Marina Sexta, 12 de Maio, 18:14

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- Vamos Marina, já está tudo arrumado lá em baixo

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- Vamos Marina, já está tudo arrumado lá em baixo. Ficou uma gracinha. – Pérola, vestida para a festinha, de pé em frente à minha cama, tenta me convencer a descer até o salão de festas do prédio – A tia Flora estranhou você não ter participado da arrumação como faz todos os anos. Eu disse pra ela que você estava com cólica.

- A Bárbara não contou pra mãe a sacanagem que fez comigo? – cruzo os braços emburrada e amarro a cara.

- É, acho que não. Caramba, não me lembro de nenhuma de nós ter ficado tanto tempo assim sem nos falarmos. Não estou dizendo que você não tenha sua razão Marina, mas no final das contas, você acabou entrando pra banda e está curtindo que eu sei. – ela me olha ressabiada querendo que eu admita – Ah vai Marina, perdoe logo a Babi. Você sabe que o que ela fez foi sem pensar nas consequências, mas com boa intenção, mirando na sua felicidade. Pense bem, você está feliz na Memphis 191, o Beto agora sabe que você existe, diz que ama sua voz...

Não dou o braço a torcer e permaneço calada. Então ela usa artilharia pesada:

- Só se ligue em um detalhe, você brigou com a Babi, o irmãozinho dela não tem nada a ver com isso. Ele gosta tanto de você e só se faz onze anos uma vez na vida.

- Eu sei, eu adoro aquele moleque. Ele sempre foi tão bonzinho e carinhoso comigo na época que eu ajudava a Bárbara a cuidar dele, nas vezes em que a tia Flora e o tio Zé saíam para um date night – suspiro relembrando o passado remoto – Mesmo assim, não me sinto confortável em ir à festa dele com ela lá.

Pérola revira os olhos parecendo dar a causa como perdida e nesse momento a campainha toca. Corro para atender à porta e me surpreendo com a visita.

- Oi Marina! Não sei o que a pentelha da Babi fez contra você, mas se você não for à minha festa de aniversário eu vou ficar muito triste. Quem é que vai provar os brigadeiros e docinhos para saber se estão realmente bons? Você é a única chef que eu conheço. – Marcelinho faz charme parado na porta de casa, todo arrumadinho para sua festa.

Não consigo resistir a essa fofura, não importa que Bárbara diga que ele é um moleque insolente e bagunceiro, eu sempre vou vê-lo como o bebezuco que conheci quando nos mudamos para o prédio e que sempre me pedia para fazer brigadeiro de panela para comer assistindo à filmes de animação.

- Tá bom, você tem toda razão. Vou descer pra checar se esses brigadeiros estão realmente bons e podem receber o selo chef Marina de qualidade.

- Obrigado Marina! – ele me dá um abraço de urso e então entramos os três no elevador. Na altura do terceiro andar, já é possível começar a ouvir a música dançante vindo do salão de festas reverberando pelo vão do elevador – Ainda estão tocando música rápida, mas daqui a pouco vai começar a tocar as lentas pra os meninos tirarem as meninas para dançar.

Ele explica todo sério, com ar importante. O elevador chega ao térreo e ele dispara pra dentro do salão depois de me lançar um beijo no ar. Pérola e eu trocamos olhares babões observando ele interagindo com os amigos.

A decoração realmente ficou irada. É a primeira festa de Marcelinho que não tem como tema algum super-herói ou desenho animado.

- É, o tempo está passando depressa – Pérola diz pensativa – Ele já está dando festas com bailinhos, se interessando pelas meninas, ao invés de implicando com elas.

- Ele está apaixonadinho por uma menina da sala dele. – Bárbara nos surpreende por trás, trazendo um copo de suco de abacaxi com hortelã para cada uma – É aquela moreninha lindinha ali, a de calça laranja que está dançando perto da mesa de doces.

Olhamos na direção indicada por ela e ficamos as três babando nosso menininho dançando com a namoradinha. Meu olhar cruza com o de Babi e a emoção do momento, a lembrança de tantas histórias que vivemos juntas, os perrengues e as coisas boas, parecem afrouxar o nó que venho sentindo em meu estômago desde o dia que discutimos feio.

- Marina, - Babi começa devagar, medindo o terreno – me desculpe pelas coisas cruéis que te disse naquele dia. Eu passei dos limites me metendo na sua relação com a Rosinha. Me arrependi no momento em que elas saíram da minha boca. Juro pra você que minhas intenções sempre foram as melhores. Eu fiquei nervosa porque você não estava enxergando o talento que tem, ou confiando no seu potencial, mas meti os pés pelas mãos como sempre. Eu só queria o seu bem, que você tivesse uma chance na banda e quem sabe até com o Beto.

- Eu sei Babi. – dou um sorriso desconcertado – Agora eu sei. Eu nunca vi isso que vocês vêm em mim, mas parece que os meninos da Memphis 191 também vêm, então talvez seja verdade. O que eu sei é que estou gostando muito de cantar, de ensaiar com eles. Então, no final, acho que tenho que te agradecer porque se não fosse esse seu empurrãzinho torto, tímida do jeito que eu sou, jamais estaria vivendo isso.

Nos abraçamos e, por cima de seu ombro, vejo Pérola enxugar uma lágrima disfarçadamente.

- Quer dizer que você está feliz na companhia dos meninos? Isso não teria nada a ver com um tal de Beto não, né? – Pérola provoca cortando o clima emotivo para conseguir para de chorar.

- Eles são muito gente fina, engraçados. Têm sido muito bacanas comigo. E quanto ao Beto? Ah! – dou um suspiro involuntário - Ele é ainda mais incrível quando se conhece pessoalmente.

- Own! Ela está ainda mais apaixonada. – elas me zombam.

- Você está gostando dos ensaios? – com doçura, Babi me pergunta.

- Estou sim. – não consigo deixar de abrir um sorriso enorme e me dou conta do quanto – Estou gostando muito! Realmente eu não fazia ideia do quão bem, cantar faz pra mim.

- Ficar pertinho do Beto também não deve te fazer mal algum – Pérola volta a me provocar.

- Apesar de ele não ter olhos pra mim, de somente me enxergar como uma pirralha e caloura na banda, não posso negar que tem sido muito bom conhecê-lo de verdade, conversar, trocar ideias. Sair da zona da paixão platônica e idealista para algo concreto, tangível.

- Tenho certeza que te conhecendo, ele também vai acabar se apaixonando – Pérola me bajula e eu dou uma cotovelada de brincadeira nela.

- Vai sonhando daí que eu sonho daqui, porque já dizia o poeta: 'sonhar não custa nada'. E eu, sonho até acordada – digo e nós três damos risada.

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