adeus, vovó e cuide-se.

Uma Dama Para Lady EdwardsOnde histórias criam vida. Descubra agora