Acerto um Uppercut no Rafa que está completamente distraído. Ele olha pra mim meio abobalhado pelo golpe.
- Foco brother! Olho no adversário, não na plateia. – inclino minha cabeça em direção às alunas grudadas na grade do octógono que são altas demais para que elas possam se debruçar - Desse jeito você não passa nem na primeira fase de seleção do Fight Back Brasil.
- Eu tô focado cara. Eu tô focadasso! – Rafa tenta me golpear com um Round Kick, mas eu o bloqueio rapidamente, enquanto uma das meninas solta um gritinho de incentivo, distraindo Rafa mais uma vez, permitindo que meu Cruzado entre certinho e o derrube.
Rafa se recupera do golpe, olha para as meninas, me lança um olhar ameaçador, se levanta com um kick up e parte pra cima de mim com sangue nos olhos em uma série de Jabs, Diretos e Hooks.
Declaro empate. Fim da luta.
Tiramos nossas luvas e vamos em direção ao vestiário masculino enquanto desenrolamos nossas bandagens. Nossa torcida feminina vem atrás. Eu sou mais rápido e consigo me desvencilhar de uma selfie e corro pro chuveiro, mas Rafa fica pra trás. Acho que era isso mesmo que ele queria. Figura esse cara.
Já estou trocando de roupa quando ele entra no vestiário mexendo no celular com um sorrisinho besta na cara.
- Consegui o número de três meninas. Quinta, sexta e sábado já estão garantidos, moleque!
- Caraca brother, que maçante! Essas minas são muito sem noção!
- Ah não faz tipo não Gustavo que eu sei que você está se amarrando nessa tietagem toda. Pô, qual é o cara que não se amarra em ter um bando de gatinhas no seu pé?
- Mas tudo tem limite né Rafael? Meu irmão, tu acredita que até aqui no vestiário essas minas as vezes me seguem? Ontem tinha uma maluca malocada no banco de trás do meu carro. Tomei um susto cara, achei que fosse assalto.
- Há há há! Sempre teve mulher no teu pé aqui na academia Gustavo.
- No seu também Rafael, mas não nesse nível né? Ganhe uma luta pra ver o que vai acontecer contigo. Não há dias da semana suficientes para sair com tanta mulher. Tô ficando de saco cheio já.
- Qual é meu irmão, tô te estranhando. Tu enjoou de mulher? – Rafa diz com ironia enquanto abre o chuveiro.
- Deste tipo acho que sim. – respondo guardando minha caneleira na mochila. Quando encaro Rafael ele está segurando o shampoo no ar, atônito. – Esse tipo, marombeira, meio fútil. – acrescento rapidamente - Pô eu tô cansado desses casinhos descartáveis. Essas meninas não tem papo, a conversa é rasa. Elas só se aprofundam quando o assunto é nutrição pré e pós treino. Eu quero mais, Rafa, acho que estou querendo uma mina pra me amarrar sabe?
- Se amarrar tipo como? Casar? – Rafa me encara com os olhos arregalados.
- Não cara, claro que não, eu só tenho 18 anos, mas tipo, uma namorada, acho que seria bacana. Alguém que torcesse por mim nas lutas, mas também estivesse lá nas derrotas, saca? Alguém que tenha um bom papo e esteja interessada em algo além de esculpir o corpo em uma cadeira abdutora. – Termino de amarrar os cadarços do tênis e me viro para encarar Rafael que, para minha surpresa, continua com o shampoo no ar sem se mexer, me olhando como se eu estivesse precisando de uma camisa de força. Desconverso - Termine logo esse banho que você está desperdiçando água. Não tá sabendo que a água do planeta está acabando não, ô mané?
Saio do vestiário meio puto e meio sem graça de ter dito aquelas coisas para o Rafael. Consigo sair da academia sem ser abordado por nenhuma garota pra me pedir carona e entro na cafeteria no final da rua. Peço um sanduba natural e um açaí para a atendente e, mesmo o lugar estando sem cliente algum no momento, sento na mesa mais afastada, perto dos banheiros, meio escondida, longe do varandão, para evitar que alguma menina da academia me veja e ache que pode se sentar comigo para um papo com a profundidade de uma poça de chuva.
Continuo me sentindo mal por ter dito aquelas coisas para o Rafa. Pô, o cara é meu brother há muito tempo, mas não sei se é porque ele está cheio de problemas em casa, passando por uma barra pesada e está querendo compensar curtindo o máximo que a juventude pode lhe proporcionar, mas acho que estamos vendo o mundo de maneira um pouco diferente agora. Meu foco está em fazer minha faculdade, construir uma carreira. Crescer mesmo. O Rafa ainda está querendo tirar onda, curtir a vida sem compromisso.
A atendente sai de trás do balcão e vem na minha direção trazendo meu pedido. Ela me dá um sorriso bem largo e noto que com meu troco tem um pedaço de papel. É a nota fiscal e nela tem um número anotado à caneta.
- É meu telefone – a atendente me diz um tanto envergonhada – meu nome é Lúcia. O seu é Gustavo né? Eu te reconheci da luta da semana passada.
- Ahã - digo sem paciência, com a cara amarrada, e me arrependo no mesmo instante vendo a expressão de mágoa no rosto dela. – Eu vou anotar seu número no meu celular. – digo com um sorriso amarelo tentando concertar meus modos. Ela não tem culpa por eu estar mal humorado.
Ela parece satisfeita com meu comentário e volta para o balcão para atender uma cliente que chegou, uma loirinha de olhos verdes. Ela é tão educada com a Lúcia que mais uma vez me sinto culpado pelo tratamento que dispensei à funcionária. Fico observando a loirinha meiga do outro lado da lanchonete enquanto como. Ela pede um suco de framboesa e um cookie de chocolate. Com certeza não é obcecada pela forma do seu corpo, se não, jamais comeria um doce em plena quinta feira à tarde. É uma menina assim que quero pra mim. Educada, sorriso doce, desencanada com a aparência. Suas roupas não forçam a exibição de seu corpo. Na verdade, ela parece nem se dar conta de sua beleza.
Distraído pela menina, mal notei o sujeito estranho que chegou e ficou atrás dela na fila do caixa.
- O que deseja senhor? – Lúcia o atende.
- O dinheiro do caixa. – o homem diz enquanto saca um 38 e aponta com uma das mãos para a cabeça da loirinha e enforca seu pescoço com o outro braço.
Meu sangue ferve na hora.
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O DELÍRIO DA NOVIDADE
Teen FictionA série Delírio é uma leitura cativante que retrata com bom humor e leveza essa fase tão gostosa e cheia de emoções entre a adolescência e o início da vida adulta. O primeiro livro da serie, O Delírio da Novidade, mostra as melhores amigas Pérola, M...