Annastácia

62 17 0
                                    


A porta abriu-se alguns solavancos depois, a velha madeira gemia e carecia de troca. Percorreu a casa ansiosa, cada canto lhe fazia sorrir, estava tudo da mesma maneira parecia que o tempo ali nunca passara ajeitou as malas em um canto e entrou, fechando a porta atrás de si. Ninguém lhe viera receber.

Ao fundo ouviu uma tosse seca e um pouco fraca, seguiu o som que vinha do único quarto da casa. Na cama a avó descansava, o rosto enrugado e cansado virou-se lentamente em direção a porta, a idosa espreitou a visão e reconheceu por fim, o jovem rosto.

- Annastácia, é você minha neta?!

- Sim vovó, sou eu! Como estás? Senti tantas saudades.- Annastácia sentou-se na beira da cama, abraçando com força a anciã.

- Um pouco doente pela idade, mas estou bem. Que bom que estas aqui de volta, veio passar as festas?

- Sim, claro. É a primeira vez que tenho permissão para sair do convento em anos, estou feliz de poder estar com vocês.

- Também estou.

- E Leigh-Anne,onde está minha irmã?

A velhinha remexeu-se no travesseiro, temendo pelo paradeiro da neta.

- Há alguns dias não a vejo. Os vizinhos vieram e cuidaram de mim a mando dela, disseram-me que ela encontrou um trabalho por isso teve que partir.

- E para onde partiria ela? Deixando a senhora aqui a míngua, o que há com esta minha irmã, está louca?

- Não seja dura Anna, ela têm trabalhado duro para nos ajudar.

- Eu reconheço isto minha avó, mas deixá-la só, não é certo. Algo não está direito. Onde ela trabalha?

- Para que Annastácia? Não vá arranjardes confusão com vossa irmã, estou pedindo-te.

- Aquieta-ti vovó. Apenas precisarei falar com ela, não procuro confusão apenas respostas e nada além disto, ficou claro?

- Pois bem, desde que não briguem. Vocês precisam unir-se.

- Tudo bem, falemos disso outro momento, descanse. Esta com fome? Prepararei algo para nós duas.

- A despensa está quase vazia, a bondade dos vizinhos que tem me alimentado nestes últimos dias.

- Tenho uns vitens que tenho guardado desde meus dez anos, comprarei algo para nós.

- Minha filha, é a economia para a compra de teus livros de professora, quando se formar.

- Preocupe-se em descansar apenas. Este dinheiro é nosso, agora durma.


Annastácia voltou a cobrir a avó e beijou suavemente a fronte. Depois dirigiu-se a sala, para guardar a bagagem, posicionou as malas na cama e tirou as roupas, ao abrir o armário encontrou apenas as vestes da avó, as de Leigh-Anne haviam desaparecido, preocupou-se. Teria a irmã fugido, e abandonado a avó doente? Não, ela jamais faria isso, não Leigh.

Terminou de organizar as roupas, mas ainda continuava intrigada, Leigh-Anne estava escondendo algo dela, e ela faria de tudo para saber do que se tratava. Seguiu para a cozinha e checou a dispensa, vazia. Ajeitou os cabelos atrás da orelha olhando-se no espelho, prestes a sair alguém bateu a porta, atendeu.

Uma mulher baixa e gordinha, estava a porta.

- Sim?

- Boa tarde, você deve ser Annastácia?

- Sim, a neta mais nova da senhora Pinnock, posso ajudá-la?

- Somos vizinhas. Leigh-Anne incumbiu-me de cuidar dela enquanto esta fora, vim ver como ela esta mas, vejo que esta tudo bem agora que você chegou.

- Creio que sim. Cuidarei dela, e agradeço seus cuidados.- A mulher sorriu- Mas diga-me a senhora sabe onde minha irmã trabalha?

- Ela trabalhava com meu marido, mas o lugar fechou, mudou de dono. Pelo que ele me disse ela ia tentar receber o pagamento. E uma nova vaga, acreditamos que ela esteja trabalhando.

- Ela está a dias desaparecida. Que tipo de trabalho seria este?

- A explicação foi vaga, mas ao que parece o dono exige que os funcionários residam no local. Ela veio em uma noite apanhou sua coisas e partiu. Desde então não a vemos.

- Estranho, a senhora acaso sabes onde se localiza tal taverna?

- Meu marido trabalhou lá por anos, mas não sei onde é, nunca fui até lá. Ele não queria-me por perto, principalmente pelas crianças, é um trabalho noturno, perigoso.

Annastácia sentiu pena da pobre mulher, na certa o marido teria lá seus motivos para não querê-la por perto, motivos que usassem saias.

- Bom, obrigada novamente.

- Foi um prazer ajuda-las, espero que Leigh retorne em breve e desejo melhoras a sua avó.

- Contamos com isso, obrigada e até logo.

- Até logo, com licença.

A conversa breve só a deixara ainda mais confusa, sua irmã estaria fazendo algo imoral, que fugisse as regras? Sorriu com a possibilidade, era impossível. Leigh-Anne sempre fora correta demais para fazer qualquer baixaria, as vezes parecia até que ela deveria estar no convento em vez da irmã. Annastácia nunca fora de seguir os costumes religiosos, achava tudo muito tedioso e excessivamente pudico.

Desde que entrara para o convento toda a sua vida era controlada, do momento em que seus pés tocavam o chão até a hora em que recolhiam-se a cama novamente, o que e o quanto comia e bebia, que roupas usar, o que falar e até mesmo o que lhe cabia estudar, até os dez anos. Quando começou a escapulir de noite para a biblioteca, devorando os acervos "proibidos", com filosofias e teorias avançadas, radicais e questionadoras. Enquanto por fora fingia-se freira dócil e alienada, por dentro era mulher perspicaz e desafiadora.

E orgulhava-se disso. Seu objetivo de vida era passar para as crianças todo o conhecimento negado, para isso no entanto, teria que enfrentar os fantasmas da pobreza e preconceito. Mesmo tendo a pele de um tom um pouco mais claro, lhe era visível a diferença com que era tratada, perante as outra alunas.

A ela tudo que era dado provinha de uma baixa qualidade, sentava-se no fundo por ordem das professoras, usava uniformes de outras meninas, quando estes não lhe serviam mais, até os livros eram os mais danificados. Tudo era esquecido, quando tinha em mãos o conhecimento real e empoderador dos livros, era como deleitar-se com um conhecimento fora dos padrões.

E esta era a sensação que proporcionaria a outras crianças, em um futuro próximo. Sobre um dos armários notou um pequeno ramo de lírios secos, soube que era de Leigh. Sua irmã amava aquelas flores desde criança e a avó, os cultivava no quintal só para vê-la regá-los no fim da tarde, sempre esperando que crescessem, pelo menos um tanto mais que ela. Nunca aconteceu.

Parando para refletir, Anna percebeu que pela primeira vez, lembrou-se novamente da irmã com carinho. Quando foi internada no convento ainda pequena pela mesma, a odiou, mas agora entendia que foi a melhor coisa que Leigh-Anne poderia ter feito, graças a ela, Anna podia sonhar não somente com um mundo livre, mas também com um mundo feliz.

Estou de volta, finalmente com o capítulo prometido, perdão novamente pela demora em postar. Personagem nova na área 👀

Uma Dama Para Lady EdwardsOnde histórias criam vida. Descubra agora