Marina Sábado, 24 de Junho, 21:35

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- Eu já te disse, eles não acharam estranho seu desaparecimento da barraca

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- Eu já te disse, eles não acharam estranho seu desaparecimento da barraca. – tento acalmar Babi que não para de criar teorias conspiratórias de tanto medo que está sentindo – Eu tentei te avisar antes que você saísse correndo de lá. Eles não estavam vindo na nossa direção, eles passaram reto e foram direto pra perto do palco.

- Mas o Samuca sabia que eu estava responsável pela barraca da lata junto com vocês, sabia onde me procurar. Isso só pode significar uma coisa, que ele não quer me apresentar para os pais afinal de contas.

- Ah não pira Babi! – já estou perdendo minha paciência – Qual então seria o motivo de eles estarem todos reunidos aqui?

Finalmente avistamos Samuel, que parece estar bastante tenso ao lado de seu pai, sua mãe e sua irmãzinha, próximos a entrada da coxia do palco. Começo a compreender o motivo do nervosismo de Bárbara observando-os ao vivo. O pai de Samuel parece ter dois metros de altura e a mãe dele parece ter saído direto das colunas sociais. Eles destoam completamente do resto do público da festa.

Eles formam um semicírculo e estão conversando com o tio Zé.

- Olha lá sua ansiosa. – Pérola a provoca – O cavaleiro do Samuel só quis apresentá-los ao seu pai primeiro. Viu? Nenhum motivo para se preocupar.

Babi dá um longo suspiro e sorri, mas antes que possamos nos aproximar o suficiente para cumprimentá-los, Rico chega primeiro e, com sua educação e falta de noção peculiares, interrompe sem a menor cerimônia a conversa, quase furando o olho da mulher com as pontas rebeldes de seu chapéu de palha.

- Pai, o pessoal do terceiro ano está querendo saber se podemos trocar o estilo musical e abrirmos uma pista de dança aqui na quadra.

- Ô meu filho, depois falamos sobre isso, deixa eu te apresentar aqui. Dr. Osvaldo, Dona Marieta, esse aqui é meu filho mais velho Henrique.

- Filho? Er, muito prazer. – A cara de desapontamento e a troca de olhares entre os pais de Samuel diante da figura caipira de Rico, me fazem agradecer imediatamente aos céus por Bárbara ser tão exagerada e ter tirado sua fantasia e maquiagem de caipira.

- Sim, ainda tem o Marcelo, meu caçula, e a irmã gêmea do Henrique, a Bárbara. Ah, olhem ela ali. Minha princesinha.

Tio Zé nos avista e aponta Bárbara aos pais de Samuel. Ela sorri tímida e dá um selinho discreto no namorado. Prendo a respiração aguardando a reação dos seus sogros e solto o ar com força diante do alivio ao constatar um sorriso gigantesco se formando no rosto dos dois.

- Mas você é que é a namora do Samuel? – Dona Marieta parece encantada dando dois beijinhos em Bárbara – Mas você é uma princesinha. Que menina mais linda, não é Osvaldo?

- Uma boneca! – ele concorda – Faço muito gosto deste namoro.

A cor normal de Samuel parece voltar ao rosto, substituindo o tom verde de nervoso. Ele abre seu famoso sorriso que chega até os olhos. Bárbara parece estar nas nuvens e se aninha nos braços do namorado, toda dengosa enquanto é elogiada e tem sua primeira conversa com seus sogros.

- E aí pai? Sobre a baladinha? Qual vai ser? – Rico corta o clima de confraternização.

- Ah sim meu filho, tudo bem, vocês podem fazer uma pista de dança sim. Não, espere. Tenho uma ideia muito melhor! – tio Zé, animado como sempre, estala os dedos e aponta pra mim – Marininha, porque a Memphis 191 não encerra essa festa tão bonita hein? Porque vocês não botam esse pessoal pra requebrar?

- Isso pai, mandou bem! – Rico comemora dando tapinhas nas costas do pai – Eu ajudo a trazer e montar a bateria que tem na sala da aula de música.

- Sério tio? Poxa, não preparamos nada pra tocar. Vou ter que falar com os caras. – consigo ignorar o vocabulário do século passado dele e não rir, porque um frio na barriga me lembra que essa será minha estreia oficial na banda.

- Tenho certeza que vocês vão se sair bem. – ele incentiva, entusiasta dos alunos e fofo como sempre – Estou doido para te ver cantar Marininha. Ainda não tive a oportunidade de te ouvir.

- Então eu vou lá falar com eles. – sorrio sem graça e dou meia volta mergulhando no mar de pessoas vestidas a caráter para procurar pelos meus amigos.

Avisto Dread e Cavalera devorando umas espigas de milho, sentados nos degraus mais altos da arquibancada e subo correndo para falar com eles.

- Oi galera, o Roger e o Beto estão por aqui também?

- Fala versão caipira da Marina! – Cavalera faz graça.

- O Roger está se amassando com uma garota do terceiro ano por aí e o Beto, foi embora batendo o pé, todo nervosinho, xingando Deus e o mundo depois que viu a ex dele aos beijos com outro cara. - Dread diz, se referindo certamente à Patrícia e Rafael.

Sinto como se tivesse levado um tapa na cara. Atordoada, preciso até me sentar. O sorriso murcha em meu rosto, meu estômago embrulha e um pesar profundo toma conta de mim.

Saber pelos melhores amigos o quanto Patrícia mexe com ele é desolador. Não sei o que aconteceu comigo. Sei lá, talvez a convivência das últimas semanas tenha me feito esquecer de quem ele realmente gosta e até tenha me dado alguma esperança, tenha me iludido.

Patético, eu sei. Sei também que não tenho a menor chance. Ele me vê como um parça, como um dos caras da banda. Preciso me lembrar de não me permitir cair nessa novamente.

- O que é que tá pegando? – Cavalera nota minha expressão e acha que esse é o motivo por eu estar procurando por eles.

- O diretor pediu pra Memphis 191 tocar agora para a galera. Quer abrir uma pista de dança na quadra a pedido dos alunos.

- Que massa! Já estava louco para voltar a me apresentar ao vivo. É muito adrenalina, meu! – Dread comemora.

- Você está aperreada? Essa cara é porque está com medinho? Carece não, bichinha. Você é uma cantora arretada de boa e nós vamos esquentar esse forrobodó!

Mesmo triste não posso evitar de sorrir diante da manifestação de carinho e do sotaque nordestino delicioso do meu novo amigo.

- Não repare não Marina, ele está exagerando no sotaque assim porque vai passar as férias de julho com a família no Ceará e já está esquentando os motores, mas numa coisa ele está certo, vamos causar nesse rolê! – Dread reforça seu paulistês e sacode a cabeleira animado.

- Vamos ligar para o Beto voltar pra cá e trazer com ele nossos instrumentos. – Cavalera dá o troco puxando um dos dreads de seu cabelo.

- Sua batera vai ser impossível de trazer tão em cima da hora.

- O Rico estava sugerindo de usarmos a bateria da escola mesmo. Você acha que tem problema Cavalera? – pergunto ao nosso percursionista.

- Não é nem de longe a minha Pearl, mas vai ter que servir. – ele diz conformado.

- Ótimo, então só precisamos achar o Roger e ligar para o Beto. – só de dizer o nome dele já sinto novamente as famigeradas borboletas no estômago. Damn!

O DELÍRIO DA NOVIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora