Bárbara Segunda, 30 de Janeiro, 11:52

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- Eu fiquei muito "P" da vida né Marina? Pô fala sério, ele ficou no meu pé meses a fio pra eu passar naquela bendita prova, eu passo e, ao invés de ele me dar uma folga, não, ele me manda ficar de babá do Marcelinho

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- Eu fiquei muito "P" da vida né Marina? Pô fala sério, ele ficou no meu pé meses a fio pra eu passar naquela bendita prova, eu passo e, ao invés de ele me dar uma folga, não, ele me manda ficar de babá do Marcelinho. A Natasha do primeiro andar foi reprovada, vocês estão sabendo né? O pai dela ficou furioso, tirou ela da aula de violão e tudo como punição. Meu pai deveria me dar mais crédito! Ah tenha santa paciência, essa é minha última semana de férias, na próxima vai começar a cobrança por notas, etc. Eu deveria estar aí na praia com vocês e não buscando meu irmão na escola. Meu pai não se toca. – esbravejo ao meu celular.

- Você não perdeu nada de especial Babi, além do mais, nós já saímos da praia faz tempo. Não tem mais como ficar o dia inteiro lá com a camada de ozônio esburacada do jeito que está, né? – Marina tenta me consolar - Nós viemos para o shopping para almoçar e pegar um cineminha. Se você correr consegue vir nos encontrar para a próxima sessão.

- Com certeza, só vou esperá-lo sair, deixá-lo em casa e pego um táxi pra encontrar vocês aí. – digo enquanto vou até a barraquinha do sorveteiro estacionada no portão de entrada da escola de Marcelo – Me esperem tá? Moço, me vê um de limão por favor? Já estou chegando Marina. Beijo.

- O de limão acabou moça. – o vendedor me diz – Tem de abacaxi, goiaba e cupuaçu.

- Ah, meu favorito é limão. Não vou querer nenhum então moço. Obrigada. – digo num muxoxo e me viro para guardar minha carteira de volta na bolsa – Hoje não é mesmo meu dia.

- Com licença.

Sinto uma mão no meu braço e por um instante acho que estou sendo assaltada. Me viro lentamente me preparando para a truculência dos marginais, mas para minha surpresa me deparo com os olhos mais azuis que já vi na vida, mais azuis até que os meus. Eles pertencem à um rapaz lindo, alto, loirinho que me estende um picolé de limão e sorri.

- Eu comprei o último que aquele senhor tinha para vender e nem abri ainda, fique a vontade.

- Imagina. – digo completamente sem graça – Não posso aceitar.

- Eu não posso permitir que você tenha mais um desgosto no seu dia. Desculpe não pude deixar de ouvir parte da sua conversa ao celular – agora ele é quem fica sem graça - Por favor aceite.

Fico desconcertada diante de tamanho cavalheirismo. Caramba eu achei que isto estava até fora de moda de tão raro que é encontrar um carinha assim hoje em dia. Sorrio de volta e pego o picolé. Remexo na minha bolsa e pego a carteira mais uma vez.

- Não, não por favor. – ele protesta quando percebe que estou pegando dinheiro para pagá-lo – É presente meu.

- Obrigada. – digo mais uma vez encantada e sorrio feito uma boba enquanto abro a embalagem do sorvete. – Quer um pedaço?

- Não obrigada. – ele diz e distraída dou uma mordida maior do que planejava e fico com a boca e o cérebro congelados. Tento disfarçar minha careta de dor, mas acho que não dá certo. Ele franze a sobrancelha e sorri piedoso - Tá tudo bem?

Tento engolir o enorme pedaço gelado para respondê-lo, mas não consigo. O garoto fica me olhando, esperando minha resposta e eu fico totalmente envergonhada. Para meu alívio, Marcelinho desce correndo a rampa da escola, atravessa o portão, agarra meu braço e me dá um puxão em direção à calçada.

- Vambora que eu estou apertadasso para ir no banheiro, mana. – Marcelinho cochicha enquanto corre ainda me puxando pelo braço.

Finalmente engulo o picolé, olho pra trás e só tenho tempo de acenar para o garoto gentil antes de dobrarmos a esquina.

- Marcelo, se está tão apertado porque não foi no banheiro da escola? – digo esbaforida tentando acompanhar meu irmão que corre disparado no meio da rua.

- O que eu preciso fazer, só consigo fazer em casa. – ele responde gargalhando.

- Não acredito, moleque! Você não existe. – digo com raiva dando mais uma mordida no meu picolé.

Corremos por mais dois quarteirões e chegamos ao nosso prédio. Marcelinho dispara para pegar o elevador e eu fico na portaria.

- Avise pro papai e pra mamãe que eu fui pro shopping encontrar a Marina e a Pérola. – consigo avisá-lo antes que a porta batesse.

Caminho até o final da rua onde tem um ponto de táxi e entro no primeiro carro disponível.

- Boa tarde senhorita, para onde vamos? – pergunta o motorista com sotaque português.

- Boa tarde, para o shopping, por favor. – me acomodo no banco de trás, pego meu celular na bolsa e ligo para Pérola.

- Fala Babi, já está chegando? Já compramos seu ingresso.

- Quase Pérola, eu estou no táxi, mas escuta isso, acabei de conhecer um príncipe encantado. Você não tem no-ção de como ele é cavalheiro! Além de lindo, claro!

- Jura? Conta mais, qual é o nome desse príncipe?

- Não faço a menor ideia.

- Como assim?

- Foi tudo tão rápido. Eu fui comprar um picolé de limão na porta do colégio do Marcelinho e aí o vendedor disse que tinha acabado. Eu fiquei na bad porque meu dia até ali estava sendo horrível e não ia ter nem um mísero picolé de limão para me consolar. Do nada eu sinto uma mão no meu braço e, quando me viro, vejo um garoto lindo me estendendo um picolé de limão. Pronto, meu dia ficou azul. Azul como os lindos olhos dele. Ele foi tão cavalheiro Pérola, você tinha que ver, desistiu do próprio doce e nem sequer aceitou que eu pagasse por ele.

- Sério? Que romântico! Mas você não perguntou o nome dele?

- Não deu tempo, eu tinha dado uma mordida gigante no picolé e fiquei com a boca cheia e congelada, não consegui falar mais nada. Foi aí que o Marcelinho apareceu correndo feito doido e saiu me arrastando pelo braço até em casa porque estava apertado para ir ao banheiro. Eu não consegui nem me despedir. Ele deve ter me achado uma grossa, mal educada.

- Não estou acreditando Babi, só com você acontecem essas coisas.

- E agora? Como vou fazer para encontrar esse gatinho novamente?

- O jeito é você ir pra porta do colégio do Marcelinho de novo amanhã.

- Poxa, mas aí eu ia ter que perder a praiana de novo.

- Bom, aí é com você, saber se vale a pena ou não o sacrifício.

- Por esse príncipe? Vale! – respondo sorrindo.

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